Segmento das autocaravanas está otimista para o verão
A pandemia veio trazer um aumento de procura por férias em autocaravanas, principalmente entre os turistas nacionais, numa tendência que se deverá manter este verão e também no futuro.
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A pandemia veio trazer um aumento de procura por férias em autocaravanas, principalmente entre os turistas nacionais, numa tendência que se deverá manter este verão e também no futuro.
No ano passado, a pandemia da COVID-19 mudou a forma como se viaja e se passam férias. O recomendado distanciamento físico e o receio de contágio pela COVID-19 levaram muitos turistas a mudarem os seus planos de férias e a evitarem destinos mais movimentados, onde era difícil manter esse distanciamento. E, se esta foi uma notícia negativa para a generalidade do setor turístico, houve segmentos que saíram a ganhar com as novas tendências, a exemplo do segmento das autocaravanas, que já estava em crescimento mas que assistiu a um ‘boom’ ao longo do ano passado, como mostram os dados da Yescapa, uma plataforma de origem francesa, que entrou em Portugal em 2018 e que é conhecida como o ‘Airbnb das autocaravanas’, já que põe em contacto quem quer alugar estes veículos e os proprietários que desejam alugar as suas viaturas. “Entre maio e agosto de 2020, tivemos 3000 reservas confirmadas, tendo sido verificado um aumento de 57% comparativamente ao mesmo período em 2019, sendo junho o mês com mais reservas de sempre na Yescapa Portugal”, diz ao Publituris Maria Liquito, country manager da Yescapa Portugal, explicando que a plataforma viu mesmo a sua frota “ser totalmente ocupada”, principalmente por clientes portugueses, levando a que a Yescapa Portugal não conseguisse dar resposta a todas as solicitações.
O aumento da procura por autocaravanas, no ano passado, principalmente por parte de clientes nacionais, foi comum a todas as empresas contactadas pelo Publituris, que atribuem este crescimento ao facto das autocaravanas terem sido vistas como “uma alternativa aos hotéis e casas de aluguer por receio do vírus”, aponta Paulo Moz Barbosa, presidente da direção da CPA – Associação Autocaravanista de Portugal.
Por isso, e porque muitos estudos que têm vindo a público recentemente apontam que as tendências que chegaram em 2020 devido à COVID-19 se devem manter este ano, as empresas que se dedicam ao aluguer de autocaravanas estão confiantes que 2021 vai voltar a ser um ano forte neste segmento, ainda que haja receio devido à falta de turistas estrangeiros, que habitualmente correspondiam a 80% da procura por estes veículos em Portugal.
2020 positivo
Como refere Maria Liquito, em 2020, os clientes que procuraram as autocaravanas para férias foram “aqueles que sentiram a necessidade de viajar, mas tendo como critério obrigatório o isolamento social”. “Preferimos falar de 2020 como um ano de adaptação e de descoberta para todos. Para os viajantes, as palavras segurança e distanciamento social foram o que os motivou a recorrerem aos nossos serviços, tendo levado muitos viajantes a optar por esta forma de viajar”, explica a responsável da Yescapa Portugal, revelando que, além da nacionalidade e de procurarem férias com maior distanciamento físico, os clientes que recorreram à plataforma no verão passado tinham também em comum a idade, por norma na faixa etária entre os 30 e os 50 anos, assim como o facto de viajarem acompanhados, “sendo 64% das viagens feitas em família, seguida por férias em casal e amigos”.
Duarte Guedes, CEO da Hertz Portugal, que tinha lançado o conceito ‘Camper Vans’ no final de 2019, a pensar essencialmente no mercado internacional, corrobora o que diz Maria Liquito, uma vez que também as viaturas da Hertz Portugal dedicadas a este segmento, e que se caracterizam por serem veículos da marca Jeep com tendas instaladas no tejadilho, que podem ser adaptadas a qualquer viatura, registaram uma forte procura. “No final de 2019 lançámos o “Hertz Campers”, um serviço inovador de aluguer de viaturas da marca Jeep com tendas instaladas no tejadilho, que durante o primeiro confinamento registou um grande interesse. O balanço é positivo e achamos que estamos numa tendência futura forte”, explica, revelando que também no serviço “Hertz Campers” a procura “foi maioritariamente nacional”.
