Cemitério dos Prazeres, quando a morte também é um monumento
A convite da Vanellus, empresa de passeios pedestres e observação de aves, o Publituris foi conhecer o Cemitério dos Prazeres, um dos maiores e o mais monumental cemitério da capital portuguesa.
Inês de Matos
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A convite da Vanellus, empresa de passeios pedestres e observação de aves, o Publituris foi conhecer o Cemitério dos Prazeres, um dos maiores e o mais monumental cemitério da capital portuguesa.
Vasco Santana, Cesário Verde e Mário Soares são figuras da história nacional que terão pouco em comum, com excepção de os seus restos mortais se encontrarem no Cemitério dos Prazeres, um dos maiores e mais monumentais cemitérios de Lisboa, que o Publituris foi visitar a convite da Vanellus, empresa animação turística que nasceu há menos de um ano e que tem vindo a promover visitas guiadas nos cemitérios da capital.
A ideia de levar os turistas a visitar estes locais, explicou Renato Neves, guia e sócio-gerente da Vanellus, nasceu com o objectivo de criar uma “oferta um bocadinho diferente daquela que já existia e que permita fugir das zonas mais massificadas e com mais confusão” da cidade e, até agora, tem recebido “um bom feedback”. E o motivo é simples: o Cemitério dos Prazeres é muito mais do que apenas um cemitério, sendo antes um testemunho de como se organizava a sociedade portuguesa no século XIX, bem como das crenças e convicções da época, que se reflectem na diversa simbologia que se encontra em todo o espaço.
Mas, acima de tudo, o Cemitério dos Prazeres é um espaço monumental, essencialmente composto por jazigos particulares, muitos projectados pelos mais afamados arquitectos do século XIX, que convivem com esculturas diversas e com a maior colecção de ciprestes da Península Ibérica, entre outras espécies raras de flora, que dão corpo a um belo jardim, onde impera a calma e a tranquilidade, no qual repousam muitos heróis nacionais, artistas, escritores e aristocratas, cujos jazigos são autênticas obras de arte. Venha com o Publituris descobrir os motivos de interesse do segundo maior cemitério de Lisboa.
História e personalidades
Cheguei ao Cemitério dos Prazeres sem grande expectativa. Sabia que ali se encontram os restos mortais de muitas personalidades que marcaram a história nacional e pouco mais, mas não demorei muito a perceber que a manhã seria bem passada.
Logo à entrada, Renato Neves fez-nos um resumo da história do cemitério, que começou a ser utilizado em 1833. Até início do século XIX, os mortos eram enterrados em igrejas e conventos, mas devido a um surto de cólera ‘morbus’, os enterros em locais que não se destinassem apenas a esse fim foram proibidos. Nascia assim o Cemitério dos Prazeres, na parte ocidental da capital, bem como o Cemitério do Alto de São João, na zona oriental.
Localizado às portas de Campo de Ourique, Estrela, o Cemitério dos Prazeres ocupa 12 hectares e os motivos de interesse começam logo à entrada. O enorme portão de ferro, que “separa a cidade dos vivos da cidade dos mortos”, como diz Renato Neves, é da autoria do arquitecto Domingos Parente da Silva e inclui simbologia representativa da morte. Uma vez transposto o portão, deparamo-nos com uma alameda central, com uma capela no centro, que era a antiga sala de autópsias e que, desde 2001, alberga um núcleo museológico, com peças de jazigos abandonados, aqueles que estão marcados com um ‘C’, o que, explicou Renato Neves, significa que “estão caducos”.
Os nomes conhecidos começam logo na alameda central, onde está o jazigo de Mário de Cesariny, em estilo moderno, e sucedem-se a cada rua, desde os escritores portugueses – divididos em dois jazigos e que reúnem nomes como Aquilino Ribeiro ou Fernando Namora -, ao compositor e autor do hino nacional Alfredo Keil, ao músico Carlos Paredes ou ao fadista Alfredo Marceneiro. Actualmente, já não se realizam ali enterros, apenas nos talhões reservados aos artistas, bombeiros ou PSP, mas os nomes conhecidos são tantos e abrangem tantas áreas que, como diz Renato Neves, é possível realizar tantas visitas temáticas como os dias da semana.
