Douro: crescer em valor sem perder a alma
O turismo fluvial e o enoturismo surgem como fortes atividades económicas, que geram emprego, atraem investimento e valorizam o território, potenciando igualmente atividades que suportam estas duas áreas de negócio.

A Região Demarcada do Douro é um dos destinos mais emblemáticos de Portugal. Contudo, o aumento da pressão sobre os recursos da região, impulsionada pelo tão aguardado – quanto necessário – aumento do turismo fluvial e do enoturismo, coloca novos desafios que exigem uma reflexão estratégica.
Discordando de quem considera que o Douro tem excesso de turistas, é inequívoco que esta importante oportunidade de crescimento da região não está a ser a ser gerida com a atenção necessária. Um modelo de turismo que promova o crescimento desordenado pode gerar impactos negativos, como a descaracterização da paisagem, o aumento da pressão sobre os recursos naturais e a concentração dos benefícios económicos em poucos agentes.
O Douro é um exemplo vivo de como o turismo se tornou uma alavanca para a revitalização e valorização da região, mundialmente conhecida. O turismo fluvial e o enoturismo surgem como fortes atividades económicas, que geram emprego, atraem investimento e valorizam o território, potenciando igualmente atividades que suportam estas duas áreas de negócio. Porém, as regiões do interior enfrentam o despovoamento, a falta de habitação e naturalmente alguma retração por parte das comunidades face a este crescimento turístico.
Assim, a aposta deverá passar por um turismo que apoie diretamente o desenvolvimento da identidade da região e beneficie as suas comunidades locais, privilegiando a qualidade e a exclusividade. Mas subsistem problemas que só com políticas de descentralização de poder, diminuição de burocracia e planeamento e ordenamento do território poderão ser ultrapassados.
A Região Demarcada do Douro deve posicionar-se como um destino para visitantes que valorizam o que a região tem para oferecer, que procurem experiências autênticas, personalizadas e sustentáveis. Este modelo não só atrai mercados de alto rendimento, como também contribui para estadias mais longas e maior interação com os produtos e serviços locais.
O atual tempo médio de estadia de um turista no Douro é inferior a um dia, claramente insuficiente para conhecer verdadeiramente o destino, um destino que tem já força suficiente para se promover como uma região única e completa.
Não raras vezes, a Pipadouro é contactada por turistas que estão alojados no Porto e que pretendem visitar por exemplo três quintas no mesmo dia, a partir do Pinhão, e regressar até final da noite à cidade Invicta. Sabemos, por experiência própria, que tal é impossível. Independentemente do perfil do cliente, ele irá envolver-se de tal forma na primeira experiência que nem quererá avançar para as seguintes. Essa qualidade do destino, a riqueza das experiências que proporciona, reforça a convicção de que devemos investir em clientes de alto rendimento, que permaneçam na região por duas ou mais noites.
O Douro é um destino que exige calma, que deve ser descoberto sem pressa, sem barulho, sem filas. Para sentir a sua história, a sua natureza, entender as suas tradições e escutar as vozes de quem ali vive. E isso garante-se com exclusividade, qualidade e tempo na região.
Para que a Região Demarcada do Douro continue a ser um motor do desenvolvimento do interior, é necessário adotar um trabalho em rede, parcerias de confiança e políticas que conciliem crescimento económico, sustentabilidade ambiental e valorização cultural. Apostar na formação das comunidades locais, apoiar projetos inovadores e limitar o impacto ambiental do turismo são passos fundamentais para garantir que a região permaneça vibrante e atrativa.
O Douro pode afirmar-se como um modelo de turismo de interior, onde a exclusividade e a autenticidade andam de mãos dadas com o respeito pelo território e pelas suas gentes. Com visão e compromisso, podemos assegurar que o crescimento do enoturismo e do turismo fluvial sejam uma força transformadora, tanto para os visitantes como para as comunidades locais.
Dessa forma, estaremos alinhados com as tendências de crescimento do turismo, mais especificamente do turismo de luxo e ultraluxo. De acordo com estudos apresentados em 2024, quem viaja procura – cada vez mais – experiências únicas, autênticas, fortemente ligadas às comunidades locais, às regiões interiores que permitem a ligação dos sentidos com a natureza, que promovam “slow experiences” e o lado simples do luxo, seja ele do serviço, do alojamento ou da experiência. E todos nós sabemos que o interior de Portugal é rico no que diz respeito à história, tradição, gastronomia e acolhimento.