Conversas à mesa | Cristina Ávila
Cristina Ávila , delegada da Direcção Regional do Turismo dos Açores em Lisboa, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu na Portugália Cervejaria Belém.
Carina Monteiro
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Cristina Ávila , delegada da Direcção Regional do Turismo dos Açores em Lisboa, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu na Portugália Cervejaria Belém.
Os Açores estão no sangue e no coração da terceirense Cristina Ávila. Passem os anos que passarem, continua a emocionar-se ao falar da terra natal, à qual dedicou a maior parte da vida profissional.
Não gosta das luzes da ribalta, mas não há quem não conheça o seu trabalho em prol do desenvolvimento turístico dos Açores, já lá vão mais de 20 anos. De sorriso aberto, tem uma alegria de viver que é transversal à vida privada e profissional.
Cristina Ávila nasceu na ilha Terceira, o chamado “parque de diversões”, como a própria apelida, em jeito de brincadeira, por se tratar da ilha com “mais entretenimento ao longo do ano”.
Viveu os primeiros doze anos de vida na Base Aérea das Lajes. O pai era tradutor no comando aéreo dos Açores e a mãe professora primária. Recorda com alegria a vivência dessa altura: “Os meus amigos vinham a minha casa para brincarmos. Já havia imenso entretenimento na Base. Tínhamos contacto com o mundo exterior, se calhar, primeiro do que aqui no Continente, tínhamos televisão e acesso às novas tecnologias da altura, que cá ainda não existiam. Andávamos um passo à frente”, recorda.
Era boa aluna. Talvez por condição de ser filha de uma professora, tinha de tirar boas notas, “ter um três era quase como ter uma negativa”, conta.
Sempre gostou muito de línguas, característica herdada do pai, que sempre teve grande afinidade com as línguas e também pela necessidade de contacto com os americanos na Base. Depois de completar a primária na Base das Lajes, foi estudar para a Praia da Vitória, para onde entretanto se tinha mudado. Mais tarde, completou o liceu em Angra do Heroísmo.
Começou a desenhar-se cedo aquilo que queria fazer. Gostava de conviver e falar outras línguas, mas, sobretudo, tinha uma enorme vontade de descobrir o que estava além do horizonte. “Julgo que é uma característica dos ilhéus”, afirma. Por outro lado, considerava que os Açores tinham grandes potencialidades para o Turismo, mas estavam subaproveitadas. Veio estudar para Lisboa para o curso de Turismo do Instituto de Novas Profissões em 1987. A vinda para Lisboa foi uma descoberta, com aspectos positivos e negativos. O positivo foi o contacto com outras pessoas e alargar horizontes. Tinha um grupo de amigos açorianos e todos os sábados encontravam-se para diversas actividades e jantares. Era conhecida na universidade como ‘a açoriana’, sempre foi solidária e disponível para ajudar os colegas, postura que mantém até hoje.
Imaginava iniciar a carreira nos Açores, mas a vida trocou-lhe as voltas. Ainda não tinha terminado a licenciatura em Gestão de Empresas Turísticas quando foi convidada para trabalhar no Instituto de Promoção Turística. Aceitou de imediato, ia trabalhar naquilo que gostava: informação turística, promoção e relações públicas, áreas que, não só a atraiam, como estavam em consonância com a sua maneira de ser e de estar.
Trabalhou no Instituto de Promoção Turística durante pouco tempo, uma vez que o organismo foi extinto em 1991, com a fusão do Turismo com o Comércio, dando lugar ao ICEP. Ficou no ICEP até 1997. Fez essencialmente promoção. “Integrei a direcção de promoção, para, em conjunto com as delegações no estrangeiro, fazer a gestão da promoção de determinados mercados, como o Reino Unido, a Escandinávia, os EUA e o Canadá”, lembra. Em 1997, foi convidada pelo Secretário Regional da Economia dos Açores da altura, o Professor Doutor Duarte Ponte, para trabalhar na Delegação de Turismo da ilha Terceira. “Tive o prazer de o conhecer e trabalhar com ele. Foi uma pessoa extraordinária, um visionário e um estratega. Aprendi imenso com ele”, recorda.
