Incertezas dominaram debate sobre aeroporto na IV Cimeira do Turismo Português
Debate sobre “A urgência de um novo aeroporto para Lisboa” juntou representantes da ANA, TAP, NAV, ANAC e do Projecto de Expansão Aeroportuária de Lisboa.
Inês de Matos
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A IV Cimeira do Turismo Português, que decorreu esta quinta-feira, 27 de Setembro, no âmbito do Dia Mundial do Turismo, dedicou um painel ao tema “A urgência de um novo aeroporto para Lisboa”, mas, além da certeza de que esta é mesmo uma infraestrutura urgente devido ao esgotamento do actual aeroporto, o que dominou o debate foram as várias dúvidas que ainda existem, seja quanto à nova infraestrutura ou quanto à expansão da Portela.
O debate, que foi moderado pelo sub-director de informação da TVI, Pedro Pinto, seguiu-se à intervenção do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, e contou com a participação do CEO da ANA – Aeroportos de Portugal, Thierry Ligonnière; Duarte Silva, coordenador do Projecto de Expansão Aeroportuária de Lisboa; Jorge Ponce de Leão, presidente da NAV – Navegação Aérea de Portugal; Antonoaldo Neves, presidente executivo da TAP; e Luís Silva Ribeiro, presidente do Conselho de Administração da ANAC – Autoridade Nacional da Aviação Civil.
Logo no arranque, Pedro Pinto questionou o CEO da ANA sobre as garantias que existem de que o Aeroporto Humberto Delgado vai conseguir acompanhar a subida da procura turística por Lisboa, até 2022, questão a que Thierry Ligonnière respondeu com uma série de soluções a curto prazo, nas quais o primeiro passo será o encerramento da pista 17/35, que “é utilizada em menos de 1% dos casos” e cujo fecho vai permitir criar “mais capacidade de estacionamento”, actualmente um dos grandes problemas da infraestrutura.
Segundo Thierry Ligonnière, a ANA está “a fazer um grande esforço para acompanhar o crescimento”, resposta que não deixou satisfeito o presidente executivo da TAP, que começou logo por afirmar que “estamos muito atrasados no que diz respeito ao aeroporto”. “Não precisamos só de ser competitivos em relação ao aeroporto, precisamos ser muito mais eficientes, não adianta estar na média da Europa”, afirmou.
Para o presidente executivo da TAP, um dos maiores problemas é o desconhecimento face ao plano de investimentos. “Estamos muito curiosos para entender qual é o plano, porque não temos ainda o plano detalhado de quando acontece o quê. No mapa, percebemos que vai ter investimento, nos parques de estacionamento, nas saídas rápidas, na ampliação da área do terminal. Tudo isso é muito bem-vindo, mas a pergunta é: quantas posições de estacionamento tenho a mais em Junho do ano que vem?”, questionou.
Antonoaldo Neves queixa-se da insegurança quanto ao futuro e também dos custos, já que os problemas no aeroporto têm ajudado à fraca pontualidade da companhia. “Hoje, 44% dos meus voos, até às 11h30, chegaram atrasados a Lisboa por conta do código 83, limitação de infraestrutura do aeroporto de Lisboa. Há um constrangimento enorme”, afirmou o presidente executivo da TAP, explicando que, devido aos atrasos, a TAP paga hoje mais 50 milhões de euros em compensações a passageiros do que em 2014.
Antonoaldo Neves concorda com o fecho da pista 17/35 e com a construção do aeroporto complementar no Montijo, mas quer saber “como, quando, onde, em que mês começam as obras e quando acabam?”, questão a que Thierry Ligonnière voltou a responder de forma evasiva, insistindo que “o primeiro passo, a primeira etapa, é o fecho da pista 17/35”.
Montijo chega em 2022?
O debate centrou-se depois no aeroporto complementar do Montijo, com Pedro Pinto a perguntar a Duarte Silva se o projecto corre o risco de derrapar. “O plano de trabalho que está a ser feito é com 2022 em mente. Estamos a correr contra o tempo e é evidente que 2022 é tarde, devíamos estar hoje a inaugurar um novo aeroporto”, respondeu o coordenador do Projecto de Expansão Aeroportuária de Lisboa, para quem “o Montijo é a solução de grande desbloqueamento da capacidade de Lisboa”.
Para Duarte Silva, a responsabilidade quanto ao aeroporto complementar do Montijo é da ANA, uma vez que “o investimento no Montijo é feito ao abrigo de um contrato que já existe, o contrato de concessão com a ANA. É a ANA que tem responsabilidade, não só pelo plano e projecto do aeroporto, mas também na sua construção”, afirmou.
A ANA, por sua vez, prefere não se comprometer, ainda que todos os restantes participantes no debate seja unânimes a pedir celeridade no processo, já que “estamos a chegar ao limite”, sublinhou Jorge Ponce de Leão. “Há uma regra que diz que quando atingimos 85% dos slots, a partir daí a capacidade tem que degradar a qualidade da operação e a pontualidade”, afirmou o presidente da NAV, revelando que, este Verão, a infraestrutura foi utilizada a 94,5%, o que está “a acontecer de uma forma recorrente”.
Thierry Ligonnière continuava a dizer que a empresa que gere os aeroportos nacionais está “a trabalhar na definição da solução de expansão do táxi-way” na Portela, intervenções que deverão arrancar “assim que possível”, já que, em primeiro lugar, a infraestrutura precisa de planeamento e a TAP nem sempre fornece à ANA todos os dados.
A resposta do CEO da ANA voltou a não satisfazer Antonoaldo Neves, que lembrou que o plano de frota da TAP está definido há anos e que a ANA o conhece há muito tempo, lamentando o pouco feedback que a companhia aérea de bandeira nacional tem recebido por parte da gestora das infraestruturas. “Esse é o problema que vivemos hoje, enquanto nós compramos aviões, do lado da infraestrutura é só frustração, não há nada”, desabafou, acrescentando que “a grande questão é que isso precisa de ser feito ontem. Precisa do projecto, precisa de aprovar o projecto, precisa contratar empreiteiros e precisa de estar pronto. Se não avançamos na velocidade que Portugal precisa, Portugal vai ficar para trás. Aliás, o Turismo já começa a sentir”.
Opinião idêntica à do presidente executivo da TAP tem Luís Silva Ribeiro, que admite que “esta solução está a ter um impacto” e não é positivo, já que o país está até “a perder grandes eventos” por causa do esgotamento da Portela, dando como exemplo um recente episódio a propósito do concerto em Portugal dos U2. É que depois do último espectáculo, a banda irlandesa queria regressar imediatamente a casa e, na impossibilidade de ter slot, estava até disposta a retirar músicas ao concerto para cumprir o horário. Acabou por não acontecer, mas ficou o alerta.
A IV Cimeira do Turismo Português foi promovida pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP), no âmbito do Dia Mundial do Turismo, que se assinalou esta quinta-feira, 27 de Setembro, e decorreu em Lisboa, no Teatro São Luiz.