Reportagem| África do Sul: De Joanesburgo à Savana
A companhia aérea TAAG e a central de reservas hoteleiras Teldar Travel organizaram uma fam trip para um grupo de agentes de viagens ao continente africano. Neste artigo contamos-lhe a primeira parte da viagem.
Carina Monteiro
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A companhia aérea TAAG e a central de reservas hoteleiras Teldar Travel organizaram uma fam trip para um grupo de agentes de viagens ao continente africano. Neste artigo contamos-lhe a primeira parte da viagem, que incluiu a visita a Joanesburgo e um safari no Kruger Park, na África do Sul.
Joanesburgo é uma cidade de contrastes, como a maioria das metrópoles. Mas, aqui, os contrastes afloram-se por causa da história. Jozi ou Joburg, como os sul-africanos chamam Joanesburgo, não tem a beleza da Cidade do Cabo, mas não é isso que esperamos dela. O interesse está em conhecer um dos centros económicos de África e o período da história que marcou a nação: o apartheid. Fundada há 132 anos, a sua história está ligada fundamentalmente a dois acontecimentos: à extracção do ouro, no final do século XIX, e ao apartheid, período em que os negros sul-africanos estavam segregados e impossibilitados de aceder aos mesmos direitos dos brancos. As feridas do apartheid estão longe de estarem saradas. Quase três décadas depois, os sul-africanos ainda procuram elos de ligação e oportunidades para todos. Culturalmente, os sul-africanos têm diversas origens e onze idiomas, algo que tem tanto de interessante, como de desafiante por entender.
São necessários pelo menos dois dias para conhecer as principais atracções de Joanesburgo. Primeiro, é preciso escolher o sítio onde ficar alojado. A maioria de nós tem poucas referências sobre os locais onde ficar hospedado. Sandton ou Rosebank, bairros situados no norte da cidade, são as opções mais indicadas. São quarteirões financeiros e empresariais que, além de concentrarem uma grande oferta de hotéis, têm bastante comércio e restaurantes, tornando-se ‘friendly’ para o turista. A principal atracção de Sandton é a Praça Nelson Mandela, rodeada por centros comerciais, restaurantes e hotéis. A estátua de Madiba, o símbolo máximo da história contemporânea de África do Sul, é o ex-ilibris. Além da estátua, a praça exibe imagens e citações célebres do líder político. Os tours city sightseeing são uma forma cómoda, segura e eficiente de conhecer a cidade.
O ponto de partida recomendado é Rosebank, dali pode-se iniciar o ‘green tour’ com passagem pelo Zoo Lake, o Zoo de Joanesburgo ou o museu militar que exibe aviões da primeira e segunda guerra mundial. O Zoo Lake é um grande espaço verde, onde se podem fazer essencialmente duas actividades: ginásio ao ar-livre e passeios de barco. No Zoo de Jozi estão os ‘big five’, as cinco espécies que podem ser avistadas num safari. Esta zona norte da cidade exibe bairros nobres, avenidas largas e escolas. Na altura do apartheid os negros não estavam autorizados a frequentar esta zona, somente em ocasiões especiais. Nos tours por Joanesburgo vão haver, inevitavelmente e quase sempre, referências ao apartheid e à sua figura cimeira, Mandela. Já na baixa da cidade, os quarteirões são estreitos porque no século XIX, quando a cidade foi fundada, acreditava-se que a corrida ao ouro não ia durar. Mas durou, e a verdade é que Joanesburgo deve à sua expansão à extracção deste minério. Actualmente, nota-se um certo declínio do centro da cidade, se comparado com o Norte. Muito embora se diga que as empresas estão a voltar para a zona da baixa. É aqui que se encontra o Carlton Centre, um edifício de 50 andares, onde se pode ter uma vista panorâmica sobre a cidade. A subida tem o valor de 30R (1,80€) e a entrada faz-se pelo centro comercial. Seguindo para o Gold Reed City, um parque temático dedicado a história da extracção do ouro em Joanesburgo, tem um casino e vários restaurantes. Neste ponto, trocamos de tour para a visita ao Soweto. O Soweto é uma extensão de território às portas de Joanesburgo. Este subúrbio começou por ser o local onde viviam os negros que trabalhavam nas minas de ouro em Jozi, não autorizados a viver na cidade. No período do apartheid foi o símbolo da segregação. Nelson Mandela viveu aqui.