Nos Açores, “havia tudo para fazer”, lembra, porque somente nesse ano, com a mudança do Governo, “houve o verdadeiro reconhecimento do Turismo como um dos vectores de desenvolvimento da economia dos Açores. Portanto, havendo vontade política, tudo é mais fácil”, considera.
Desde 1996, e durante estas duas últimas décadas, “começou-se a trabalhar para o desenvolvimento do Turismo na Região e procurou-se dotar os Açores de todos os mecanismos necessários para que se tornasse num verdadeiro destino turístico por excelência”, constata. A fase em que Cristina Ávila trabalhou no ICEP terá sido determinante para olhar para os Açores de outra forma. “Quando ia promover Portugal nas principais feiras de Turismo estrangeiras, olhava para a representação açoriana com uma certa tristeza, porque considerava que, os poucos açorianos que na altura iam às feiras tinham de fazer um esforço enorme para pôr os Açores no mapa e era extremamente difícil”, constata.
Cristina Ávila é parte do processo que ajudou a construir o destino. “É engraçado olhar para trás e ver todos os patamares que tivemos de passar. Olhar para os Açores quando não havia praticamente nada em termos de oferta turística, e ter feito parte de uma equipa que começou a preparar e a construir os Açores para ser aquilo que são hoje é gratificante”, afirma. “Foi fundamental o esforço institucional, mas, sobretudo, o empenho dos nossos empresários porque, sem eles, hoje, os Açores não seriam um destino turístico”, conclui.
Associação Turismo Açores
Em 1999, dois anos depois de ter iniciado o trabalho na ilha Terceira, Cristina Ávila foi convidada para trabalhar na Delegação de Turismo dos Açores em Lisboa. Veio para liderar a equipa no gabinete e nos postos de turismos de Lisboa e Porto. A missão era aumentar os fluxos do mercado nacional para os Açores. “Correu bem, porque o Secretário Regional tinha muita confiança nas pessoas e isso é fundamental. Tínhamos muita confiança da parte institucional”.
Está na Delegação de Turismo dos Açores em Lisboa até hoje, mas pelo meio teve que acumular outra função, aquilo a que chama “uma vida profissional dupla”. Em 2003 começou outra vez um projecto do zero, paralelamente à actividade em Lisboa. Foi presidir à Associação Turismo Açores (ATA), organismo criado no âmbito da reorganização do mapa turístico nacional. “Foi como ver nascer um bebé e criá-lo até perto de oito anos”, conta. É difícil eleger os momentos importantes da ATA, uma vez que, “quando se está a tentar dar notoriedade a um destino pela primeira vez, tudo é importante”, defende. “Quando começamos do zero, temos de ganhar confiança dos operadores, das companhias aéreas, dos stakeholders, temos de mobilizar o sector público e privado. Portanto, penso que, nos Açores, tudo correu bem, porque estivemos sempre em sintonia, sempre com o objectivo de atingir o mesmo porto. Esse porto era, sem dúvida, dar notoriedade aos Açores, à nossa marca e torná-la numa referência de destino sustentável”. Cristina Ávila considera fundamental continuar a posicionar Açores como um destino de Turismo sustentável, algo que, acredita, vai continuar a acontecer no futuro. “Creio que não vamos divergir muito desta estratégia da Sustentabilidade. O facto é que, em 2017, com a nova legislatura, foi criada uma nova secretaria com, precisamente, essa preocupação de manter o casamento feliz entre o desenvolvimento e o meio-ambiente”.
Durante o período em que presidiu à ATA, ia quase todas as semanas a São Miguel. “Não era fácil gerir a vida familiar com as exigências que a ATA me colocava. Tinha de estar constantemente no estrangeiro e fora de casa”, conta. “Nessa altura, não tinha uma equipa muito numerosa, mas era uma equipa muito eficaz, coesa e solidária, isso é meio caminho para que haja sucesso na implementação dos nossos planos”, considera.
Entretanto, em 2006, concretizou o maior sonho da sua vida: ser mãe. Quatro anos depois, deu por concluída a sua participação na ATA. Estava na altura de dedicar mais tempo à família. “O meu filho tinha quatro anos e considerei que tinha de haver um maior equilíbrio entre as exigências familiares e as da ATA. A vida é feita de ciclos e as pessoas não estão eternamente nos lugares, pensei que estava na altura de passar o testemunho a outra pessoa. Sempre considerei que tinha dado muito à minha profissão, colocando-a, muitas vezes, à frente da minha vida pessoal”, conta.
