Reportagem: Na (Re)Descoberta do Gerês
Destino aposta na criação de oferta turística que promova a autenticidade e o usufruto do que a natureza oferece de forma sustentada.
Raquel Relvas Neto
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Não será ousado afirmar que as nossas prioridades sofreram uma grande alteração neste último ano. As limitações e constrangimentos a que nos vimos obrigados impactaram negativamente nas nossas vidas, mas se virmos o copo meio cheio, também tiveram um impacto positivo nas mesmas. Se com o anúncio da pandemia tivemos de nos fechar nos nossos apartamentos com varandas minúsculas em cidades que outrora sofriam atropelos de tanta gente que preenchia as suas artérias e que, num abrir e fechar de olhos, se tornaram quase cidades fantasmas, com o anúncio do desconfinamento ou do período diário em que podíamos fazer um passeio, que alguns apelidaram de “higiénico”, quem não procurou o parque verde mais próximo do seu bairro ou, com sorte, a serra que por acaso também se incluía no concelho? Quem não fez as malas e partiu à descoberta do interior de Portugal, dos seus espaços verdes e das imponentes serras e parques naturais?
As ambições alteraram-se e reconectar com o que nos rodeia passou a ser uma prioridade, sobretudo numa procura intensa por espaços ao ar livre e num contacto direto com a Natureza. As serras e parques naturais, de norte a sul do país, encheram-se de portugueses que procuravam ali poder reconectar-se com o mais simples da vida e respirar, finalmente, ar puro tranquilamente.
Este ano, com as regras que nos são impostas nas idas tradicionais às praias da vasta costa portuguesa ou com os constrangimentos que ainda existem para viajar para destinos internacionais, a tendência que se verificou no verão passado tende a repetir-se.
Foi por isso que subimos a norte do país, à região do Minho para descobrirmos o Parque Nacional Peneda-Gerês e o estado da sua atual oferta turística. Um destino que vai, certamente, voltar a estar nas preferências de férias deste ano.
A 1h30 de automóvel da cidade do Porto, o concelho de Terras de Bouro está inserido no único parque nacional português e no projeto transfronteiriço Raia Termal, o Parque Nacional Peneda-Gerês. Os tons de verde da vasta vegetação e de azul das lagoas, cascatas e praias fluviais são os principais anfitriões deste destino que nos abraçam à chegada em cada canto.
Ali encontramos um rol de atividades que respondem facilmente às várias preferências e necessidades de cada turista. Turismo de aventura, turismo náutico, turismo de natureza ou turismo termal são algumas das muitas possibilidades que encontramos neste destino.
Natureza em estado puro
Se muitos já foram ao Parque Natural Peneda-Gerês como visitantes, está na altura de irem como turistas e desfrutarem de uma experiência mais agradável. Alojar-se numa das unidades sugeridas (ver caixa pp.12) e reservar as atividades turísticas com uma empresa de animação turística da região, como a GerêsMont (ver caixa em baixo) é o recomendável. Canyoning, canoagem, passeios a cavalo ou de todo-o-terreno, passeios aquáticos ou percorrer os mais diversos trilhos do parque são algumas das sugestões de atividades que se podem ali encontrar. Basta escolher, pois todas promovem uma conexão à natureza e água que são as estrelas desta viagem.
Comecemos por um passeio de barco na albufeira da Barragem da Caniçada – Rio Cávado com partida da marina de Rio Caldo. O município de Terras de Bouro tem um barco próprio que proporciona passeios de uma hora diariamente no verão. Com preços acessíveis (6€), o passeio permite ter uma perspetiva do que rodeia a albufeira, desde as atividades naúticas ali possíveis, à beleza circundante até à Basílica de S. Bento de Porta Aberta, segundo maior santuário português que atrai, anualmente, milhares de peregrinos, sobretudo nos dias de festa a 21 de março e 11 de julho, mas também a 12 e 13 de agosto.
Mas se as preferências recaírem por algo mais distinto e único, nada como ir ao encontro das famosas cascatas ou dos poços dignos de um quadro memorável. O Poço Azul, cujo trilho para lá chegar mostra-nos uma montanha mais árida, local de pastoreio das raças autóctones, mas igualmente belo, é um pouco moroso e aconselhável para quem tenha uma boa resistência física. A meta final vale bem a pena, sobretudo para encontrar uma água cristalina onde se pode refrescar do calor que ali se faz sentir. Por ser um local bastante fotogénico, aconselha-se a ir bem cedo antes que fique repleto de pessoas que procuram também usufruir daquele cenário.
