“Há uma grande fidelidade do turista luso por Espanha e vice-versa”
O Publituris falou com Yolanda Martínez Cano-Cortés, Conselheira de Turismo da Embaixada de Espanha em Portugal, para saber que estratégia possuem “nuestros hermanos” para o nosso país.
Victor Jorge
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Portugal e Espanha têm no turismo um dos eixos principais para as suas economias. O Publituris falou com Yolanda Martínez Cano-Cortés, Conselheira de Turismo da Embaixada de Espanha em Portugal, para saber que estratégia possuem “nuestros hermanos” para o nosso país.
Os pratos da balança colocam Portugal em vantagem quando comparado com a vizinha Espanha, quer em hóspedes, dormidas e receitas. Com o turismo doméstico e regional/proximidade a ser dado, por muitos, como aquele que mais rapidamente e, em primeiro lugar, será alvo de retoma, falar com a responsável pelo turismo espanhol no nosso país é obrigatório. Com o ano de 2020 a mostrar quebras superiores a 70% em praticamente todas as alinhas, Portugal poderá representar um eixo importante para as contas do turismo em Espanha.
O mundo inteiro tem estado em sobressalto há mais de um ano devido à COVID-19. É sabido das dificuldades que diversos países têm atravessado, com destaque para a indústria do turismo desses mesmos países. Que impacto efetivo teve e tem tido esta crise pandémica no turismo em Espanha?
A pandemia teve um importante impacto no turismo em Espanha, à semelhança de outros países, pois limitou seriamente a mobilidade e as chamadas deslocações não essenciais como podem ser as turísticas. As entradas de turistas decresceram 77%, em 2020, face ao ano anterior, e as receitas turísticas desceram, também, 77%. Como se pode constatar o impacto foi muito forte.
Espanha deixou de estar no radar de quem viaja?
Acho importante referir que estes factos não afetaram nem a marca turística Espanha, nem a vontade de viajar ao nosso destino de qualquer mercado em geral e particularmente o português. Entende-se que a dificuldade em viajar não se deve a defeitos estruturais da oferta turística, mas sim a um problema de saúde pública mundial, pelo que estamos certos que haverá uma recuperação das viagens para Espanha do mercado emissor português tão depressa seja possível viajar novamente. Na realidade, já estamos a observar um aumento na procura de viagens para o nosso destino para a temporada de verão e, inclusivamente, para o outono.
“Já estamos a observar um aumento na procura de viagens para o nosso destino para a temporada de verão e, inclusivamente, para o outono”
É só fazer contas
Mas fazendo contas, em quanto é que a economia espanhola foi impactada com este ano de pandemia COVID-19? Quanto pesa, efetivamente, a indústria do turismo no PIB espanhol? E em receitas, turistas, dormidas, empregos, etc.?
O ponto de referência para estas magnitudes foi 2019, com 83,7 milhões de turistas internacionais e uma receita de 92.337 milhões de euros. Nesse ano, o turismo contribuiu com 2,4 milhões de afiliados para a Segurança Social, o que representou um crescimento de 3,2% em termos relativos, e 75.026 trabalhadores. Em 2019, o turismo aportou 23,3% ao PIB e 12,7% do emprego em Espanha.
Em 2020, todos estes parâmetros sofreram uma descida na linha do que já referi, mas estamos num ano crítico que não pode ser tratado como referência quanto ao peso do turismo em Espanha nem em nenhum outro país. O turismo recuperará quando a mobilidade o faça e poderemos chegar a ter magnitudes similares a de anos prévios à pandemia.
Mas quanto tempo julga ser necessário até o turismo em Espanha regressar a números de 2019?
Todos gostaríamos de ter uma resposta a essa pergunta, mas, infelizmente, neste momento, não é possível, pois depende da evolução da pandemia e das campanhas de vacinação que não são assuntos estritamente turísticos, mesmo tendo uma repercussão na indústria das viagens.
Por outro lado, a pandemia provocará, provavelmente, mudanças na forma de viajar, mas ainda é cedo para saber quais serão. Neste momento, observamos mudanças como as viagens de proximidade e a preferência no consumo por produtos de natureza ou a utilização de transporte individual, mas ainda é cedo para saber quais deles são conjunturais e quais poderão ser considerados o início de uma tendência que perdurará no tempo. Estas alterações, uma vez se consolidem, incidirão também na recuperação do turismo de uma forma que ainda não sabemos. A flexibilidade da oferta para se adaptar às mudanças e a capacidade de resposta das políticas públicas turísticas serão igualmente decisivas na recuperação.
Há relativamente pouco tempo, a Comissão Europeia deu luz verde para o “Certificado Verde Digital”. Espanha já se tinha posicionado com um projeto-piloto nesse sentido e alarga agora às Baleares e Canárias. Que passos estão a dar nesse sentido e como olha para esta decisão da UE?
