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Opinião

A experiência mais genuína – fugir do digital

Acredito que a inovação na oferta de serviços seguirá este caminho.

Opinião

A experiência mais genuína – fugir do digital

Acredito que a inovação na oferta de serviços seguirá este caminho.

Sobre o autor
Luís Borges Gouveia

Vivemos um tempo em que quase tudo implica o uso do telemóvel para as mais diversas operações. Desde a verificação de informação ao pagamento de serviços com inscrição ou compra de bilhetes numa qualquer plataforma digital. Tudo muito conveniente, rápido e fácil.

Também o setor do Turismo e, muito bem, abraçou esta onda digital que teve impacto nos operadores e ondas de choque em todo o sistema. Desde logo, revolucionou o transporte aéreo e o alojamento, alterou o papel e a importância das agências de viagens e empoderou muitos operadores turísticos, independentemente da sua escala ou serviço oferecido. O digital é assim, uma presença constante na nossa sociedade e é difícil de contornar o seu uso e exploração, quer no papel de quem consome ou oferece serviços.

Desde logo, aparenta ser uma situação de ganha-ganha, para todos os implicados. Quem consome, tem acesso em qualquer lugar, a qualquer hora, de um modo conveniente conforme já defendido. Quem oferece, tem ganhos associados à escala e à desintermediação de serviços bem como lucrar com a obtenção de inúmeros dados para realizar uma analítica posterior, além dos inerentes ganhos de produtividade. Tudo o processo se conjuga para assistirmos à transformação digital e a uma mudança na operação e nos operadores em Turismo, tal como acontece em muitos outros setores da nossa sociedade – algo que verdadeiramente já ocorre e se intensifica ao longo destes anos, ainda antes do recrudescimento do uso destes meios por efeito da pandemia que ocorreu recentemente. Os tempos mais recentes tem aumentado a base de utilizadores e tornado mais universal o uso do telemóvel e de meios digitais como forma de interação.

No entanto, esta aceleração no tempo e na pressão que o digital provoca nas pessoas e nas empresas, tem criado um conjunto de comportamentos não desejáveis que tem contribuído para uma diminuição da qualidade de vida e para o aumento da ocorrência de problemas de saúde mental. Existe assim uma oportunidade que emerge: a de criação de experiências que nos proporcionem um afastamento do digital e que nos reconciliem com a nossa dimensão humana, sem recurso constante ao digital.

Não se trata de natureza ou praia, de um registo mais cultural ou religioso, ou tão pouco de condicionar a visita de localidades ou cidades ou ainda a exploração do que são as atrações mais relevantes em cada destino turístico. O que está em causa é a pureza analógica da experiência, o retorno à exploração física e o contato com o não digital, para cada indivíduo e entre indivíduos, explorando assim a redescoberta de um mundo além do digital e o descanso do uso de meios e serviços digital a que estamos condenados no contexto das nossas atividades profissionais e mesmo no dia-a-dia.

Emerge assim o potencial de realização de um tempo de descanso, férias ou retiro, em que se proporcione um detox digital, onde pessoas e famílias possam redescobrir (por vezes mesmo, para os mais novos, descobrir) o uso e exploração de espaços e tempos exclusivamente humanos. Não apenas ou só a natureza, mas sim conosco próprios enquanto habitantes de um tempo e espaço analógico.

Existe assim uma nova oportunidade, o de proporcionar experiências analógicas que nos aproximem da nossa dimensão humana. Para uns, talvez os mais velhos, será uma terapia e um tempo de retirada de pressão; para outros, os mais digitais e novos, um tempo de descoberta de como não depender de meios que os mantem próximos do que desejam, independentemente das restrições de tempo e espaço e, nesse sentido, também um tempo de aprendizagem e de desafio. Para todos, uma oportunidade de usufruírem do aqui e agora de uma forma que se está a tornar cada vez mais complexa e difícil.

Como e onde aplicar estas oportunidades? Temos alguns exemplos que emergem como experiências únicas, como a ida a banhos numa praia de águas quentes, ou a visão do por do sol, no jardim do morro, com o Porto como pano de fundo. Ou ainda, a exploração de um restaurante temático numa das capitais europeias, entre elementos da família e sem a presença dos quase inevitáveis meios digitais, com o telemóvel à cabeça: que oportunidade para partilhar pensamentos, olhares e troca de palavras que vão tornar verdadeiramente memorável o momento.

Estamos assim perante uma oportunidade de criação de experiências que libertem as pessoas das amarras que elas próprias impuseram, no uso cada vez mais generalizado de meios digitais. Essas experiências vão ser memoráveis e libertadoras e podem tornar os momentos de lazer uma experiência única e genuína, no sentido mais humano do termo.

Acredito que a inovação na oferta de serviços seguirá este caminho. E que quer em segmentos mais populares ou de maior luxo, será grande a procura pelo que cada vez mais todos nós, de algum modo, ansiamos: um tempo para fugir ao digital.

Sobre o autorLuís Borges Gouveia

Luís Borges Gouveia

Professor Catedrático na Universidade Fernando Pessoa
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