Mas ao Poço Azul juntam-se outras cascatas igualmente fotografáveis, como a Cascata de Fecha de Barjas, também conhecida por Cascata Taiti devido aos seus tons forte de azul ou a Cascata do Arado, local eleito para a atividade de canyoning. A Portela do Homem ou até mesmo os percursos de água que encontramos na Mata da Albergaria, considerada o coração do parque natural e distinguida como uma das Reservas Biogenéticas da Europa.
Os trilhos são também um ex-libris do destino muito procurados pelos amantes de montanhismo. Miradouros, moinhos e regadios tradicionais, São Bento, Geira, Silhas dos Ursos são vários os temas que dão mote aos trilhos disponíveis no destino. Com vários graus de dificuldade de percurso, estes trilhos dão a conhecer mais profundamente os recantos com que o parque natural nos presenteia, sempre acompanhados e refrescados pela água cristalina do Gerês que se encontra num qualquer curso de água ou numa das variadas fontes dispersas. Para fazer um dos trilhos, o mesmo pode ser acompanhado por um guia que conhece os mesmos ou de forma isolada, tendo em conta que o destino dispõe de um guia completo e com várias indicações e mapa que pode ser descarregado por QR Code.
Apreciar a beleza e imensidão do destino também está ao alcance de quem não quiser arriscar no esforço físico. Algumas das cascatas estão junto a estradas alcançáveis por automóvel, mas também alguns dos miradouros são de fácil alcance como o Miradouro de S. Bento, dando uma perspetiva da grandiosidade das paisagens deste destino.
Cultivar o conhecimento
É na Porta do Campo do Gerês, uma das cinco portas do Parque Nacional Peneda-Gerês, que se pode visitar o Museu da Geira e o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, ideais para se poder compreender o que se pode encontrar ao longo da estada e da descoberta do parque e das suas vilas e aldeias. Afinal, o património ambiental do destino acolhe um património histórico que vai desde a pré-história, passando pelo Império Romano, invasões bárbaras, idade média até aos dias de hoje, por isso, são vários os vestígios que se podem encontrar ao longo da visitação, como por exemplo os marcos miliários que remontam à época dos romanos.
Enquanto o Museu da Geira, remonta a alguns séculos atrás para a época em que os romanos ali construíam as Vias Romanas e os respetivos edifícios de apoio às mesmas, o Museu Etnográfico recria a aldeia comunitária que ficou submersa pelas águas da barragem de Vilarinho da Furna, inaugurada em 1972. Das lides domésticas ao trabalho no campo, são vários os artefactos que nos demonstram como era o dia-a-dia daquela aldeia e das suas gentes. Devido à construção da barragem toda a aldeia foi comprada, bem como terrenos agrícolas e florestais por pouco mais de vinte mil contos, obrigando à dispersão dos seus habitantes pelos vários concelhos circundantes, como Terras de Bouro, Vieira do Minho, Amares, Póvoa do Lanhoso, entre outros, para ali recomeçarem as suas vidas.
Saúde e Bem-estar
Para quem quiser relaxar após uma caminhada pelos vários trilhos ou apenas cultivar um corpo são em mente sã, as Termas da Água do Gerês apresentam soluções para as mais diversas faixas etárias. Longe vão os tempos em que as termas estavam conotadas para usufruto apenas da terceira idade. Hoje em dia, e com a saúde e bem-estar a ganhar cada vez mais destaque, as termas passaram a fazer parte do roteiro de férias ou escapadelas dos mais jovens.
As termas da Água do Gerês apresentam um novo espaço termal que concilia termas e Spa, onde se pode usufruir de duches, hidromassagens, saunas, piscina dinâmica, massagens terapêuticas ou de relaxamento, tratamentos de estética e beleza. Os programas terapêuticos das termas têm como base a Água do Gerês, conhecida pelas suas características únicas, como o pH elevado de 9.1, marcadamente alcalino e característico de água sulfúrea, mas esta sem enxofre no seu estado mais reduzido de sulfureto, o que lhe permite ser uma água límpida e sem cheiro. Estas são indicadas para tratamento do fígado e vesícula; obesidade; diabetes; hipertensão arterial e reumatismos. Para tal, as Termas do Gerês criaram um Centro de Nutrição no qual, além do acompanhamento da dieta, a chamada Dieta Geresiana, durante o tratamento termal, se promove a criação de hábitos alimentares e prática de exercício físico. Esta dieta é também acompanhada no Hotel Água do Gerês, do outro lado da rua das termas, se o cliente ali tiver hospedado.
