Conversas à Mesa | Adília Lisboa
Adília Lisboa, administradora e vice-presidente do Grupo Onyria Golf Resorts, foi a convidada do Conversas à Mesa que decorreu no restaurante no Bairro do Avillez – Taberna.
Carina Monteiro
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Há pessoas que dispensam apresentações, o currículo precede-as. Mesmo fugindo dos holofotes, Adília Lisboa é uma dessas pessoas. Reconhecida pelos seus pares, ao longo da carreira desempenhou diversas funções no sector público e no associativismo empresarial. Desde 2015 que é a vice-presidente do grupo Onyria.
Os pais eram do Porto, mas foi em Lisboa que se conheceram e casaram. Adília Lisboa nasceu em Benfica, mas os primeiros anos de vida foram passados em Almada, porque o pai trabalhava nos Estaleiros da CUF. Quando tinha três anos, a família mudou-se para a Av. dos EUA, em Lisboa. Todo o percurso escolar foi feito entre Alvalade e a Cidade Universitária. Começou a ler mesmo antes de entrar na escola primária. Já no Liceu Rainha Dona Leonor, no primeiro dia de aulas, a reitora nomeou-a chefe de turma. “Até ao 7º ano fui sempre chefe de turma, de tal maneira que as pessoas não me tratavam pelo nome, mas por ‘chefe’”, recorda.
Cresceu no seio de uma família tradicional portuguesa em que não havia grande margem para outros voos, que não os convencionais. “Queria ir para ao ballet, mas a minha mãe disse-me: “Filha, não vais ganhar a vida a andar em pontas, vais aprender línguas na Alliance Française”, conta. Frequentou a Alliance Française, o Instituto Britânico, o Instituto Italiano e chegou a frequentar um ano e meio de alemão. Apesar de gostar muito de línguas, tinha melhores notas a Ciências. O pai queria que fosse médica, mas ela queria seguir Direito, não propriamente por vocação, mas porque queria ser escritora. Adília Lisboa sempre fugiu da exposição, “por timidez ou por educação”. Detestava provas orais, tinha boas notas e dispensava os exames. Entrou na Faculdade de Direito de Lisboa, na Universidade Clássica, em 1970. “Aí já fui uma aluna regular”, lembra. Em 1974, tomou a decisão de ir para Coimbra terminar o curso. “Deu-se a revolução e eu estava no quarto ano. O MRPP tomou conta da faculdade de Direito. O meu objectivo era terminar o curso, mas percebi que isso não ia acontecer com o que se estava a passar na faculdade. Eu e mais alguns colegas transferimo-nos para Coimbra. Íamos de manhã, ficávamos uma noite e depois regressávamos”, conta.
Terminou o curso a 19 de Julho de 1975, dia da célebre manifestação na Fonte Luminosa. “Vínhamos na auto-estrada e não conseguíamos entrar em Lisboa, estava tudo bloqueado. A minha sensação é que íamos ter tribunais populares e eu tinha tirado um curso que não ia servir para nada”, recorda. Seguiram-se momentos de incerteza. “O que é que vou fazer? Uma carreira diplomática? Magistratura? Não me sentia com capacidade para julgar os outros, mas sentia-me com capacidade para defender alguma coisa. Então, decidi ir para a advocacia”, conta.
Começou a trabalhar num escritório de advogados e ainda exerceu advocacia durante 10 anos. “Comecei por fazer Direito do Trabalho. Tive algum sucesso. No primeiro julgamento que fiz, não dormi”. Tinha como patrono António Lobo Vilela, ex-chefe de gabinete de Henrique Medina Carreira quando este foi ministro das Finanças no I Governo Constitucional. Medina Carreira era visita assídua no escritório e um dia convidou Adília para fazer parte da direcção da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores, da qual era presidente. Trabalhou com Medina Carreira nessa direcção até à sua saída e, depois, com José Macedo e Cunha. Acumulou este trabalho não remunerado com o escritório de advocacia, ao mesmo tempo que trabalhava para outra empresa. “Profissionalmente já estava com alguma estabilidade”, lembra. Nessa altura, António Osório de Castro, bastonário da Ordem dos Advogados fez-lhe o convite para ser secretária-geral da Ordem. “E o que é isso”, perguntou. Osório de Castro sugeriu que fosse falar com o secretário-geral da Ordem de Paris. “Fui com o meu marido a Paris, em 1985, e o secretário-geral disse-me que isto não era um cargo para mulher. Respondi-lhe: Então é exactamente por isso que vou ser”. Entretanto, engravidou do primeiro filho, mas teve uma gravidez de alto risco que a obrigou a repouso absoluto. “Falei com o bastonário e disse-lhe que não podia assumir aquele compromisso. Respondeu-me que poderia trabalhar a partir de casa. Fui a primeira secretária-geral da Ordem dos Advogados e, ao mesmo tempo, vice-presidente da direcção da Caixa de Previdência”.
