Turismos Rurais atraem cada vez mais estrangeiros
A procura pelo alojamento em Turismo Rural está a crescer, sobretudo nos mercados externos. Mas a sazonalidade do negócio ainda é o constrangimento desta actividade. O ano de 2017 já […]
Carina Monteiro
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A procura pelo alojamento em Turismo Rural está a crescer, sobretudo nos mercados externos. Mas a sazonalidade do negócio ainda é o constrangimento desta actividade.
O ano de 2017 já vai a meio e a Federação Portuguesa de Turismo Rural (FPTR) faz um balanço positivo da actividade. Até ao momento, há mais reservas que em igual período do ano passado, e isso deve-se, principalmente, à procura dos turistas estrangeiros, nos quais se destacam os franceses, alemães e espanhóis. O balanço é feito por Cândido Mendes, presidente da FPTR, federação que integra 12 associações do sector em Portugal. Para o responsável, a procura externa tem permitido esbater um pouco a sazonalidade da actividade, mas ainda não é suficiente. Dos muitos turistas que aterram nos aeroportos de Lisboa, Faro e Porto, “uma ínfima percentagem” chega aos turismos rurais, afirma. Já quanto aos arquipélagos o cenário é outro. “A realidade dos Açores e da Madeira é diferente, porque enquanto no continente cerca de 90% dos clientes do TER é nacional, nas ilhas a realidade é praticamente inversa”.
Cândido Mendes afirma que os principais desafios e constrangimentos continuam a ser a forte sazonalidade e dependência do mercado interno. “Os picos de aumento da procura mantêm-se nos fins-de-semana, pontes e feriados e período de Verão, muito devido à forte dependência que este subsector do Turismo tem relativamente ao mercado interno”.
A sazonalidade não é o único desafio da actividade. A TER – Algarve, Associação de Turismo Rural do Algarve, que tem estado inactiva mas que criou agora um grupo de trabalho com o objectivo de revitalizar a associação, aponta alguns constrangimentos à actividade. “As exigências colocadas a uma pequena unidade com menos de 10 quartos são quase as mesmas que são colocadas a um hotel de 200 ou 300 quartos. Os recursos humanos são outro dos constrangimentos pois, quer pela localização das unidades de TER, quer pela sua dimensão, nunca poderemos oferecer as mesmas condições que uma unidade hoteleira. Mas note-se que em muitos casos as unidades de TER contribuem para o combate à desertificação, pois com a criação de empregos em lugares mais afastados dos grandes centros, fixam pessoas nessas zonas, nomeadamente os seus empregados”, defende Hélder Martins, responsável pelo Hotel Rural Quinta do Marco e membro do grupo de trabalho. Outro grande “constrangimento é a carga fiscal”, afirma. Já quanto à sazonalidade, o responsável diz que se tem “esbatido um pouco”. “Há realidades completamente diferentes, do norte ao sul e do litoral ao interior. No entanto, mesmo nas épocas mais baixas do Turismo, o utilizador das unidades de TER continua a visitar-nos. Mas, apesar disso, ainda se nota a necessidade de um grande trabalho para permitir ocupações mais equilibradas”.
Os alojamentos ouvidos para este trabalho confirmam que a sazonalidade ainda existe, embora menos acentuada. Nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro a procura é menor. “A procura continua a ser muito mais concentrada no Verão e férias escolares. Nos restantes meses, a procura resume-se quase que exclusivamente aos fins-de-semana. Alguns estrangeiros ou casais com filhos pequenos”, refere Bárbara Alves da Costa, da Terra do Sempre, um turismo rural em Grândola, aberto desde 2015.
Como inverter a tendência da sazonalidade?
Só com uma aposta forte na promoção nos mercados externos é que se consegue potenciar um aumento da procura e com isso esbater a sazonalidade. Esta é uma opinião unânime entre os players desta actividade. Mas como deve promover-se o Turismo Rural? Na opinião de Cândido Mendes e da FPTR, a aposta “tem necessariamente que passar pelo desenvolvimento de campanhas nos mercados emissores, com destaque para as valências dos nossos territórios do mundo rural, como forma de potenciar uma maior abrangência do leque de opções a oferecer ao turista”.
