Especial: Sustentabilidade precisa-se!
O crescimento exponencial que o Turismo em Portugal tem registado nos últimos anos exige que os ‘players’ do sector façam deste um crescimento sustentável a todos os níveis: social, económico e ambiental. É uma questão que se impõe não apenas para garantir o futuro, mas sobretudo para garantir o presente da actividade turística e dos recursos que ao Turismo são transversais.
Raquel Relvas Neto
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O crescimento exponencial que o Turismo em Portugal tem registado nos últimos anos exige que os ‘players’ do sector façam deste um crescimento sustentável a todos os níveis: social, económico e ambiental. É uma questão que se impõe não apenas para garantir o futuro, mas sobretudo para garantir o presente da actividade turística e dos recursos que ao Turismo são transversais.
A Sustentabilidade deixou de ser algo com que as empresas e entidades se preocupam ocasionalmente para se tornar na sua prática diária. A preocupação com o futuro é uma obrigação do presente, mas que, cada vez mais, as empresas e entidades incutem nas suas práticas para terem efeitos imediatos.
Recentemente, celebrou-se o Dia Mundial do Ambiente que tem como tema, este ano, Combater a Poluição de Plásticos, um dos maiores desafios ambientais da actualidade. O tema convida todos a considerar como podemos fazer mudanças no nosso dia-a-dia para reduzir o fardo pesado da poluição plástica em lugares naturais, na vida selvagem e na própria saúde. Esta acção tem estado cada vez mais presente no dia-a-dia dos destinos turísticos, companhias de cruzeiro, unidades hoteleiras e restaurantes, mas não só. São cada vez mais os que promovem políticas e campanhas que reduzam a utilização de objectos de plástico, como palhinhas e sacos de plásticos. Em Portugal, para dar apenas um exemplo, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) lançou a campanha ‘Menos Plástico, Mais Ambiente’, uma iniciativa com o apoio do Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente, que tem como objectivo reduzir o uso de artigos de plástico na restauração e hotelaria (Canal HORECA), com vista à preservação do meio ambiente. “A produção global de plásticos aumentou 20 vezes desde 1969, atingindo 322 milhões de toneladas em 2015. São números que merecem mais do que uma reflexão, uma atitude proactiva no sentido de proteger o nosso planeta. Apesar de Portugal ter um bom desempenho no que se refere à taxa de reciclagem de embalagens de plástico – bem acima da meta de 22,5% – queremos ir mais além e tornar o sector da restauração e hotelaria numa referência a nível mundial”, afirma Ana Jacinto, Secretária-Geral da AHRESP. A campanha ‘Menos Plástico, Mais Ambiente’ decorre entre Maio e Outubro deste ano e pretende sensibilizar todos os intervenientes na cadeia turística.
Turismo de Portugal
Também o Turismo de Portugal tem a sustentabilidade como conceito prioritário. O instituto público indica mesmo que “pela primeira vez, temos objectivos de sustentabilidade numa estratégia a 10 anos, a Estratégia Turismo 2027 (ET27)”. Segundo o Turismo de Portugal (TdP), “fomos ambiciosos nesse domínio, definindo metas concretas em cada um dos três pilares de sustentabilidade”. Neste âmbito, está a ser desenvolvido um conjunto de iniciativas de sustentabilidade para o sector, como a criação de observatórios regionais de sustentabilidade integrados na rede de observatórios da OMT – UNWTO Network of Observatories (INSTO), que pretende “posicionar Portugal como destino líder nas matérias de sustentabilidade”. Em 2017, foi concretizada a adesão do observatório regional de sustentabilidade do Alentejo à INSTO, estando previsto a adesão de um novo observatório no Algarve até ao final do ano. O Turismo de Portugal entende que “a monitorização da sustentabilidade é decisiva para medir o progresso nesta matéria”. Além destes observatórios, o instituto público desenvolveu “um sistema de indicadores de sustentabilidade no turismo e está a desenvolver diversos projectos de monitorização da pressão turística a nível local, em colaboração com universidades e associações empresariais”. O programa de turismo inclusivo Tourism ALL for ALL; o projecto Portuguese Waves, de gestão sustentável das praias ‘surf spots’; o Portuguese Trails, programa de valorização e sustentabilidade dos traçados âncora de Cycling & Walking das regiões turísticas portuguesas; parcerias com ONG’s para promover a sensibilização ambiental dos agentes do sector; e, finalmente, o Programa Valorizar, enquanto instrumento centrado na regeneração e reabilitação dos espaços públicos com interesse para o turismo, a valorização turística do património cultural e natural do país, promovendo condições para a desconcentração da procura, a redução da sazonalidade e a criação de valor são outras das iniciativas promovidas pela entidade.