Quem também assinala a descida dos clientes estrangeiros no ano passado é Teresa Matos, da Portugal EasyCamp, plataforma que junta autocaravanismo e visitas a quintas nacionais, mas que, apesar disso, diz que “face à situação pandémica e consequente contexto de imobilidade e regressão económica, o balanço é positivo”. “Apesar de se ter registado um decréscimo considerável do número de autocaravanistas estrangeiros que anualmente visitam o nosso país durante vários meses, os portugueses aperceberam-se que viajar numa autocaravana seria uma solução muito interessante, segura e autónoma”, refere a responsável.
Balanço positivo é também o que merece a aposta da Visacar neste segmento, já que, no ano passado, a empresa de rent-a-car optou por entrar também no aluguer de autocaranas, de forma a ir ao encontro desta tendência do mercado. “A ideia principal de promover o aluguer de autocaravanas foi proporcionar uma experiência diferente aos clientes não só por estarmos num período de pandemia em que os clientes podem desfrutar das nossas regiões, de uma forma independente e sem o contacto com grandes aglomerados de pessoas, como também possibilitar a retoma do turismo. Em termos de balanço, e tendo a perspetiva dos clientes que já conseguiram usufruir
desta experiência, foi bastante positivo”, refere Honório Teixeira, general manager da Visacar.
Perspetivas
Apesar da descida dos estrangeiros, a verdade é que 2020 acabou por ser um ano positivo para o segmento das autocaravanas e, como indicam alguns estudos que recentemente têm vindo a público, é expectável que muitas das tendências do ano passado se mantenham também em 2021, o que vem reforçar a confiança das empresas. Maria Liquito diz que, para a Yescapa Portugal, a previsão aponta para que o verão “seja um pouco idêntico ao do ano passado, com reservas de última hora”. “Por norma, os portugueses não planeiam as suas férias com antecedência, reservando apenas uns dias antes da partida. Temos verificado uma grande procura para os meses de verão, mas os viajantes indicam que pretendem reservar mais próximo da data da partida e aguardar as medidas governamentais”, avança, revelando que a plataforma já conta com “reservas confirmadas para o verão de 2021, sendo 50% realizadas por estrangeiros, com destaque para franceses e, de seguida, italianos e alemães, que escolhem Portugal como destino de férias para este verão”.
Opinião idêntica manifesta Teresa Matos, que explica que, no caso da Portugal EasyCamp, também já existem algumas “reservas para junho e julho, até mesmo de estrangeiros”. “Apesar de ainda vivermos uma crise pandémica, temos confiança que o próximo verão seja, novamente, alvo de viagens em família ou grupo restrito de amigos, que procurem locais tranquilos e longe de multidões. Temos muitos clientes desejosos de voltar a visitar as nossas quintas”, acrescenta a responsável.
Na Hertz Portugal, também Duarte Guedes considera que esta “é uma tendência para ficar” e revela que a empresa conta já com “alguma procura nesse sentido”, apesar de realçar que, se não foram levantadas a tempo do verão, as restrições às viagens podem ser um entrave. “Ainda estamos longe do Verão e com novas restrições às viagens. Estamos a monitorar a situação”, refere o CEO da Hertz Portugal.
Na Visacar, Honório Teixeira também concorda e, apesar de defender que “cada vez mais clientes vão procurar esta alternativa, especialmente neste período de pandemia e também a médio prazo”, admite que “ainda não há uma procura notável”. “De momento, ainda estamos numa fase em que os clientes apenas fazem pesquisas, querem algumas informações, nomeadamente, o mercado nacional. Os outros mercados emissores ainda estão com algumas reservas em relação aos próximos períodos de férias”, explica.
Futuro
Restam, por isso, poucas dúvidas que a procura por autocaravanas deverá continuar em alta no próximo verão. Mas, e depois da COVID-19, poderá este segmento continuar a reuniras preferências dos turistas, mesmo
daqueles que habitualmente não optavam por este tipo de férias? Maria Liquito acredita que sim. “Ao longo dos anos, o autocaravanismo tem vindo a crescer e a ganhar cada vez mais adeptos em Portugal. A COVID-19 poderá ter impulsionado o autocaravanismo como forma de viajar, contudo, não acreditamos que irá esmorecer quando a pandemia deixar de estar no centro das nossas decisões”, aponta. Para a country manager da Yescapa Portugal, “em 2020, a pandemia despertou o interesse desta forma de viajar a pessoas que não se imaginavam sequer a experimentar uma autocaravana, tendo tornado muitas destas pessoas fãs e a renderem-se ao autocaravanismo”, o que, aliado às novas tendências do “slow tourism, viajar e passar tempo de qualidade com a família”, leva Maria Liquito a acreditar que esta prática vai continuar a ganhar adeptos. E exemplifica: “Na Yescapa, verificamos que 15% das reservas são feitas por locatários que querem experimentar esta forma de viajar antes de adquirir a própria autocaravana, o que nos leva a dizer que esta tendência continua a ganhar cada vez mais adeptos”.
