Transportes públicos de Lisboa adaptam-se ao Turismo
Com o aumento do Turismo na capital, os transportes públicos ficaram mais congestionados, mas, até à data, as reclamações não têm grande peso e o feedback mantém-se positivo, com os transportes públicos da capital a adaptarem-se à maior procura turística. Ainda assim, há quem aponte falhas ao nível da estratégia e há receios de que o serviço se venha a degradar, o que poderia trazer graves consequências para a imagem do destino.
Inês de Matos
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Com o aumento do Turismo na capital, os transportes públicos ficaram mais congestionados, mas, até à data, as reclamações não têm grande peso e o feedback mantém-se positivo, com os transportes públicos da capital a adaptarem-se à maior procura turística. Ainda assim, há quem aponte falhas ao nível da estratégia e há receios de que o serviço se venha a degradar, o que poderia trazer graves consequências para a imagem do destino.
Quem costuma usar os transportes públicos de Lisboa já terá, certamente, percebido que, quer os autocarros da Carris, quer as carruagens do Metropolitano de Lisboa, estão mais cheios desde que Lisboa se tornou num dos mais populares destinos turísticos da Europa. No ano passado, a capital portuguesa contabilizou 13,1 milhões de dormidas, mais do dobro do registado há uma década, 5,6 milhões de hóspedes e o aeroporto da capital movimentou mais de 22 milhões de passageiros, grande parte dos quais turistas.
Os números mostram bem que Lisboa atrai cada vez mais turistas e muitos destes visitantes recorrem aos transportes públicos para conhecerem a capital. Nas zonas mais turísticas da cidade, como a Baixa-Chiado ou Belém, o aumento do número de turistas que usa os transportes públicos é visível a olho nu, de tal forma que se começam a ouvir criticas a um serviço que, como diz Vitor Costa, director-geral do Turismo de Lisboa, “é essencial para um destino turístico urbano”.
O director-geral do Turismo de Lisboa não nega que exista alguma degradação do serviço de transportes públicos na capital, mas considera que tal não se deve ao aumento do Turismo. “Não me parece que a degradação dos transportes públicos, nomeadamente a Carris e o Metro, tenha sido causada pelo aumento do Turismo, mas sim por um processo de desinvestimento e abandono muito significativo que afectou todos os utentes da cidade”, refere o responsável ao Publituris, considerando que “o assunto é bastante importante”. Vitor Costa afirma mesmo que, caso a rede de transportes públicos de Lisboa não acompanhe o forte aumento turístico a que a cidade tem assistido, o “impacto seria muito negativo” para a imagem de Lisboa enquanto destino turístico.
Por enquanto, o Turismo de Lisboa não tem “tido feedback especial por parte dos turistas estrangeiros” e Vitor Costa diz que “as decisões mais recentes a nível governamental sobre esta matéria, bem como a prioridade política dada pela Câmara Municipal de Lisboa aos transportes públicos são sinais muito positivos”. “Acreditamos que a prioridade política que está a ser dada produza resultados tão cedo quanto possível”, acrescenta.
A Carris refere que “não tem sido indiferente ao aumento da procura turística em Lisboa e tem ajustado a oferta da rede de serviço público” e, apesar de não conseguir contabilizar exactamente qual a percentagem de turistas entre os utilizadores do serviço, admite que se tem assistido ao “crescimento na utilização de alguns dos títulos ocasionais que têm características mais ajustadas ao perfil de utilização do turista”.
Onde a empresa admite uma procura “muito elevada” por parte dos turistas é na rede de eléctrico, nomeadamente na carreira 28E, entre os Prazeres e o Largo Camões, e na carreira 15E, entre o Cais do Sodré e Belém, onde diz ter procedido já a “alguns reforços com autocarros”. “A utilização complementar de autocarros reforça o serviço dos eléctricos”, explica a empresa, referindo que esta solução representa também “uma oferta alternativa aos clientes habituais”.
