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Opinião

Sol em fevereiro e chuva em julho…

As alterações climáticas, ao condicionarem a procura e, objetivamente, toda a operação turística (alicerçada num conjunto de outros serviços e áreas), põem em causa a sustentabilidade ambiental, económica e social de muitos territórios.

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Sol em fevereiro e chuva em julho…

As alterações climáticas, ao condicionarem a procura e, objetivamente, toda a operação turística (alicerçada num conjunto de outros serviços e áreas), põem em causa a sustentabilidade ambiental, económica e social de muitos territórios.

Sobre o autor
João Caldeira Heitor

Desde a minha infância e até à idade adulta, nas quatro estações (excetuando um ou outro dia), o estado do clima coincidia com o respetivo período do ano: chuva e vento no inverno; temperaturas amenas e a subirem na primavera; calor e sol no verão, e um outono a despedir-se com chuva e descida de temperatura para um novo ciclo.

Nas últimas duas décadas temos assistido a constantes variações climáticas nas diversas estações do ano: vagas de calor em períodos em que seria expectável haver frio, e chuva e vento em alturas em que seria normal existir calor.

Estes fenómenos, apelidados de mudanças climáticas – e sobre as quais os governos têm adotado medidas concentradas, maioritariamente, na descarbonização e na minimização dos impactos das tempestades nas grandes cidades, na agricultura e na segurança das pessoas (com maior relevância em países mais vulneráveis) – têm descurado as consequências destes fenómenos na atividade e na qualidade da atividade turística.

O denominado período da época alta (verão) tem registado, nos últimos anos, eventos extremos de chuvas, ventos e temperaturas baixas. Quem é que não se lembra de, recentemente, em julho ou em agosto, no Algarve, ocorrerem episódios desta natureza? E se o turista nacional estranha, imagine-se o inglês, o alemão ou o irlandês que viajou para o sul de Portugal à espera de encontrar o famoso sol e calor que os operadores turísticos e as campanhas publicitárias anunciam nos diversos canais de comunicação e promoção.

Obviamente que a repetição destas ocorrências cria um sentimento de receio relativo ao estado do tempo em diversos destinos turísticos, podendo mesmo consubstanciar-se em desilusão e frustração quando a experiência turística é condicionada por situações extremas (tempestades, furacões, inundações e incêndios florestais), levando à alteração dos padrões de viagens.

Para além das questões psicológicas nos turistas e nas comunidades recetoras, a própria resiliência das paisagens, o equilíbrio da biodiversidade e das infraestruturas turísticas estão a ser condicionadas por estes fenómenos, conduzindo à diminuição da atratividade de alguns territórios.

As alterações climáticas, ao condicionarem a procura e, objetivamente, toda a operação turística (alicerçada num conjunto de outros serviços e áreas), põem em causa a sustentabilidade ambiental, económica e social de muitos territórios.

Existindo esta “consciência” há diversos anos, estranha-se que só agora o setor associativo do turismo europeu se tenha reunido (em Rhodes). Deste encontro resultou uma declaração conjunta que refere como essencial a colaboração e o auxílio ao turismo, no domínio da sustentabilidade, num apelo direto à União Europeia, requerendo que este setor se mantenha “no topo da agenda política, com a criação de linhas de orçamento específicas para iniciativas turísticas sustentáveis”.

Dos seis pontos que constam na dita declaração, para além das questões transversais que incidem sobre planos de ação climática abrangentes, minimização de impactos ambientais e mais e melhores práticas que contribuam para o processo de descarbonização, somente o último ponto (6) se centra na relevância da atividade turística ao referir que “é essencial que os destinos turísticos adotem medidas de adaptação e mitigação, assim como de desenvolver infraestruturas resistente ao clima, promover práticas de turismo sustentável e diversificar as atividades turísticas para reduzir a dependência de uma única estação ou condição climática”.

Ainda que estas questões só venham a adquirir maior relevância quando forem assumidas pela União Europeia, a nível nacional (empresários, autarcas, entidades de turismo e governo) importa repensar, reprogramar e reforçar diversas estratégias de atuação (individuais e conjuntas). Presentemente, desconhece-se o documento oficial que veio substituir o Plano de Turismo + Sustentável (20/23). Importa recordar que este documento contemplava, como objetivo primeiro, “posicionar Portugal como um dos destinos turísticos do mundo mais sustentáveis, competitivos e seguros, através do planeamento e desenvolvimento sustentável das atividades turísticas, do ponto de vista económico, social e ambiental, em todo o território e em linha com a Estratégia Turismo 2027”.

Mesmo sabendo que não controlamos o tempo, mas que podemos mitigar os impactos das mudanças climáticas através de uma objetiva política de sustentabilidade (concertada entre todos os atores da atividade turística), há que conhecer o resultado da avaliação das medidas propostas e implementadas nestes últimos anos no Plano de Turismo + Sustentável (20/23) e aferir que metas e que estratégias se vão desenvolver a curto e médio prazo. Até porque o tempo, não para, de mudar.

Sobre o autorJoão Caldeira Heitor

João Caldeira Heitor

Coordenador Científico da Licenciatura em Gestão do Turismo do ISG – Instituto Superior de Gestão
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