Para o responsável deve-se trazer aos territórios quer os operadores turísticos especializados neste segmento, quer jornalistas de comunicação social especializada, “como forma de lhes dar a conhecer outro Portugal”. “Esta aposta, é necessária porque o TER representa (nas variantes de Agroturismo, Casas de campo, Turismo de habitação e Hotéis Rurais), mais de 12 000 camas espalhadas por todo o território do mundo rural, cuja actividade, pela sua transversalidade, dá um importante contributo para o desenvolvimento das economias locais e regionais. Mas, nós dizemos que a actividade turística do mundo rural é também muito importante como contributo para a consolidação do próprio destino Portugal. O mundo rural, disponibiliza uma variedade de atributos e experiências ao turista, que a oferta urbana não pode satisfazer. À medida que aumenta a concentração de turistas nas grandes cidades, a oferta tende a tornar-se toda demasiado homogénea, faltando a complementaridade da autenticidade do mundo rural, Portugal oferece, de região para região, muitos factores diferenciadores, mas todos eles com muita autenticidade, que podem proporcionar um mundo de experiências diferentes ao turista”.
Hélder Martins, da TER- Algarve, constata que “para as entidades que promovem o Turismo, quer a nível nacional quer regional, é evidente que as unidades de TER têm uma expressão muito pequena”. Mas isso “não deve impedir que possamos ser considerados nas diferentes formas de promoção”, defende. “Há um conjunto de eventos em vários países focados especificamente neste produto e onde individualmente teremos muita dificuldade em estar presentes, pelos custos inerentes, mas em associação será possível comparecer”. Em consonância com o que é dito pela FPTR, também a TER – Algarve defende a vinda de compradores e líderes de opinião para “viverem a experiência de utilizar as nossas unidades e certamente a mensagem passará”. Por último, Hélder Martins deixa uma mensagem: “Nunca poderemos esquecer as ferramentas digitais que são importantíssimas para a promoção. Assim deveríamos poder usar todos os canais de promoção/distribuição mas sozinhos nunca o conseguiremos. Por isso, vale a pena trabalhar em grupo”.
Terra do Sempre
Inaugurado em 2015, o turismo rural Terra do Sempre, em Grândola, é inspirado no universo das histórias infantis. Alice, Peter Pan, E foram felizes para Sempre, Romeu e Julieta, Mil e uma Noites, Tom Sawyer e Robin Hood são as histórias que inspiraram os sete quartos da unidade, ilustrados por Alexandra Prieto e divididos em três áreas distintas.
Segundo Bárbara Alves da Costa, proprietária da unidade, a Terra do Sempre tem tido um crescimento “bastante significativo, desde aque abriu, em Outubro de 2015. “Temos 90% de reservas directas. Mais de 20 mil seguidores no Facebook e estamos a crescer, não só na grande Lisboa, como no Porto. Temos cada vez mais clientes do Norte e fora do país”.
Quem é que procura esta unidade? “Por um lado, são famílias com crianças. Famílias que procuram uma casa com histórias onde se promove o sonho e onde tudo é possível. Nas cabanas, Tom Sawyer e Robin Hood, ficam mais casais sem crianças ou com filhos pequenos. São quartos mais isolados, lugares cheios de paz, onde o único ruído é a natureza. Junto à casa principal e no casão ficam as famílias com mais de dois filhos. Famílias que procuram programas pensados para fazer com os filhos, como o cinema ao ar livre ou o passeio à quinta onde vão alimentar os animais.”
Este ano, a Terra do Sempre apresenta algumas novidades. “Estamos a desenhar um projeto de co-work rural para a época baixa, de segunda a sexta-feira, onde a ideia será não haver crianças mas sim quem queira ter um escritório no campo. Para projectos pessoais como escrever o seu livro, ou acabar o mestrado, para reuniões de empresas com almoços ou jantares, ou simplesmente para ter um espaço onde seja possível sair de casa e trabalhar fora de portas. Além disso, este ano, aumentámos a piscina, fizemos uma zona nova com baloiços, juntámos à família o gato Juba, os dois burros, o Gil e Bernardino, assim como as galinhas. E passamos a fazer parte da nova direcção das Casas Brancas. Com este projecto, pretendemos trazer novidades, em breve, para a região, novidades também para os surfistas que vão andar atrás das ondas durante o Inverno”.
