“Actualmente, não se pensa na Alemanha como destino turístico. Queremos mudar isso”
Ulrike Bohnet, directora do Turismo da Alemanha para Portugal e Espanha, quer colocar o destino no imaginário dos turistas lusos.
Inês de Matos
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Ulrike Bohnet, directora do Turismo da Alemanha para Portugal e Espanha, quer colocar o destino no imaginário dos turistas lusos.
Em Maio, a directora-geral do Turismo da Alemanha, Petra Hedorfer, revelou que as perspectivas para 2018 indicavam uma subida de 3% a 4%. Agora que o ano está no fim, quanto cresceu o Turismo na Alemanha?
Este foi o nono ano consecutivo de crescimento. O Turismo na Alemanha está a crescer e, de facto, alcançámos um crescimento de 4% nas dormidas, até Setembro. Temos que ver como correram os últimos meses, mas com os mercados de Natal, que são uma grande atracção, acreditamos que vamos terminar o ano com um resultado positivo, face às 83,9 milhões de dormidas de 2017.
No mercado português, também estamos satisfeitos, alcançámos um crescimento de 6,7% e, até final do ano, devemos chegar às 500 mil dormidas. Os portugueses gostam da Alemanha e estamos a assistir a um crescimento das viagens de lazer, é um crescimento lento, mas positivo. Ainda continuamos com uma média de 50% de viagens de negócios e 50% de lazer, mas o lazer está a crescer.
Diz que os portugueses gostam da Alemanha, mas a maioria visita as grandes cidades, como Berlim. Continua a ser assim, ou os portugueses já estão a descobrir outra Alemanha, como os mercados de Natal?
Sim, os portugueses visitam essencialmente Berlim, Munique e o Sul, nomeadamente Estugarda e a Baviera. A maior procura continua a ser pelas grandes cidades, é verdade, mas começa a existir procura pelas cidades do Reno, como Colónia e Dusseldorf, e no Norte, por Hamburgo. Gostava que os turistas portugueses descobrissem o Norte da
Alemanha, porque existem boas conexões aéreas e porque é um destino muito diferente face ao Sul.
Nesta altura do ano, temos os mercados de Natal e, para muitos portugueses, estes mercados ainda são uma surpresa, por isso, temos aqui muito potencial. Na Alemanha, há mais de 2.200 mercados de Natal e, em cidades como Hamburgo, são cerca de 20, cada bairro organiza o seu mercado, onde é possível provar comida típica, vinho e produtos regionais. Também há artesanato e o mais importante é que podemos interagir com os residentes.
Oferta e relação com o trade
Como está actualmente a relação com o trade português, tendo em conta que, durante alguns anos, o Turismo da Alemanha esteve praticamente ausente de Portugal?
Estamos a construir essa relação, muita coisa mudou em Portugal, também no sector turístico e houve muitas aquisições ao nível das agências de viagens, nos últimos anos. Mas sabemos que é necessário estabelecer uma relação próxima com os canais tradicionais de distribuição, de forma a tornar a Alemanha num dos principais destinos em que as pessoas pensam quando viajam. Actualmente, não se pensa na Alemanha como destino turístico, é um destino de city-break e de negócios, porque muitas empresas alemãs têm negócios em Portugal, o que leva a que exista um elevado tráfego de negócios. Mas queremos mudar isso.
O objectivo é colaborar com operadores turísticos e companhias aéreas para impulsionar a oferta para outros destinos. Por isso, no próximo ano, vamos realizar vários encontros com o trade para promover as ligações aéreas e aumentar a procura pelos destinos menos conhecidos da Alemanha.
Por outro lado, temos que fazer alterações na promoção. Precisamos de posicionar a Alemanha como um destino de mar, para dar a conhecer uma parte do país que é pouco conhecida, e estamos a apostar no ‘bleisure’, no turismo que mistura negócios e entretenimento. Para isso, contamos com a indústria automóvel, porque muitos destes viajantes, nomeadamente portugueses, são adeptos das marcas automóveis alemãs e muitas têm museus que podem ser visitados. A Mercedes tem um museu muito interessante, assim como a Porsche e a BMW e, no Norte, há a Volkswagen, com um parque temático com atracções ligadas aos carros, hotel e restaurantes, incluindo um chef três estrelas Michelin. Os arredores são também muito agradáveis, com vários locais classificados pela UNESCO.