Ao longo da sua carreira sucederam-se os convites e recomendações de quem com ela já trabalhou. “Tenho a grande felicidade de nunca ter procurado trabalho. Tenho sobre isso um princípio que digo aos meus filhos e amigas: façam o melhor que puderem o vosso trabalho, porque alguém vai ver. Comigo deu resultado, com os outros não sei”, afirma.
O Turismo
Estando algo insatisfeita com o que estava a acontecer na Ordem dos Advogados, anunciou a sua saída e imediatamente o presidente da Caixa de Previdência disse-lhe que um amigo seu tomaria posse como secretário de Estado do Turismo e precisava de uma pessoa de confiança. “Você tem o perfil ideal para esse efeito”, disse-lhe. Era Alfredo César Torres. A propósito desse convite, há um episódio engraçado. “Marquei uma reunião para falar com o futuro secretário de Estado, mas como vivia em Cascais, atrasei-me por causa do trânsito. Quando cheguei, já tinha ido para uma reunião”. Pensou que não voltaria a ser chamada. A verdade é que foi. “Disse-me que não podia oferecer-me o lugar de chefe de gabinete, porque o Augusto Homem de Melo manteria esse cargo, ou seja, o gabinete manter-se-ia idêntico com a única diferença que eu entraria e seria a pessoa da sua confiança. Estávamos em 1991. “Deram-me a legislação para ler e pensei: tenho que conquistar esta gente”, revela. “Com o meu humor habitual, lá fui dizendo umas graçolas e conquistando os colegas”. Entretanto, deu-se a saída de Augusto Homem de Melo e Alfredo César Torres perguntou-lhe se estaria disponível para ser sua chefe de gabinete. “Respondi que sim, mas que não conseguia fazer o mesmo horário. Já tinha dois filhos, vivia em Cascais, e também não podia viajar para o estrangeiro”. Recebeu a resposta: “Não preciso de ama-seca para ir para o estrangeiro e não preciso que esteja no gabinete às 8h00. Tem mais algum inconveniente?” Adília Lisboa garantiu: “Não saio daqui sem deixar as coisas em ordem”.
Ao fim de um ano, César Torres saiu do governo e Adília manteve-se como chefe de gabinete do secretário de Estado do Turismo seguinte, Alexandre Relvas. Novamente, a fama precedeu-a quando Alexandre Relvas lhe disse: “Adília, pelo que sei de si, já não precisamos de mais pessoas no gabinete”. Algum tempo depois, teve de sair por doença dos pais e, depois, do marido. Seguiram-se tempos difíceis, com a morte dos pais. Profissionalmente, manteve-se ligada ao escritório de advogados. Depois, foi Castelão Costa quem a desafiou para Confederação do Turismo Português como secretária-geral. “Foi um desafio interessante. Era uma visão diferente daquela que tinha tido”. Trabalhou com o Atílio Forte durante um período, mas acabou por sair, novamente por problemas de saúde do marido. Voltou ao escritório. “Nunca estive lá muito, porque desafiavam-me para alguma coisa”. Em 2000, e já depois de se ter divorciado, Adília Lisboa recebeu um novo convite. Luís Correia da Silva perguntou-lhe se estaria disponível para trabalhar com Pedro de Almeida no gabinete da Secretaria de Estado do Turismo. “Claro que sou capaz”, responde. Manteve-se no gabinete quando Luís Correia da Silva assumiu a Secretaria pouco tempo depois. Saiu com ele em 2004. “Acabaram-se os gabinetes”, pensou. Mas durou pouco tempo até ao telefonema de Cristina Siza Vieira, que lhe falou de Sofia Galvão, futura secretária de Estado da Administração Pública. Adília Lisboa seria a pessoa indicada para trabalhar nesse gabinete. Não se conheciam e o primeiro encontro foi curioso. “Conhecemo-nos na tomada de posse do Governo. Apresentei-me: Sou a Adília”, conta. Depois, quando Pedro Santana Lopes nomeou Sofia Galvão secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Adília Lisboa acompanhou-a. “Essa experiência foi absolutamente inultrapassável. Todas