O instituto público considera que os bons resultados dos últimos anos “são prova de que, com um trabalho focado, articulado e conjunto entre todos os agentes do sector – públicos e privados -, e objectivos claros, o Turismo tem capacidade para ser uma actividade sustentável ao longo do ano, em todas as regiões do país. O desenvolvimento do sector é sustentável mantendo o enfoque na qualidade e na distribuição da procura por todo o território nacional e durante todo o ano. Há que continuar a crescer, em qualidade, construindo um melhor Turismo”.
Assim, com a ET27, o Turismo de Portugal pretende “afirmar o turismo como hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental e posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo”. “Queremos colocar o nosso país no top 10 do Índice de Competitividade das Viagens & Turismo do Fórum Económico Mundial. Para isso além das apostas estratégicas na sustentabilidade e na formação, há outro pilar da nossa estratégia que importa mencionar. O empreendedorismo e a inovação”, indica o instituto público.
Açores
Quisemos saber ainda que práticas estão a ser promovidas naquele que é “um destino certificado pela Natureza”, como refere Marta Guerreiro, secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores. O arquipélago está “fortemente associado a práticas sustentáveis, numa escala global cada vez mais internacional”. É neste âmbito que o Governo Regional assumiu o compromisso da certificação dos Açores como destino turístico sustentável através dos critérios da GSTC – Global Sustainable Tourism Council e a chancela das Nações Unidas, uma meta que o destino pretende alcançar já em 2019. Marta Guerreiro evidencia que “não há nenhum arquipélago no mundo com esta certificação, sendo apenas nove as regiões do mundo (de apenas quatro países) que a detêm. Se os Açores conseguirem esta distinção, serão o primeiro arquipélago do mundo a ser certificado pela EarthCheck”. Para a responsável, esta decisão representa “um desafio acrescentado e uma responsabilidade com o futuro. Um futuro onde o turista sinta que os Açores são efectivamente uma referência. Um destino em que o desenvolvimento económico equilibrado é feito em respeito pelo ambiente e pela cultura. E esse respeito passa, e muito, pela valorização dos nossos produtos regionais e do artesanato, mas, principalmente, através da valorização das pessoas: os açorianos e os turistas”. Para atingir esta certificação foi constituída a Entidade Coordenadora da sustentabilidade do destino turístico, uma DMO (Destination Management Organization), que funcionará sob dependência da Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo numa colaboração transversal a todo o Governo, municípios, empresas, associações e população em geral.
A responsável considera que todo este processo de sustentabilidade tem de ser “colaborativo e de envolvimento com os vários ‘stakeholders’ ou interlocutores regionais”, pretendendo-se que todos os fornecedores regionais incorporem “estratégias de sustentabilidade económica, ambiental e social, mais capazes e resilientes em prol do futuro, possibilitando uma maior robustez no processo de sustentabilidade do destino turístico Açores”. O objectivo passa por se formar “um movimento de arrasto em todo o tecido empresarial e institucional regional”.