Temos também rotas temáticas, como a rota dos ‘Contos de Fadas’, dos irmãos Grimm, que começa perto de Frankfurt e se estende 600 quilómetros para Norte, até Bremen. Existem muitas rotas temáticas, é uma oferta muito interessante para as famílias. A Alemanha tem grande potencial para atrair as famílias portuguesas.
Falou na importância dos canais de distribuição, mas cada vez mais se reserva directamente online. Que importância ainda têm os canais tradicionais na Alemanha?
Neste sector, as pessoas são cruciais e as recomendações boca-a-boca ainda são muito importantes. Continua a ser importante ter aconselhamento quando viajamos, mesmo que se vá às redes sociais ver comentários. Julgo que se está até a voltar atrás, ou seja, as grandes agências de viagens estão a vender viagens como experiências turísticas e, para isso, é necessário ter departamentos de aconselhamento e especialistas que saibam aconselhar. Por isso, acredito que as agências de viagens nunca vão desaparecer, porque as pessoas são necessárias, diria que está antes a existir uma reinvenção dos canais tradicionais.
Perspectivas para 2019
Em 2019, a Alemanha vai comemorar duas datas importantes, o 30.º aniversário da queda do Muro de Berlim e o 100.º aniversário do movimento Bahaus. Como vão ser comemoradas estas efemérides?
No caso do Muro de Berlim, não vamos fazer promoção especial, é mais um aniversário de algo feliz, que reunificou a Alemanha e que esperamos que não se repita.
Mas, vamos assinalar o 100.º aniversário da escola e do movimento Bahaus, que continuam presentes em toda a Alemanha e que é sempre um tema que aproveitamos para promover o país. Este aniversário é muito importante, porque mostra a força deste movimento, que nasceu perto de Weimar, depois foi para Berlim e foi obrigado a sair da Alemanha no tempo dos nazis, mas que ainda é uma referência nos dias de hoje, nomeadamente ao nível da sustentabilidade, da abertura de espírito e da disponibilidade para arriscar. As ideias associadas ao movimento Bahaus continuam válidas actualmente.
Vamos dar muito ênfase a estas celebrações. Vamos fazer um roadshow dedicado à arquitectura e ao design Bahaus, que influenciou a IKEA – que é o maior exemplo do design Bahaus, ainda que muita gente não saiba disso – e vamos fazer promoção internacional, porque este movimento está muito presente no mundo. Mas ainda não temos o calendário exacto das celebrações, espero ter mais informações no início de 2019.
A Alemanha foi também escolhida pelo guia Lonely Planet como um dos destinos a visitar em 2019. O que significa esta escolha e que impacto pode ter no próximo ano?
É uma honra, esperamos beneficiar com esta escolha e que a Alemanha passe a estar mais presente na mente dos turistas portugueses, na altura em que escolherem um destino para as férias de 2019. Ficaria muito feliz se os portugueses começassem a descobrir a Alemanha, porque porque é um excelente destino de férias e porque existem ligações aéreas muito convenientes.
Isso quer dizer que, para 2019, a expectativa é que o número de turistas portugueses na Alemanha volte a cresce?
Espero que possamos crescer 4% ou 5% no mercado português, acredito que continua a existir potencial, até porque a economia parece estar mais consolidada e o ambiente mais calmo, pelo menos é este o meu ‘feeling’. A nível mundial, também acredito que vamos crescer 3% a 4%, talvez mais perto dos 3%, porque em algumas áreas do globo continua a existir incerteza e a economia está a enfraquecer. Temos que ser cautelosos, até pelo que está a acontecer em França e porque temos o Brexit no próximo ano, e o Brexit é uma questão importante, mesmo que não se preveja grande impacto turístico.