Vítor Neto “Turismo e eleições”
Leia a opinião por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve.
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Ninguém pode fugir a esta realidade. Eleições. Eleições Autárquicas.
Televisões, rádios, jornais, artigos, debates, entrevistas. Candidatos e apoiantes, governantes e oposicionistas não param. Promessas, denúncias pessoais, escândalos. Festas e romarias. Nada falta. No meio de tudo isto aparece subitamente o TURISMO. Pode-se perguntar porquê, tratando-se de matéria de que em geral pouco se fala em campanhas eleitorais.
Penso que este não seria o melhor contexto para falar de Turismo, mas sinto-me na obrigação de apontar, como cidadão, ainda que de forma não aprofundada, algumas matérias de risco para serem obrigatoriamente discutidas depois das eleições.
Está-se a falar muito de Turismo na campanha eleitoral, nem sempre pelas melhores razões (valorização do seu peso e sucesso económico), mas sobretudo pelas consequências negativas da sua evolução em determinadas realidades urbanas, nomeadamente Lisboa e Porto.
Cenário de fundo: o chamado excesso de turistas.
Objetivo: travar o crescimento, evitar a «expulsão» dos residentes das zonas históricas «ocupadas», garantir rendas baratas, devolver a cidade aos cidadãos.
O processo já vinha de trás, mas as eleições autárquicas incentivaram-no. O aproveitamento demagógico de alguns grupos políticos, o oportunismo ou radicalismo de outros, ajudados pelo empolamento sensacionalista de alguma «comunicação social», condimentado com exemplos internacionais, fez o resto: geram-se reações epidérmicas de setores da população menos esclarecidos e o «caldinho» está feito: sentimentos turismofóbicos, reações irracionais, asneiras. Terreno para populismo.
O que é que deu origem a toda esta situação irracional e extremamente perigosa para o país, para as populações e sobretudo para os residentes de algumas áreas urbanas? Na minha opinião, dois fatores.
Primeiro. A ausência total de informação sobre a importância, o peso económico e social da Economia do Turismo para o país, para cada região, para áreas urbanas relevantes: produção de riqueza, exportações (maior setor), criação de empresas de variadíssimas atividades (para além de hotéis, restaurantes e comércio) e Emprego. Emprego para todos os níveis de qualificação profissional. Mais: a ausência total de informação específica e objetiva desses efeitos positivos em cada uma das cidades mais procuradas: Lisboa, Porto e várias outras, que cresceram, e muito.
Segundo. A ausência total de uma estratégia coerente de desenvolvimento turístico específico aplicável em cada uma dessas áreas urbanas, que exigiria conhecimento profundo da problemática do Turismo e desta especificidade setorial, o turismo urbano.
A ausência total de reflexão séria sobre os erros e as experiências negativas, dramáticas até, de centros turísticos urbanos de outros países (Espanha, Itália, Alemanha, etc.). Contemporização muitas vezes politicamente oportunista para mostrar «obra», com um certo modelo de investimento imobiliário, fechando os olhos ao crescimento oportunista do chamado «alojamento local», que nada tem a ver com economia «partilhada» e o verdadeiro alojamento local, fingindo defendê-lo. Legislar sobre «alojamento local» numa perspetiva «liberal», pensando apenas em Lisboa e Porto e ignorando realidades completamente diferentes por génese, natureza e quantidade, como o Algarve.
São estas algumas das questões de fundo que foram assinaladas em tempo útil, não só por mim, e que ninguém quis ouvir e discutir.
O que parece interessar são os «números», os «melhores anos de sempre», o «estar na moda», o ser «o primeiro» no ranking de uma qualquer plataforma online, apresentando valores disparatados, confundindo conceitos e formas de avaliação, embevecidos com «grandes eventos» financiados, claro, pelo dinheiro público.
Quando se podiam ter tomado medidas para travar e evitar as consequências negativas de um crescimento incontrolado.
Como reagiram agora os vários responsáveis políticos locais, que não se inibiram de cavalgar os crescimentos, perante as «dúvidas» e críticas ao «excesso» de Turismo?
Depois de sacudirem a água do capote, alarmados com o aproximar-se de eleições autárquicas (votos) e com o empolamento em torno da «falta de habitação» com rendas moderadas nas zonas históricas dos centros urbanos, em vez de ir à raiz do problema, atuaram sobre as consequências: Taxas! Para quê? Para uns, dizendo que é para investir na melhoria da oferta turística, para outros, para ajudar à criação de habitação de renda moderada nas zonas históricas. Exigindo, que, nessas zonas, edifícios novos ou recuperados se destinem a um determinado número de unidades de renda acessível. Ou com medidas avulsas nos transportes. Estamos cá para ver.
Para já não falar nas propostas legislativas sobre a autorização obrigatória dos condóminos para unidades de alojamento local num edifício. Projeto aliás já desautorizado pelo próprio partido (do governo) que o apresentou na AR.
Concluindo.
Estamos perante uma ausência de análise e de definição de estratégias o que não garante minimamente a solução do problema. Em cada cidade – em que todos dizem (hoje) a sério ou a fingir que «o turismo é importante» para a economia e o emprego – estamos perante propostas políticas e eleitoralistas avulsas, que prometem apenas que vai também haver «habitação» com rendas acessíveis e que os cidadãos podem voltar a viver a sua cidade.
Depois das eleições a música pode mudar.
Opinião. Esta problemática não tem solução num quadro eleitoral. Trata-se, no entanto, de matéria urgentíssima para o futuro da Economia do Turismo, tão importante para o país e vital para a atividade do setor nos grandes centros urbanos referidos e não só.
Se não o fizermos a tempo corremos sérios riscos. Veja-se as situações noutros países.
Estamos a falar de Empresas, de Emprego.
Estamos a falar de habitabilidade humanizada para cidadãos residentes. Não pode haver Turismo sustentável contra os residentes. Uma estratégia séria deve obrigatoriamente garantir sustentabilidade também no equilíbrio social com os cidadãos.
Estamos a falar da necessidade de um plano de ordenamento turístico em cada situação, que permita uma diversificação e descentralização de propostas atrativas para os visitantes, de forma a evitar concentrações excessivas em certas zonas.
Proposta. É urgente criar uma plataforma de discussão regional e nacional sobre estas matérias, para ganhar os cidadãos para uma compreensão inteligente da importância do Turismo e para a definição de estratégias específicas corretas. Não basta «falar» nas vésperas de eleições. Não basta ficar embevecidos com «números» e anunciar records. É preciso trabalho sério e sentido de responsabilidade.
*Por Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, Associação Empresarial da Região do Algarve
Artigo de opinião publicado na edição 1351 do Publituris de 15 de Setembro de 2017.