Otimista quanto ao futuro está também Duarte Guedes, que explica que a “Hertz lançou o produto Campers antes da pandemia porque identificou um segmento com tendência crescente”. “E o produto até foi imediatamente copiado por empresas de referência neste segmento. A pandemia veio, como em várias áreas da economia e do consumo, acelerar tendências que já se manifestavam. Acreditamos que continuará a crescer”, acrescenta.
Honório Teixeira também alinha na perspetiva e diz que, mais do que uma moda, o autocaravanismo é um estilo de vida que a pandemia veio colocar na ribalta, num momento em que se procuravam alternativas de férias. E agora que grande parte do caminho já está feito, será mais fácil que a procura por este segmento se mantenha em alta. “Esta pandemia serviu, de facto, para todos nós procurarmos alternativas. O autocaravanismo não é uma moda, é um estilo de vida, que pode ser conciliado com as férias tradicionais, podendo o cliente optar por períodos curtos ou longos, desfrutando de mais locais e de uma forma muito peculiar”, considera, revelando que a Visacar está atenta à “evolução do mercado e, de acordo com a curva da procura, vai adaptando a oferta às necessidades dos clientes”.
Teresa Matos também se mostra otimista e diz que, já antes da pandemia, este segmento registava um “crescimento de dois dígitos na Europa”, motivo pelo qual acredita que “este crescimento ainda irá ser mais alavancado com o impacto de comportamentos ganhos durante a pandemia”. “Estamos plenamente convictos que é um setor que irá continuar a crescer bastante, mas que logicamente sofrerá de um certo reposicionamento, que no nosso caso vai ao encontro do serviço que oferecemos. Estamos confiantes que a década em que entrámos será propicia para projetos que estejam alinhados com a forte vontade de viajar, viver e retomar a liberdade”, aponta.
Desafios
Mais reticente em relação ao futuro do autocaravanismo parece estar a CPA, que considera que “o próximo verão é uma incógnita” e que, tal como o CEO da Hertz, se mostra preocupada com o impacto das restrições às viagens neste segmento. “Ainda se desconhece qual a percentagem da população europeia que estará vacinada e qual o grau de mobilidade que vai ser permitido”, acrescenta Paulo Moz Barbosa, que considera que “só quando a atual situação pandémica estiver resolvida será possível ter a certeza se este crescimento veio para ficar”.
Fundamental para o crescimento do autocaravanismo em Portugal, defende a associação, é também a criação de mais espaços indicados para esta prática e que estejam equipados com estações de manutenção. “Desde há vários anos que os clubes e associações têm vindo a pressionar as autarquias a abrirem parques para autocaravanas com uma Estação de Serviço para Autocaravanas (ESA) para a manutenção, isto é, a mudança de águas e limpeza das cassetes WC”, refere o presidente da direção da CPA, que critica também o Programa de Ação para o Autocaravanismo, lançado pelo Turismo de Portugal no verão do ano passado e que visa apoiar financeiramente as autarquias na construção desses equipamentos. O problema é que, para a CPA, este projeto “poderá vir aumentar estes equipamentos, embora o modelo previsto seja muito mal concebido”. “São modelos concebidos por mentes campistas e não por autocaravanistas praticantes do turismo itinerante. Infelizmente os parques de campismo estão alheados desta atividade e não se prepararam, a exemplo do que se tem feito na Europa. Tratam os autocaravanistas como campistas quando a grande maioria pratica turismo itinerante e o que precisa é de um local para estacionar (pernoitando ou não), fazer a manutenção de águas e seguir viagem”, critica Paulo Moz Barbosa.
Para a associação, problemático é também o conceito de pernoita, que foi introduzido com a alteração ao Código da Estrada de janeiro, mas que, segundo a CPA, não está ainda esclarecido. Segundo a associação, este conceito “determina que só é possível pernoitar nos parques de campismo e locais devidamente sinalizados para esse fim”, o que tem merecido a contestação dos praticantes de autocaravanismo, existindo mesmo dúvidas sobre se o mesmo vai “ser retirado ou mantido”. E esta será, defende a CPA, uma questão fundamental para o futuro do autocaravanismo em Portugal.