Arquitectura
A arquitectura é outro dos motivos que justificam uma visita, já que é possível encontrar construções de vários estilos, da arte nova ao modernismo, à arquitectura típica portuguesa e ao naturalismo, a exemplo dos túmulos em forma de árvore ou rocha.
Por ser o cemitério que servia a zona mais rica da cidade, o Cemitério dos Prazeres cedo se transformou num local monumental, reflexo da exuberância da elite. É por isso que muitos jazigos se encontram ricamente ornamentados e alguns foram projectados pelos maiores arquitectos do século XIX, a exemplo do mausoléu de António Augusto Carvalho Monteiro, também conhecido como ‘Monteiro dos Milhões’ e que era proprietário da Quinta da Regaleira, cujo jazigo terá sido igualmente desenhado por Luigi Manini.
Imponente é também o túmulo do marquês de Valle Flôr, antigo proprietário do palácio onde, hoje, funciona o Hotel Pestana Palace, ainda que nada bata o jazigo do duque de Palmela, o maior mausoléu privado da Europa, ladeado por 12 ciprestes, sob os quais repousam os criados mais fiéis do duque, homens do lado direito e mulheres do lado esquerdo.
A maior parte dos túmulos está recuperada e bem conservada, já que antes da morte, os proprietários doaram a fortuna à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que ficou encarregue de manter as construções. Estes jazigos são de fácil identificação, já que estão assinalados com uma placa com as iniciais SCML.
Simbologia
A simbologia, presente em todo o espaço e que decora muitos jazigos, é outro motivo de interesse. Há diversa e para todos os gostos. As ampulhetas, símbolo da passagem do tempo e da finitude da vida, estão presentes no portão de entrada e são recorrentes, assim como as mãos, que representam “a mão de Deus”, ou a tesoura, que “corta o fio da vida”, como explicou Renato Neves. A romã, enquanto símbolo de fertilidade, ou o cão, que depois da morte se mantém fiel ao dono, são também representações que se repetem, tal como as caveiras, morcegos e outros elementos associados à morte.
Muitos dos mausoléus remetem também para as profissões dos proprietários, como o músico que mandou ‘imprimir’ uma pauta na parede lateral do seu jazigo, ou o carpinteiro que recriou, esculpida na pedra, a sua bancada de trabalho. Depois, há também referências a hobbies e crenças, como as borboletas-caveira no jazigo do ‘Monteiro dos Milhões’, que lembram os interesses entomológicos do proprietário. Impossível é não reparar também na simbologia maçónica, como o olho, o triângulo ou o compasso, que estão presentes em todo o espaço, com especial predominância no jazigo do duque de Palmela, que apresenta, todo ele, a forma de um templo maçon.
Seja qual for o motivo da visita, o Cemitério dos Prazeres promete não desiludir, ainda para mais porque poucos cemitérios no mundo terão a vista deslumbrante que este oferece e que se estende por todo o vale de Alcântara, culminando na perfeição a visita.
Passeios pedestres e observação de aves
No que diz respeito aos cemitérios, há visitas guiadas de segunda a sexta-feira, sendo também possível juntar visitas aos cemitérios Inglês e Alemão, ambos na Estrela. Os passeios estão disponíveis em português e inglês.
Já os passeios pedestres sobre azulejos decorrem em Campo de Ourique, com o tema “Entre a tradição e a modernidade”, na Estrela, Lapa e Madragoa, sob a temática “Entre a marinhagem e a fidalguia”, e ainda em Alcântara, Ajuda e Belém para descobrir a “Lisboa dos Descobrimentos, do Império e do Ultramar” e a “Lisboa Operária”. Têm a duração de meio-dia ou dia completo, neste caso com almoço e visita a uma fábrica de azulejos.
A Vanellus disponibiliza ainda programas de observação de aves nas proximidades de Lisboa, com a duração e meio dia ou dia completo.