A Comissão Europeia aprovou a criação de um certificado de vacinação COVID, uma espécie de passaporte que servirá para saber se uma pessoa em concreto já foi vacinada, se já foi testada com um teste PCR ou conhecer qualquer outro vínculo relacionado com o Coronavírus. A temporada de verão é muito importante e as autoridades espanholas trabalham para que esteja disponível nessas datas, com o objetivo de conseguir uma mobilidade mais segura.
O vizinho do lado
Como é que Espanha olha para o vizinho Portugal no que toca ao turismo? Quanto pesa Portugal no turismo espanhol? E será esta a oportunidade do Turismo Espanhol aumentar a sua influência junto dos operadores portugueses?
O turismo português é importante para Espanha. Em 2019, foi o oitavo mercado emissor de turistas para Espanha e, em 2020, com todas as suas peculiaridades, foi o sexto mercado emissor. Mesmo nesse ano, com tantas limitações, e em que as entradas de portugueses desceram 68%, tivemos mais de 762.000 entradas desde Portugal, o que representou uma quota de 4% do total de entradas de turistas internacionais. Mas a importância do mercado português não se traduz só em números.
Traduz-se numa boa vizinha?
Há uma grande fidelidade do turista luso por Espanha e vice-versa. Os portugueses conhecem Espanha e repetem uma e outra vez. Para além da proximidade geográfica existe uma proximidade cultural e, inclusivamente, a língua tão percetível que faz que os portugueses se sintam confortáveis e entendam o património cultural, as tradições e o estilo de vida. Interessam-se pelas praias do Mediterrâneo, mas, sobretudo, interessam-se pelo património cultural, pelas cidades, pela gastronomia e as compras.
“O desejo de viajar não é suficiente, há que poder comprar os elementos que configuram uma viagem”
Nesse aspeto, que importância possuem os operadores turísticos?
Os operadores turísticos são fundamentais para canalizar as viagens e pela sua função de prescritores, razão pela qual a Delegação Oficial do Turismo Espanhol mantém uma estreita e permanente colaboração com todos eles desde há muitos anos.
O desejo de viajar não é suficiente, há que poder comprar os elementos que configuram uma viagem e poder deslocar-se e para isso é imprescindível que existam operadores turísticos. É importante que uma vez superada a crise, se mantenha a ligação e os canais de compra das viagens, isto é, manter de pé o tecido produtivo da indústria de viagens para que possamos reativar os fluxos.
Como atrair o turista português?
Que ações de promoção vão ser realizadas pelo Turismo de Espanha em Portugal?
A promoção turística de Espanha em Portugal vai realizar-se basicamente através de três linhas de atuação: a promoção através de meios de comunicação, dando a conhecer ao público em geral os produtos e destinos espanhóis; a promoção mediante campanhas de publicidade de Espanha como destino turístico; e, em terceiro lugar, a colaboração com operadores para aumentar e melhorar a presença dos destinos espanhóis dentro da sua oferta.
Para a promoção de produtos e destinos concretos teremos que esperar que se abra a possibilidade de viajar de forma cómoda e segura. No entanto, Espanha já implementou desde o final de 2020, a campanha “Travel Safe” na qual informamos o turista da situação da mobilidade em Espanha, em cada Comunidade Autónoma, através do site spain.info. Neste momento, não há viagens turísticas, mas queremos que logo que sejam retomadas, Espanha seja considerada um destino no qual se cumprem as normas de saúde pública em termos de viagens.
“A pandemia provocará, provavelmente, mudanças na forma de viajar”
Em sua opinião, os “primeiros passos” na retoma do turismo serão dados na vertente doméstica e regional a recuperar primeiro?
Tanto em Espanha como em todos os outros países, o turismo interno será o primeiro a recuperar, seguido pelos mercados internacionais de proximidade. Neste sentido, acreditamos que Portugal mostrará uma rápida recuperação nas viagens relativamente a Espanha, logo que estas sejam possíveis.
A falta de viagem a Espanha não se deve a um problema de oferta, mas sim a limitações de mobilidade por razões sanitárias, pelo que a presença do turismo português em Espanha recuperar-se-á logo que seja possível viajar e será quase ao mesmo ritmo e tempo do que as viagens dos espanhóis pelo seu próprio país.
A FITUR está aí à porta. Que papel poderá ter a feira, anunciada para maio, nessa estratégia de promoção de Espanha?
A celebração da FITUR é uma boa notícia, porque permite mostrar ao mundo que Espanha continua a ser um destino de qualidade e seguro, mesmo nas atuais circunstâncias.
Acresce que a FITUR será uma montra global para debater iniciativas como os passaportes sanitários, os corredores turísticos, as provas de diagnóstico, etc.. Mas ao mesmo tempo, representa, também, um marco para o setor turístico que encara 2021 com otimismo pela chegada das vacinas que oferecem um horizonte para a reativação das viagens.