Soweto
Mbalia, 38 anos, é sul-africano e vive no Soweto. É guia há três anos e é ele que faz as honras da visita que terá a duração prevista de uma hora. Quebra o gelo, perguntando o nosso nome e de onde vimos. Mbalia conhece o Porto, muito graças ao sul-africano Benni McCarthy, que jogou no FC Porto e “ganhou milhões”. “Levem-me para o Porto, quero ganhar milhões”, brinca. Mbalia é um diamante negro, a expressão usada para definir a nova geração de sul-africanos que procura uma oportunidade. É também um contador de histórias, foi ele que nos disse que o nome original de Nelson Mandela era Rolihlahla, tendo sido a professora que lhe atribuiu o nome Nelson Mandela. Somos guiados por Mbali que usa os números para descrever os lugares. Por exemplo, o FNB, estádio que acolheu a final do Campeonato Mundial de Futebol em 2010, é o maior de África e quarto maior do mundo. Agora é palco de jogos de futebol, concertos ou acontecimentos políticos. No Soweto fica também o maior Hospital de África, Chris Hani Baragwanath Hospital, considerado o melhor centro de trauma do continente. Vivem no Soweto quatro milhões de habitantes, de todas as classes sociais, e hoje em dia há casas recuperadas que vivem paredes meias com casas em muito mau estado. “Depende do dinheiro que tenhas para melhorar a tua casa”, explica Mbalia. As casas típicas do Soweto têm apenas quatro divisões, dois quartos, uma sala e uma cozinha, a casa de banho encontra-se na rua, e antigamente era partilhada. Um dos locais de passagem obrigatória quando se visita o Soweto é o Memorial Hector Pieterson, composto por museu e jardim com várias referências ao que aconteceu em 16 de Junho de 1976. Nesse dia, 15 mil estudantes marcharam pacificamente contra a imposição do africanêr como língua de ensino oficial. Os estudantes foram surpreendidos com um tiroteio da polícia. Um dos símbolos deste massacre acabou por ser o jovem Mbuyisa Makhubu, que transportou ao colo Hector Pieterson, uma das vítimas atingidas pelo tiroteio e que dá nome a este memorial. A imagem de Mbuyisa a carregar Pieterson está em grande plano neste memorial, inaugurado em 1992 por Nelson Mandela. Morreram pelo menos 600 estudantes durante o massacre.
Ainda no Soweto é possível visitar a casa onde viveu Nelson Mandela. Madiba ainda chegou a regressar a esta casa, depois de sair da prisão, em 1990. Mas por questões de segurança – toda a gente queria ver Mandela – acabou por ir viver para outro bairro de Joanesburgo. O Soweto é um único local do mundo onde viveram dois Prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu, que também lutou contra o apartheid. O que não se pode mesmo deixar de visitar em Joanesburgo é o Museu do Apartheid. São necessárias pelo menos duas a três horas para percorrer o museu com calma e entender este período da história do país e da Humanidade. Os museus têm como missão educar e preservar a memória colectiva e o Museu do Apartheid é disso exemplo. A experiência começa logo no início, quando o visitante recebe, aleatoriamente, um bilhete com a inscrição branco ou não branco. Consoante o bilhete que receber terá de entrar pela porta “dos brancos” ou “não brancos”. A ideia remete para o período do apartheid onde negros e brancos não tinham acesso aos mesmos locais. O museu está bem estruturado e tem uma enorme quantidade de informação sobre este período. Está aberto todos os dias das 9h às 17h e o bilhete tem o preço de 95R (5,70€).
