Conheça os 10 desafios que a aviação enfrenta com a retoma das viagens
Pilotos ‘enferrujados’, episódios de ‘raiva aérea’ em ascensão ou o aumento dos custos são alguns dos desafios identificados pela seguradora Allianz, num novo relatório sobre o futuro da aviação.
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A seguradora Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS) elaborou um novo relatório sobre o futuro da aviação, no qual identifica os 10 desafios que o setor enfrenta com o regresso das viagens aéreas, depois de vários meses de paragem e redução da atividade, provocada pela pandemia da COVID-19.
“Os desafios, sem dúvida, vão surgir à medida que a indústria se preparar para descolar novamente. Embora seja difícil prever exatamente em que forma a aviação voltará, uma coisa é certa – ela estará diferente”, destaca Dave Warfel, diretor regional de Aviação da AGCS, citado num comunicado enviado à imprensa.
Um dos principais desafios com que as companhias aéreas têm de lidar, alerta a seguradora, é consequência direta da paragem provocada pela pandemia, uma vez que os pilotos estão enferrujados e têm reportado alguns erros, o que obriga as companhias aéreas a tomarem medidas e a lançarem programas de treino para que os pilotos voltem ao serviço com mais confiança.
O relatório da Allianz aponta ainda os episódios de ‘raiva aérea’ e o comportamento indisciplinado dos passageiros como “mais uma preocupação”, principalmente nos EUA, onde os problemas com passageiros que não querem usar máscara a bordo se têm vindo a multiplicar, com a seguradora a revelar que, num ano normal, existem cerca de 150 episódios de transtorno de passageiros em aeronaves, mas, só em junho deste ano, foram contabilizadas 3.000 situações, de acordo com a Administração Federal de Aviação norte-americana.
Outro dos desafios está relacionados com os danos causados pela paragem das frotas, seja ao nível dos estragos causados por eventos climáticos, como tempestades de granizo e furacões, ou devido a incidentes no solo, com a Allianz a alertar que houve “uma série de colisões no início da pandemia, quando os operadores transferiram as aeronaves para instalações de armazenamento” e que “é provável que haja mais incidentes quando as aeronaves forem movimentadas novamente antes de reiniciarem os seus voos”.
A escassez de pilotos é outro dos desafios apontados pela Allianz, com a seguradora a alertar que, quando a atividade voltar aos níveis do passado, vai regressar também a escassez de pilotos, o que aumenta o risco de vermos “pilotos a operar aeronaves comerciais com qualificações limitadas e baixo tempo de voo em geral”.
Ao nível dos aviões, a Allianz fala ainda num aumento de custos, uma vez que muitas companhias aproveitaram para renovar e redimensionar as suas frotas, passando a contar com aviões mais modernos e eficientes, que, no entanto, levam a um aumento de custos já que, devido aos “novos materiais, como compostos, titânio e ligas são mais caros de reparar, resultando em custos mais altos de sinistros”.
O relatório da Allianz fala ainda no segmento de carga, que se espera que continue a crescer, assim como nas viagens de negócios, que devem ter uma recuperação mais lenta, já que muitas viagens corporativas foram substituídas por reuniões virtuais, ainda que a seguradora destaque que “algumas áreas da aviação executiva mostraram-se resilientes durante a pandemia”, tendo mesmo existido um aumento das viagens charter.
Para a Allianz, motivo de risco é também o lançamento de novas rotas aéreas que, este ano, se multiplicam na Europa e na Ásia, ainda que reconheça que esta novas rotas, muitas das quais para aeroportos secundários, “significam menor congestionamento no espaço aéreo e nos aeroportos, o que pode ter um impacto positivo sobre os riscos”,
Já o tempo de paragem dos aviões pode ser sinónimo de outro fator de risco, já que, como diz a Allianz, existe um maior risco de “infestações por insetos que afetam a precisão dos instrumentos”, tendo já sido reportados diversos problemas relacionados com “ninhos de insetos não detetados dentro dos tubos pitot da aeronave, sensores sensíveis à pressão que alimentam um computador aviónico com dados”.
Apesar de todos o desafios, a COVID-19 trouxe outra grande desafio, o de evitar que a paragem aumente o número de sinistros na aviação, o que, segundo a seguradora, não se tem verificado.
“A COVID-19 não foi um condutor direto de sinistros na aviação durante o ano passado. Como resultado da redução significativa nas viagens comerciais de companhias aéreas durante a pandemia, vimos menos notificações de acidentes de aviação do que veríamos durante um ano típico,” diz Cristina Schoen, diretora global de Sinistros na AGCS.
O relatório da seguradora envolveu a análise mais de 46.000 sinistros de seguros de aviação de 2016 até ao final de 2020, no valor de mais de 14,5 mil milhões de euros (17,3 mil milhões de dólares) e mostra que os incidentes de colisão/acidente representam mais da metade do valor de todos os sinistros.