Mesquita Nunes defende que Turismo em Portugal “não está em fim de ciclo”
Presente no 44º Congresso Nacional da APAVT 2018, o vice-presidente do CDS e ex-secretário de Estado do Turismo alerta para a politização do Turismo e as suas consequências.
Raquel Relvas Neto
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“Tenho dúvidas que estejamos em fim de ciclo”. Foi com esta citação que Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS e ex-secretário de Estado do Turismo, se dirigiu à plateia do 44º Congresso Nacional da APAVT, contrariando assim as vozes mais pessimistas que consideram que o país já está a entrar no final do ciclo de crescimento que até então o Turismo tem vivido em Portugal.
Para o responsável, para afirmar que o Turismo português está a entrar no final do ciclo de crescimento há que “conhecer muito mais a nossa realidade para poder fazer avaliações dessas” e o conhecimento é exactamente um dos desafios que o vice-presidente do CDS aponta ao sector. “Julgo que estamos a precisar de definir uma métrica mais consensual de avaliação dos nossos resultados e a métrica que para mim é a mais relevante, dentro das limitações que temos, é a das receitas e essas continuam a trazer-nos muito bons resultados”. E assinala: “O sector ainda não consensualizou qual o critério pelo qual avalia. Andamos constantemente a mudar de indicador”.
Politização
O ex-secretário de Estado do Turismo aproveitou a ocasião para trazer ao debate a questão da politização do Turismo, um dos desafios que considera mais preocupantes. Mesquita Nunes aludiu ao facto do Turismo ser encarado por alguns quadrantes políticos na Europa como “a encarnação da temática do capitalismo selvagem”. Apesar de em Portugal, seja com um governo de direita ou de esquerda, as políticas para o turismo serem constantes e consensuais, o político acredita que o mesmo não acontecerá por muito mais tempo. “Em Espanha, França, os sectores anti-capitalistas, alguns deles em governos, olham para o Turismo como o simbolo da globalização do capitalismo, do capitalismo, o sinónimo da gentrificação, do emprego de baixas qualificações.” Esta é uma situação que veio para ficar, diz o responsável, porque “a consolidação do Turismo trouxe a consolidação das suas externalidades negativas, porque elas existem”. O que tem uma consequência: “o Turismo passou a estar politizado nas suas questões. As decisões deixaram de ser técnicas e empresariais e vão passar a ser e estar na mão de equilíbrios políticos onde está gente anti-turismo”. Mesquita Nunes deu como exemplo a aprovação da lei do Alojamento Local em Portugal, que “nem foi responsabilidade do Governo”, mas sim da Assembleia da República que fê-lo “com um emaranhado de notas contraditórias entre si que não obedeceu a nenhum critério técnico e sim apenas a pessoas que tinham de salvar a face perante as afirmações que tinham feito”.
Até mesmo as questões da transformação digital, outro dos desafios apontados, Mesquita Nunes alertou para a hiperregulamentação, exemplificando: “O Japão já tem táxis sem condutor, Portugal só este ano conseguiu aprovar a legislação sobre a Uber. Somos o país do Web Summit. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa abriu o Web Summit e na mesma semana vetou a lei do parlamento que tinha aprovado para regular o Uber. Isto é esquizofrênico. É sinal que não sabemos o que queremos, como nos queremos posicionar. Queremos todos a inovação, mas quando chega a hora do concreto, é regular e taxar”.
Questões como o novo aeroporto ou atribuição de vistos, entre outras, vão ser discutidas à luz desta politização. “Tudo no Turismo vai estar sujeito à politização, não vão ser critérios técnicos, vão ser critérios políticos que vão decidir estas matérias e vai-se perder a estabilidade e a previsibilidade e o consenso”, alerta. Mesquita Nunes frisa que é cada vez mais importante que o sector esteja “preparado para isso, do ponto de vista político, de influência, do ponto de vista de lobbying”, não basta relembrar a contribuição para as receitas da economia ou o número de empregos que o sector cria.
Relembrando os tempos em que era secretário de Estado do Turismo, quando defendia que o Estado devia limitar a sua intervenção no sector, Adolfo Mesquita Nunes voltou a sublinhar que o que os empresários do sector precisam “é que os políticos não vos dificultem a vida, que vos desamparem a loja que não é coisa pouca, porque a tentação de colocar política no sector é grande”.
O ex-SET terminou sublinhando: “Não acho possível que um sector que demorou tanto tempo a reconhecer que estava a viver os melhores anos de sempre, tenha demorado tão pouco tempo a diagnosticar o fim de ciclo. Acho que deviam pensar um bocado mais na vossa auto-estima”.
*Em Ponta Delgada, a convite da APAVT