Conversas à Mesa | Timóteo Gonçalves
Timóteo Gonçalves, director-geral da Halcon Viagens em Portugal, foi o convidado do Conversas à Mesa que decorreu no Evolution Lisboa.
Carina Monteiro
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Timóteo Gonçalves, director-geral da Halcon Viagens em Portugal, incorpora aquilo que um jornalista gosta num entrevistado: directo, sem subterfúgios, e nada, mas mesmo nada, politicamente correcto.
Madeirense, Timóteo nasceu em 1960 no seio de uma família numerosa – é o oitavo de dez irmãos. Fez a escola primária num colégio de freiras e, mais tarde, frequentou o liceu do Funchal, onde, além de ter sido um dos melhores alunos da escola, foi capitão e guarda-redes da selecção de andebol.
Era bom aluno a todas as disciplinas, mas História e Filosofia eram as suas preferidas, gostava de passar tempo na biblioteca em busca do conhecimento. Talvez por isso, o pensamento cartesiano de quem não aceita verdades absolutas se tenha revelado desde muito cedo. “Não aceito como verdade suprema aquilo que me dizem, tenho um pensamento cartesiano, duvido de tudo e só aceito aquilo que quero”. Isso tornou-o um aluno incómodo para os professores, porque “de cada vez que falhavam eu estava em cima deles”. Mas a prova de que era bom colega é que muitas das amizades guarda-as dessa altura.
Quando terminou o liceu, em 1977, a professora de alemão, sabendo da sua paixão por História e Filosofia, arranjou-lhe uma bolsa de estudo na Fundação Gulbenkian para vir estudar em Lisboa. No entanto, viu-se obrigado a ficar na Madeira e arranjar o primeiro emprego numa agência de viagens, a Rota do Atlântico, propriedade do Grão Pará. Passou o primeiro dia a tirar fotocópias, desgostoso com o que o destino lhe reservou. “Só pensava o que é que estive estes anos todos a fazer no liceu, com média de 19, para agora estar aqui a tirar fotocópias”, recorda.
Durou pouco esse pensamento, já que três dias depois estava empenhado em fazer bem o que tinha para fazer. Ao fim de seis meses, ao saber que a espanhola Meliá ia abrir uma agência de viagens na Madeira, Timóteo foi falar com a pessoa que ia dirigir a agência, Domingos Samurano Pina, explicando-lhe que pretendia trabalhar numa empresa maior.
Começou a trabalhar na Meliá e fez um pouco de tudo: trabalhou no balcão, na administração e fez receptivo. Rapidamente conquistou a confiança da Meliá e aos 20 anos chefiou o receptivo da empresa na Madeira. Aos 23 anos teve a oportunidade de chefiar o receptivo da Meliá em Portugal. Este sucesso profissional foi construindo a sua personalidade. Chegou aos 30 anos seguro de si e com uma certa vaidade, admite. Reconhece que foi a partir daí que começou o seu verdadeiro percurso, até ali tinha sido um mar de rosas.
Saída da Meliá
Aos 29 anos, Timóteo Gonçalves foi convidado para ser director mundial para o receptivo da Meliá. Foi a Madrid ter uma reunião com o então dono da empresa, um italiano, que o deu como garantido no cargo sem querer saber a opinião de Timóteo. Erro. Ele, que nunca gostou que lhe dessem ordens, saiu dali e foi ao escritório da Meliá em Madrid e apresentou a carta de demissão.
Voltou para a Madeira e foi trabalhar para uma empresa que, sem Timóteo saber, já estava falida. “Percebi o que era ter contas para pagar e não ter dinheiro, ter credores a telefonar, foi um curso de gestão pela via do sofrimento durante sete anos, mas que vivi com a verticalidade do costume. Fui guarda-redes de andebol e nós nunca fechamos os olhos, levamos a bolada de olhos abertos”. Aguentou e geriu o naufrágio “da forma mais correcta possível”. Até que, em 1997, surgiu o convite para fazer uma sociedade com a Portimar na Madeira, criando a Portitours. “Essa empresa construída de raiz imediatamente teve sucesso e em 1999 já facturava mais de um milhão de euros”.
Halcon Viagens
Um dia, Timóteo Gonçalves recebeu um telefonema do antigo director financeiro da Meliá, que trabalhava agora no grupo Halcon e pretendia abrir agências em Portugal. Respondeu-lhe que estava disposto a ouvir a proposta e, em Setembro de 1998 teve uma reunião com o vice-presidente da Globalia, António Hidalgo, irmão do presidente, Juan José Hidalgo.
Apesar de ser o mais caro, Timóteo foi o candidato eleito para o cargo. Vendeu a quota na Portitours e veio para Lisboa.
“O projecto era demasiado arriscado, na coluna do “Confidencial” do Publituris, foi escrito que, opiniões avalizadas referiam que o projecto da Halcon não era possível de ser feito, porque nos propusemos abrir 30 agências em seis meses. Sendo assim, optei por dizer à família que ia para Lisboa, mas que eles ficariam”, conta. Veio sozinho para Lisboa e vivia numa suite do Lisboa Plaza, e o escritório da Halcon era a sala da suite, paga com o ordenado que tinha negociado.
Contrataram-se os primeiros 30 colaboradores que foram para Salamanca durante duas semanas aprender a doutrina da empresa. “Em Junho de 1999 tínhamos 30 lojas abertas e o que era impossível estava feito. A partir daí o discurso mudou para: o tipo é louco, isto é impossível, isto não aguenta nem mais um mês”. Vai dizendo à família para aguentar mais um tempo até que em 2000, já com 40 lojas, a família de Timóteo muda-se definitivamente para Lisboa. “Estamos em 2017 e o maluco continua cá e continua na Halcon e a empresa ainda não fechou”, afirma.