Quando deixou a direcção da ATA, surgiram-lhe algumas propostas para trabalhar no sector privado, mas considerou sempre que tinha um compromisso com os Açores. “O futuro a médio prazo é trabalhar para os Açores”, não tem dúvidas, embora tenha outras actividades paralelas, como a vice-presidência da Confederação do Turismo Português. Cristina Ávila diz que, ao contrário de outros destinos, “é muito fácil gostar e promover os Açores, porque é tudo tão genuíno, tão transparente e há um respeito pela maneira de ser dos açorianos, altamente simpáticos e hospitaleiros. O Turismo é bom quando é bom para o turista, mas, principalmente, para o açoriano. Quando não há esse equilíbrio, é péssimo para ambas as partes”.
Vida pessoal
Cristina Ávila vive em Santarém, com o marido Manuel, natural do Alentejo, e o filho, António. “É o meu projecto de vida, daí ter optado por deixar a ATA, porque optei por ser uma mãe mais presente. Tento ser uma mãe normal, mas tenho plena noção que o estrago com mimos”, reconhece. Procura que o filho mantenha uma ligação forte com os Açores. “Não quero que, nem o Atlântico, nem a erosão do tempo, causem transtornos nos valores que quero transmitir ao meu filho, que é manter as raízes nos Açores. Vim de lá há mais de 30 anos e mantenho intacta a amizade com os meus amigos e as relações familiares”, afirma. É por isso que não troca três semanas de Verão nos Açores por mais parte nenhuma do mundo. “Quanto mais viajo, mais valor dou a Portugal e aos Açores, em particular”, constata.
Anfitriã por natureza, faceta que vem da origem terceirense, adora rodear-se da família e dos amigos, tanto nos Açores como em Santarém, e até trouxe algumas tradições açorianas para o continente, como o Dia das Amigas, que faz questão de celebrar. Os Natais são passados alternadamente nos Açores e em Santarém. “Quando passam cá, vêm todos. Este ano, eramos 25 à mesa”. Na passagem de ano, fez uma festa para a família e os amigos que vieram dos Açores. Tem uma vida cheia e não podia ser outra forma, afinal o que é uma vida sem recordações, questiona.
Mas não é só na vida privada que Cristina Ávila se rodeia de amigos. No trabalho também. “As pessoas com as quais trabalho têm de ser minhas amigas, porque se estou a maior parte do meu tempo com elas, temos que ter uma boa relação, uma relação de amizade e de espírito de entreajuda. A minha postura tem sido sempre esta de fazer amigos no trabalho e fora dele. Posso dizer que tenho muitos amigos”. A postura, o profissionalismo e o espírito de colaboração de Cristina Ávila com o sector do Turismo foram recentemente reconhecidos com a atribuição do título de membro honorário da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), distinção que não esperava, mas que recebeu com enorme satisfação. Tem o sonho de continuar a ver os Açores “a serem respeitados pelos açorianos e pelos turistas”. “O meu sonho é olhar, daqui a dez anos, para trás e pensar novamente que valeu a pena ter trabalho para os Açores, valeu a pena ter trabalho para o Turismo porque o Turismo não danificou os Açores, nem a maneira de ser e o bem-estar dos açorianos, mantendo a sua posição diferenciadora de Destino de Natureza de Excelência”.
Portugália Cervejaria
A Portugália Cervejaria nasceu há 92 anos num espaço anexo à Fábrica de Cerveja na Avenida Almirante Reis, um dos locais mais simpáticos e bem frequentados da cidade de Lisboa, na época. O espaço servia acepipes e cerveja avulso aos clientes, enquanto estes aguardavam o enchimento dos seus próprios barris de cerveja à porta da fábrica. O êxito foi imediato e rapidamente a Portugália Cervejaria conseguiu implementar uma nova forma de se consumir cerveja em Portugal. Com a cerveja vieram os mariscos e os famosos bifes que rapidamente se tornaram no ex-líbris da casa Portugália. O final da década de 90 ficou marcado pela expansão da marca que é hoje a maior cadeia portuguesa de cervejarias. Por sua vez, a Portugália Belém abriu no ano de 1999 e disponibiliza 240 lugares.