Além disso, a empresa refere ainda que “tem aumentado e diversificado a oferta ao nível dos produtos turísticos de mobilidade na cidade”, em paralelo com a Carristur, com a rede de vendas a assegurar a divulgação das carreiras e dos títulos de transporte mais adequados ao perfil de cada cliente.
Estratégia precisa-se
Apesar de, até à data, o feedback ser positivo e de as queixas quase não se fazerem sentir, há quem se mostre critico face à estratégia seguida, como é o caso de Álvaro Covões, director da Everything is New, promotora do NOS Alive, um dos maiores festivais de música do País, e de vários concertos e espectáculos na capital, que aponta várias falhas à rede de transportes públicos da capital. “Temos uma má rede de transportes públicos, mas este é um problema que tem 50 anos, não é de agora”, afirma, defendendo uma estratégia para os transportes públicos de Lisboa que atenda às necessidades tanto de turistas como de residentes.
Para o responsável, os transportes públicos nem sempre funcionam “de acordo com as necessidades da comunidade” e dá como exemplo a questão dos horários nocturnos, que são escassos ou inexistentes, motivo pelo qual a Everithing is New procura estabelecer parcerias que garantam transportes mais tardios para os participantes nos eventos organizados pela promotora. É o que acontece anualmente com o NOS Alive, que tem vindo a estabelecer uma parceria com a CP – Comboios de Portugal, que, este ano, se estendeu também à Transtejo, com “balanço muito positivo”, refere o responsável, explicando que o festival mantém também uma parceria comercial com a Carris, sendo que apenas o Metropolitano de Lisboa fica de fora deste entendimento. “Há uma grande dificuldade com o Metro de Lisboa por causa dos sindicatos, nunca conseguimos ter metro depois das 01h30. Esta questão dos sindicatos é negativa porque andamos ao contrário”, frisa Álvaro Covões.
O responsável critica também o facto de a linha de metro ainda não abranger toda a área metropolitana da capital, motivo pelo qual considera que, “com este fluxo turístico que temos, não temos os transportes públicos tão bem organizados como deveríamos”. Ainda assim, tem esperança que o ‘boom’ turístico que Lisboa vive actualmente possa impulsionar uma solução. “Pelo facto de termos o Turismo como primeira indústria nacional, devíamos aproveitar esta oportunidade para fazer um plano para os transportes públicos, até porque sempre que se pensa em Turismo, também se pensa nos cidadãos e é preciso garantir um mínimo efeito para quem trabalha e para quem vive nas cidades. Portanto, o turismo é um bonús para que se faça uma coisa como deve ser”, considera.
Papel das plataformas
“Se não fossem as plataformas como a Uber e a Cabify, isto era um caos”, acrescenta Álvaro Covões, destacando o papel destas plataformas online, como a Uber e a Cabify, que oferecem um serviço de transporte individual de passageiros e que, na prática, funciona como um complemento à rede de transportes públicos de Lisboa.
Nuno Santos, General Manager da Cabify, concorda e diz mesmo que a plataforma é um “complemento à rede urbana de transportes públicos, cumprindo uma missão de capilaridade que a chamada mobilidade pesada (autocarros, metro e comboio) não cumpre”. Uma opinião partilhada também pela UBER, que defende que as “redes de transporte público são fundamentais para a mobilidade das pessoas nas cidades”, ainda que não cheguem a todo o lado, pois “a sua expansão leva tempo e exige um investimento financeiro elevado”. Neste sentido, defende a plataforma, as “tecnologias como a Uber têm um papel importante a desempenhar ao complementarem as infraestruturas de transporte público – sobretudo nos trajetos de primeira/última milha – permitindo aumentar a mobilidade das cidades de forma flexível e sem requerer avultados investimentos públicos”.