Para quem não estiver a fazer Dieta Geresiana, nas redondezas o que não falta são locais para bons repastos. A gastronomia minhota é farta e forte no apelo ao paladar. Seja o cozido de porco com couves ao cabrito assado de origem biológica da Serra do Gerês ou até mesmo a uma costela de vitela, opções não faltam. A Adega do Ramalho, perto do parque “Banco do Ramalho” que está a ser alvo de obras de reabilitação no âmbito do projeto transfronteiriço Raia Termal, é uma das sugestões de espaços gastronómicos para desfrutar de uma saborosa refeição tradicional.
É em Brufe, um verdadeiro museu vivo onde as tradições são preservadas, que encontramos o restaurante o Abocanhado que nos presenteia com uma vista para apreciar um pôr-do-sol sob o vale do rio Homem junto à serra Amarela.
Já mais perto do Gerês, o Cantinho do Antigamente é um espaço acolhedor onde os sabores autênticos e locais com os parceiros da região são promovidos e dados a experienciar.
Depois deste passeio pelos sabores e paisagens deslumbrantes do Gerês, constata-se que as mais-valias do turismo em Portugal continuam cá após pandemia e prometem manter-se atrativas para quem nos visita. Contudo, há que preparar o território para tornar a experiência turística que se pretende proporcionar ainda mais agradável, seja a visitantes, turistas como até aos próprios residentes. A beleza do parque nacional, à semelhança de tantos outros destinos espalhados pelo país, só teria a ganhar se visse reforçada aspectos como sinalizações adequadas, parques de estacionamento e outras soluções de gestão de fluxos que podem ser adoptadas para evitar congestionamentos que foram frequentes no verão passado e construir um destino cada vez mais sustentável a longo prazo.
GerêsMont
A Geresmont é uma empresa de animação turística, sediada no coração do Parque Nacional da Peneda Gerês, na Vila do Gerês, que tem como principal atividade Desporto de Aventura, trabalhando na promoção e organização de eventos desportivos e de lazer. Promover uma aproximação do turista ao meio natural é o ojetivo primordial das atividades desta empresa de animação turística, sempre tendo em conta o respeito pelo meio ambiente e o desenvolvimento sustentado do destino que é cenário das atividades que organiza.
Onde ficar
Água do Gerês Hotel, Termas e Spa
Situada no centro da Estância Termal, em plena Vila do Gerês, esta unidade de três estrelas foi recentemente remodelada e apresenta espaços que mantêm o charme do passado aliado à modernidade. Com 56 quartos, dos quais duas suites, salas de reuniões e jogos, bar, um parque com quatro hectares e piscinas exteriores, o Hotel Água do Gerês conta ainda com o restaurante Refúgio do Gerês, no qual se pode desfrutar de iguarias regionais, onde se destaca o delicioso cabrito assado, e internacional. A unidade hoteleira tem o cuidado de interligar e coordenar o alojamento e as refeições, a Dieta Geresiana com os tratamentos termais e programas de spa.
Hotel Agrinho Suites & Spa
O Hotel Agrinho Suites & Spa é uma unidade hoteleira completamente integrada na paisagem do Gerês e com vista desafogada sobre a albufeira da Caniçada e a montanha. O hotel conta com quartos standard, superiores com terraço ou varanda e suites com uma decoração simples e moderna, mas são os seus espaços exteriores que cativam o tempo de permanência da estada, seja na sua piscina exterior ou na interior, como nos jardins que descem até à albufeira nos quais se pode desfrutar da tranquilidade envolvente. A unidade conta com estacionamento privativo, um spa e um restaurante panorâmico que presenteia com vista também para a albufeira.
Para famílias numerosas ou grupos de amigos, o hotel conta com a Casa do Lago, com capacidade até seis pessoas, e a Casa do Moinho com capacidade até quatro pessoas. Ambas têm acesso aos serviços do hotel e pequeno-almoço incluído.
*A jornalista viajou a convite do Município de Terras de Bouro