The Fox House
Localizada a cinco minutos das Termas de São Pedro do Sul e do rio Vouga, a The Fox House abriu em 2016. A unidade dispõe de seis suites, das quais quatro estão situadas na casa principal onde também se encontra a sala de estar e jantar, cozinha, despensa, churrasqueira e pérgula no exterior; e duas suites na Casa da Eira.
A unidade disponibiliza também uma piscina com vista panorâmica para os dias mais quentes, um minigolfe de 18 buracos e cinco bicicletas de montanha.
Segundo a unidade, “2017 está a ser um ano muito bom, visão revelada quer pela procura e reservas quer pelas experiências proporcionadas aos nossos hóspedes e respectivos comentários”. A unidade recebe, sobretudo, famílias (duas e três gerações), grupos de amigos e casais (entre os 30 e 50 anos) onde a motivação vai “desde a comunhão com a natureza e o descanso, passando pela diversão, gastronomia & vinhos e cultura. Isto dentro e fora da The Fox House”.
Bons Cheiros Sintra Country Retreat
Aberta ao público desde o Verão de 2011, a Bons Cheiros Sintra Country Retreat dispõe de três quartos Bed and Breakfast e é procurada por visitantes de vários pontos do Mundo, das mais variadas nacionalidades. “São os viajantes Millennials, com idade média entre os 28 e os 35 anos, viajam bastante mas querem um sítio calmo ao fim do dia, atendimento personalizado, conforto, e todos os pequenos detalhes/serviços que oferecemos”, descreve Elisabeth Arias, proprietária deste alojamento.
Localizada em Odrinhas, entre Sintra e Mafra, a unidade aposta em vários elementos de diferenciação que passam pela gastronomia, com base em ingredientes provenientes da horta biológica; na cultura, com localização estratégica entre o Museu Arqueológico de Odrinhas, do Palácio da Pena em Sintra e o Convento de Mafra; e actividades ao ar livre, como surf, caminhadas, trilhos (paisagem e históricos com vestígios romanos), passeios de bicicleta, de jipe e escalada.
Este ano, a unidade concluiu obras de melhoria da envolvente da zona de piscina e remodelou totalmente o cottage Flor de Orégão.
TEIMA Alentejo SW
A TEIMA Alentejo SW, a oito quilómetros de São Teotónio, no Alentejo, inaugurou este ano uma nova ala, passando a dispor de nove unidades de alojamento. A nova ala é composta por um quarto com vista jardim com cerca de 20 m2 e um deck privado de 20m2, uma suite com 56 m2, com um deck privativo de 42 m2, e uma open space suite com 50m2 e deck privativo de 42m2.
Na decoração dos novos quartos foi mantida uma tradição da TEIMA: não recorrer a mobiliário feito em série e escolher um tom dominante para cada um dos quartos, tom esse que dá o nome ao próprio quarto: quarto Cinza, suite Água e suite Amber.
O projecto de decoração continua a ter a assinatura da proprietária da TEIMA, Luísa Sarmento Botelho, que reforçou a aposta no estúdio CABANA, de Mircea Anghel, que desenhou o executou alguns dos móveis de madeira, nomeadamente as camas e consolas dos novos quartos.
Este turismo rural recebe “essencialmente hóspedes que procuram tranquilidade, praias bonitas e sossegadas, contacto com a natureza e animais, em ambiente intimista e de elevada qualidade”.
Casa Modesta
A Casa Modesta, um turismo rural de traços contemporâneos, fica localizada em Olhão, no Algarve. Oferece nove quartos e pátios privados, uma horta biológica, um jardim e solário, “onde o tempo corre ao ritmo das marés”.
Este ano, o projecto foi eleito pelo júri da Architizer A+ Awards como o melhor projecto de arquitectura do mundo na categoria de hotéis e resorts. Além disso, recebeu o galardão Chave Verde da Bandeira Azul e foi também eleito como o melhor hotel ambiental da Europa nos Condé Nast Johansens Awards 2017.
De acordo com a unidade, a operação no primeiro semestre de 2017 “está a correr bem”, “tendo registado um crescimento de 50% relativamente ao primeiro semestre de 2016”. “O nosso cliente é maioritariamente estrangeiro, viaja em casal, tem uma faixa etária compreendida entre os 30 e os 45 anos e viaja pela arquitectura, design, gastronomia e Turismo de Natureza”.