Ao fim de quase 20 anos, Timóteo mantém-se firme na Halcon. “Gosto muito da Halcon e das pessoas que trabalham comigo, criei com a minha equipa de trabalho – 80% está comigo desde o início-, um vínculo que só se quebra para algo fenomenalmente bom, que nos dias de hoje não existe”, responde, quando o questiono sobre o porquê de estar há tanto tempo na mesma empresa. “Enquanto para a Halcon o meu melhor for suficiente, eu vou ficando por aqui”. Pergunto-lhe se ao longo destes anos foi desafiado para outro projecto. Responde-me com a frontalidade que se lhe conhece. “Ninguém me desafiou a sair, porque eu sou o mau da fita. Sinto-me bem nesta actividade, porque há um grande respeito entre os bons do mercado, há muito poucos muito bons, há mais bons, mas há imensos medíocres, há tantos medíocres na actividade que chega a dar dó e, portanto, é essa massa medíocre que não gosta de mim, eu também não gosto deles, ficamos em paz. Por outro lado, a empresa até hoje tem estado satisfeita com os meus acertos e os meus erros. (…) O que me agrada mais é que temos uma esmagadora maioria de clientes que está satisfeita com o serviço que a Halcon presta e, é por isso, que ficámos em segundo lugar do estudo de reputação, somos a segunda empresa em Portugal, a seguir à Abreu, em reputação, o que é um feito, sendo espanhóis”.
Timóteo Gonçalves estima permanecer na Halcon por mais alguns anos, tantos quantos o tempo para a reforma o exigir. “Começo a ter a consciência que, apesar da minha cabeça ser jovem, já não sou jovem, e que, provavelmente, dentro de alguns anos a empresa vai ter de mudar a pessoa, mas penso que ainda posso ficar mais cinco, seis anos. Portanto, o futuro é continuar a justificar aquilo que ganho, continuar a ser o mais responsável possível e continuar a galvanizar as minhas tropas”. Entende as empresas como um exército e defende que não há democracias nas organizações: “Nas empresas não há democracia, na medida em que quem manda, tem que mandar. Liderar é normalmente uma actividade solitária, porque as decisões tomam-se com todas as consequências e há que assumi-las”.
É um líder com “mão de ferro em luva de veludo”, ou seja, “sou justo, valorizo o mérito, não assumo para mim os louros dos outros e com muita facilidade exponho de quem é o mérito. Detesto os que nunca têm culpa e detesto a indisciplina e a falta de rigor”.
“Sou apologista dos dirigentes e não dos patrões, patrão é qualquer um que tenha dinheiro, mesmo que seja medíocre e estúpido, líder é aquele que percebe o que é liderar equipas. Equipas com os direitos acautelados, focam-se nos deveres. O problema de Portugal é que a maior parte dos líderes preocupa-se em fiscalizar os direitos dos trabalhadores, não os acautelando, o que faz com que os trabalhadores em vez de se focarem nos deveres, focam-se nos direitos. Na Halcon, ninguém discute os direitos, porque os direitos estão acautelados, 100% da equipa da Halcon está absolutamente focada nos deveres, começando por mim”.
Família
Casado há quase 25 anos, Timóteo e a mulher conheceram-se na Madeira. Quando a família veio para Lisboa, Teresa, que era guia intérprete, teve de abandonar a profissão. “Foi um acto de extraordinária coragem”, reconhece. Em compensação, dedicou-se a uma paixão antiga: as artes. Teresa tornou-se artista plástica a tempo inteiro, com um atelier no Funchal e em Lisboa.
Tem dois filhos, Teresa, de 21 anos, que estuda Direito, e Francisco, com 19 anos, que está a estudar Belas Artes, seguindo as pisadas da mãe. “É mais importante aquilo que sou enquanto pessoa, pai e marido, do que propriamente aquilo que sou enquanto profissional, porque a minha vida não se esgota na Halcon”, confessa. “Sou um pai muito afectuoso. Os meus filhos fazem parte de mim, são como se fossem as minhas mãos e os meus braços, quando estou a fazer uma coisa por eles, estou a fazer por mim próprio. Esqueço-me muitas vezes que os meus filhos cresceram, continuo a tratá-los como crianças, eles detestam com toda a razão”.
À Madeira regressam sempre para as férias de Natal e fim-de-ano que, sobretudo os filhos, fazem questão de fazer. Timóteo não é pessoa de grandes hobbies, “contento-me com nada, adoro os meus filhos e a minha mulher. Tento estar bem onde quer que esteja, porque a minha filosofia é ser o mais feliz todos os dias. Leio de vez em quando, faço caminhadas, gosto do Benfica, mas não sou fanático, de Andebol, gosto de ver alguma televisão e gosto de conversar com os amigos”, conclui.
Evolution Lisboa
Localizado na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, o EVOLUTION Lisboa é o primeiro hotel do conceito EVOLUTION da cadeia SANA HOTELS em Lisboa. Trata-se de uma marca de hotéis disruptiva, especialmente dirigida a um viajante urbano, nacional e internacional, orientado para as novas tecnologias e que pretende romper com os conceitos da hotelaria tradicional. O restaurante e bar, que se estende por dois pisos, oferece a solução para quem pretende uma refeição rápida. O restaurante tem uma cozinha inspirada nas actuais tendências gastronómicas, oferecendo actualmente um buffet com uma selecção de pratos de cozinha portuguesa, bebidas quentes e frias e sobremesas. Há também uma área self-service com petiscos que estão ao dispor do cliente todos os dias, a qualquer hora. Para os apreciadores de vinho, o restaurante tem uma área Wine Experience onde o cliente, de forma autónoma e independente, pode servir-se da selecção de vinho pretendida.