Mas de que forma a sustentabilidade pode funcionar como uma bandeira promocional, questionámos. Marta Guerreiro é peremptória: “No caso dos Açores, a sustentabilidade das nossas práticas, de forma transversal, é inevitável. Afirmamo-lo porque somos ilhas com ecossistemas frágeis; porque o que nos distingue, enquanto destino, é a nossa natureza exuberante e preservada; porque se quer atingir uma sociedade mais justa com maior riqueza, mais oportunidades e melhor emprego; porque quem nos procura espera que valorizemos as nossas tradições, a nossa cultura, os nossos produtos e a nossa genuinidade”.
E isto tudo tem permitido que “haja já um sentimento, cada vez mais, partilhado por todos, no que diz respeito ao posicionamento dos Açores enquanto destino turístico sustentável. De facto, “assume-se como um rumo já iniciado, que se pretende que seja vivido por todos os que nos visitam e os exemplos de práticas sustentáveis são já uma realidade nas nove ilhas do arquipélago”, conclui. ¶
Chão do Rio promove Turismo Responsável
Localizada na aldeia de Travancinha, no sopé da Serra da Estrela, o Chão do Rio – Turismo de Aldeia foi atingido em parte pelos incêndios de 15 de Outubro de 2017, tendo obrigado ao seu encerramento temporário. Oito meses depois, tornou-se a primeira unidade de Turismo Rural a receber o certificado Biosphere Responsible Tourism em Portugal, evidenciando assim as suas práticas exemplares na área do Turismo Sustentável. A Biosphere Responsible Tourism é promovida e desenvolvida pelo Instituto de Turismo Responsável, uma das organizações responsável pela promoção dos princípios da Carta Mundial do Turismo Sustentável, tendo estabelecido um memorando de entendimento com a UNWTO e UNESCO para o efeito. O Chão do Rio espera que esta certificação seja um impulso importante para relançar a unidade no mercado, depois do seu afastamento temporário. Catarina Viegas, gerente da unidade, indica ainda que perspectiva que a distinção “lhe permita reforçar a sua atractividade junto dos mercados que mais valorizam o turismo de natureza, como os mercados alemão e holandês. Por outro lado, esta certificação é também um instrumento de melhoria continua, que o Chão do Rio espera que seja um farol essencial na continuação da projecção da unidade com um forte posicionamento no mercado no longo prazo”.
Com seis casas de campo construídas em granito amarelo e uma estrutura em madeira e cobertura decorativa de giestas, recriando os tradicionais abrigos de pastores da Serra da Estrela, o Chão do Rio tem uma capacidade máxima de acomodação de 26 camas. A unidade oferece ainda uma piscina biológica, churrasqueiras, forno de lenha, zona de piqueniques, parque infantil, tanque para lavagem da roupa, trilho pedestre sinalizado, horta biológica, galinheiro amovível, pequeno redil, bicicletas e carros-de-mão de uso livre. O objectivo da unidade passa por “proporcionar aos seus hóspedes a possibilidade de experienciar um conjunto de actividades sustentáveis, ligadas à Natureza e em sinergia com o meio rural envolvente”. Catarina Viegas explica que a sustentabilidade sempre esteve presente nos valores essenciais da unidade, sendo assim “intrínseca em tudo o que se faz”. “A satisfação dos nossos hóspedes é pensada em consequência da redução da pegada ecológica, do fomento da biodiversidade ou ainda da integração dos valores da região e da comunidade local na experiência Chão do Rio. Em rigor, a sustentabilidade é a essência do conceito, pois este é inspirado na cultura pastorícia local e, é difícil encontrarmos um modo de vida mais sustentável que esse”. Os hóspedes que procuram a unidade partilham destes mesmos valores, sendo sobretudo “famílias preocupadas em dar a educação mais correcta aos seus filhos; são também os fotógrafos de natureza (profissionais ou amadores); são também aqueles que já não vivendo no campo sentem a sua falta, na sua forma mais pura ou aquela de que se lembram da infância”.