os diplomas que iam a Conselho de Ministros caíam no meu computador”, recorda. Foi um período curto, mas intenso que terminou em 2005. “Agora é que se acabou mesmo”, pensou. Já no escritório foi novamente desafiada, agora para ser directora-geral do Fórum dos Administradores de Empresas, cuja presidente era, na altura, Vera Pires Coelho. Já com Esmeralda Dourado como presidente do Fórum, e depois de regressar de umas férias em Veneza, em 2007, Adília Lisboa recebeu um telefonema de José Carlos Pinto Coelho. Conheceu-o pela primeira vez quando vivia na Quinta da Marinha. O presidente da CTP queria convidá-la para secretária-geral da Confederação. Em Janeiro de 2008, assumiu a função. Quando José Carlos Pinto Coelho terminou o segundo mandato e já decidido a não continuar, perguntou-lhe se a CTP poderia contar com ela. Com toda a frontalidade e pragmatismo, respondeu que dependeria de quem fosse o próximo presidente. Foi Francisco Calheiros e Adília Lisboa manteve-se secretária-geral da CTP. Só saiu no segundo mandato, depois do convite de José Carlos Pinto Coelho para vice-presidente do Grupo Onyria. Com Francisco Calheiros ficou a amizade. “Foi uma experiência muito agradável. Uma personalidade totalmente diferente do José Carlos Pinto Coelho, mas com quem também mantive uma boa relação. Temos episódios muito engraçados”.
Vida pessoal
Os dois filhos de Adília Lisboa vivem no estrangeiro. O mais velho, Frederico, tem 32 anos, e vive com a família na Finlândia. João Diogo, de 28 anos, vive em Silicon Valley, nos EUA. Adília tem ainda uma neta, Matilda Teresa, de ano e meio, do seu filho Frederico. Costuma visitás-lo por ocasião do seu aniversário. Gosta de ler e passear os seus dois cães. A escrita ficou para trás, assim como desenho e pintura. Gosta de estudar e tem duas pós-graduações em Direito Comercial e Gestão, e um MBA na Católica, no Porto.
Está inteiramente satisfeita e feliz com o percurso que fez até aqui. “As pessoas que trabalharam directamente comigo ficaram minhas amigas para a vida e honro-me muito disso. Não tenho problemas de auto-estima, no sentido de me querer afirmar ou de querer ultrapassar seja quem for. Tenho a ambição de ter paz, sossego e de continuar a trabalhar, tenho pavor de me tornar dependente. Penso em aprender novas coisas e transmiti isso aos meus filhos, o conhecimento para mim não se perde, seja em que área for”.
Preza a liberdade e a justiça como valores essenciais. Contraria quem diz que é arrogante nas suas afirmações e explica: “Tenho convicções muito fortes. Quando falo, falo das minhas convicções, mas se me provarem que estou errada, digo, com a mesma convicção, que têm razão. Sei que não sou a dona da verdade. Penso muito nas coisas, se não pensei sobre uma coisa, não emito opiniões. Não gosto de falar para ser ouvida, gosto de falar quando tenho alguma coisa a transmitir ou quando julgo que a minha intervenção acrescenta valor de alguma coisa. Falar por falar não é comigo”, conclui.
No final da conversa, uma certeza: Adília Lisboa podia ser tudo o que quisesse e foi. É um dom só acessível aos espíritos livres, com mentes brilhantes.
Bairro do Avillez – Taberna
O Bairro do Avillez, em pleno Chiado, é um espaço de 1000 m2 criado pelo chef José Avillez, que reúne diferentes conceitos de restauração inspirados nos melhores sabores portugueses, bem como um espaço dedicado à melhor cozinha peruana contemporânea. Na Taberna, um dos espaços do Bairro do Avillez, “encontram-se os melhores croquetes de Lisboa, fantásticas bifanas de atum em bolo do caco com legumes avinagrados, deliciosas sanduiches de leitão com pickles de algas e salicórnia e até m cornetto de tártaro de carapau”. Iguarias para provar ao almoço, jantar ou petiscar durante a tarde.