E a importância deste serviço complementar de transporte pode ser avaliada pelos números. No último ano, “mais de 750 mil utilizadores estrangeiros abriram a aplicação da Uber para viajar em Portugal”, revela a plataforma, que continua a receber “classificações elevadas”, o que atesta a qualidade do serviço. “A Uber tem um sistema de avaliação contínua em que todos os utilizadores são convidados a avaliar a sua experiência no final de cada viagem. Isto permite-nos perceber o nível de satisfação com o serviço prestado e trabalhar para que as experiências de viagem dos nossos utilizadores sejam cada vez melhores”.
Já a Cabify diz que se tem “assistido a um crescimento interessante do número de turistas”, grande parte dos quais acabam por voltar a usar o serviço, com Nuno Santos a salientar que “a repetição na utilização do serviço” é o melhor indicador da satisfação dos clientes. “O melhor instrumento que temos na Cabify para medir o índice de satisfação é a repetição na utilização do serviço. E nesse ponto em particular podemos garantir que quem utiliza, incluindo os turistas, repete a experiência”, congratula-se Nuno Santos.
Garantir a satisfação dos turistas é uma preocupação para estas plataformas, uma vez que, como refere a UBER, “cada vez mais o mercado turístico é competitivo”, pelo que “já não basta termos cidades vibrantes e praias espantosas – temos de assegurar que quem nos visita tem a melhor experiência turística. E a mobilidade turística é uma peça fundamental dessa experiência”.
Plataformas também lançam serviços para turistas
Nas plataformas online de transporte individual de passageiros, a preocupação em lançar serviços que se adequem às necessidades dos clientes é bem visível e foi o que levou a Cabify a lançar o Cabify Travel, uma solução pensada para a hotelaria e agências de viagem, que permite chamar, de forma simples e rápida, através de um pedido imediato ou de uma reserva, um Cabify para os hóspedes e clientes, proporcionando “um serviço fiável e seguro, informando de antemão o valor da viagem e qual o percurso”, explica Nuno Santos. Além do Cabify Travel, a plataforma oferece ainda a possibilidade de requisitar uma recolha no aeroporto com cartaz, por forma a que o visitante possa identificar facilmente o seu motorista. Já a Uber lançou, nas últimas semanas, uma nova funcionalidade na aplicação, através da qual os clientes podem saber, no momento em que pedem uma viagem, quais os idiomas que o motorista fala, numa nova funcionalidade que, segundo a empresa, tem sido “particularmente apreciada pelos utilizadores estrangeiros”. Além desta nova funcionalidade, a Uber conta com um serviço de apoio 24horas, disponível na aplicação, expandiu recentemente a sua área de cobertura no Algarve e lançou uma nova opção de viagens partilhadas, o uberPOOL, em vigor durante os Festivais de Verão e ao longo de todo o mês de Julho, em Lisboa.
Lisboa tem opções de mobilidade para turistas
Os turistas que queiram conhecer Lisboa de transportes públicos podem optar pelo Lisboa Card, um cartão lançado pelo Turismo de Lisboa que permite circular gratuitamente nos transportes públicos, nomeadamente no Metro de Lisboa, nos autocarros e elevadores da Carris, e ainda nas linhas de comboio Sintra- Rossio e Cascais-Cais do Sodré da CP. O Lisboa Card inclui também a entrada gratuita em 28 museus e monumentos, bem como descontos em muitas outras atracções e equipamentos turísticos, tours, lojas de artigos portugueses, bem como locais e serviços de interesse turístico e cultural. O cartão está disponível em três modalidades, com a duração de 24, 48 ou 72 horas e pode ser solicitado online, através do visitlisboa.com ou nas lojas Ask Me e postos de turismo da cidade. Além desta opção, o Turismo de Lisboa lançou também o Taxi & Voucher, um serviço que permite a deslocação através de táxi, desde o aeroporto Humberto Delgado para qualquer ponto da cidade de Lisboa, do País ou mesmo para o estrangeiro, com garantia de tarifa fixa conforme o percurso seleccionado. Pode ser adquirido exclusivamente nas lojas Ask Me do Aeroporto – Chegadas, Ask Me Terreiro do Paço e Ask Me Palácio Foz.