Kruger Park
A próxima paragem é o Kruger Park, onde nos espera a experiência na savana. Cinco horas é quanto dura a viagem de carro entre Joanesburgo e o Hotel Pestana Kruger, local de partida para os dois safaris agendados, um ao por-do-sol e outro ao amanhecer. Da grande varanda do Pestana Kruger com vista para a savana, já se pode ter uma ideia do que será o safari, mesmo antes de sair do hotel. Avista-se um grupo de hipopótamos submersos no rio e um crocodilo. Os bilhetes, que custam entre 50 a 60 euros, podem ser comprados no hotel que tem acordos com as empresas locais. Oupa é o nosso guia do safari ao pôr-do-sol, com a previsão de durar três horas e meia. Antes de embarcarmos nesta aventura, há uma primeira paragem à porta do parque para assinar termos de responsabilidade. Oupa, que é guia há 21 anos, aproveita a ocasião para nos explicar as regras. Devemos manter-nos dentro do jipe e fazer pouco barulho quando avistarmos os animais, lembra que avistar os animais pode ser uma questão de sorte e pergunta-nos se a sorte veio connosco. Estamos confiantes que sim. Os primeiros a serem avistados são as impalas, havemos de os ver várias vezes ao longo do safari. Aliás, se num Safari não vir impalas, deve pedir o reembolso. A segunda espécie a surgir no caminho são os javalis, que integram o grupo dos “Big Ugly”, brinca Oupa, gnus e ienas também fazem parte desta classificação. Seguimos confiantes que vamos ver os “Big Five”. Os “Big Five” são um termo originalmente usado por caçadores para definir as cinco maiores espécies e as mais difíceis de caçar: leão, elefante, leopardo, rinoceronte e búfalo. Mais à frente, três rinocerontes fazem as delícias do grupo, que prontamente põe as câmaras a jeito. São perto das 17h e a luz começa a desaparecer. Ainda há tempo para ver uma girafa mesmo à beira da estrada. O sol já se pôs e é hora de ligar os holofotes laterais do jipe para ajudar a visualizar as bermas da estrada, de onde podem surgir mais animais, é o caso das girafas, agora iluminadas pelos faróis. Mais à frente havemos de encontrar um elefante prestes a atravessar a estrada, paramos, e é a primeira vez que estamos tão perto de um ‘Big Five’. Há uma certa tensão. Oupa explica que à noite os animais preferem caminhar no asfalto uma vez que não há obstáculos e o chão está mais quente. Seguimos a pouca velocidade na esperança de encontrar mais um animal antes do regresso ao hotel. Surge um hipopótamo na berma da estrada. Vinha provavelmente do rio onde passa o dia. Estes animais, explica Oupa, são os que mais matam humanos em África, não para comer, mas em auto-defesa. À noite, os hipopótamos podem percorrer até 20 quilómetros além do rio à procura de vegetação para se alimentarem. No dia seguinte, o safari ao nascer do sol começa com um despertar madrugador gador. Às 5h30 fazemo-nos à estrada. Desta vez, Solomon é o nosso guia. As regras já as conhecemos. Manter o máximo de silêncio quando estamos perto de um animal e manter o olhar atento à paisagem na tentativa de avistar alguma espécie. Os guias incentivam-nos a fazê-lo, mas na verdade são eles a peça-chave para um safari bem-sucedido. Têm o olhar treinado e conseguem avistar animais a grande distância, mesmo quando estes se confundem com a paisagem. Na noite anterior, tínhamos visto dois dos “big five”: o elefante e o rinoceronte. Ainda não eram 6h e já estávamos prestes a ver dois leões. O momento é denunciado por um grupo de carros parados um quilómetro à nossa frente. Quando isso acontece, é quase sempre sinal que um animal está por perto. Chegámos a tempo de ver leões a atravessar a estrada, conseguimos ainda seguir-lhes o rasto com o olhar até desaparecem no horizonte. Um safari exige paciência e procura. Andámos cerca de meia-hora até que Solomon pára o carro e faz marcha atrás. Passámos por uma leoa, só ele é que a viu. Está sozinha e vai atravessar a estrada. As leoas, explica Solomon, podem ser avistadas sozinhas, não precisam de ajuda para caçar. Silêncio quase absoluto, somente quebrado pelos flaches ou por uma informação do guia. Seguimos caminho, fizemos mais algumas paragens, encontrámos um grupo de dois rinocerontes fêmeas e um macho. Os guias explicam as características físicas de cada animal, como se alimentam ou procriam. Mais à frente havemos de avistar um grupo de zebras. Com três horas de safari, Solomon leva-nos a um lugar digno de um documentário da vida selvagem, no mesmo local estão rinocerontes e girafas. Como se o momento já não fosse expcecional, fica ainda melhor com a chegada de um elefante. Não avistámos búfalos nem leopardos, mas vimos outras espécies: gnus, kudus, e impalas, muitas. Saímos do parque felizes.
*A jornalista viajou a convite da TAAG e Teldar Travel