António Trindade, presidente do Grupo PortoBay Hotels, faz um retrato do actual momento turístico do País com a descida do mercado britânico e a recuperação dos destinos concorrentes da bacia Oriental do Mediterrâneo. A aposta nos mercados americanos ou a venda do maior número possível de experiências ao turista são algumas das sugestões apontadas para sustentar a resiliência dos destinos portugueses perante um abrandamento.
Com a proximidade à World Travel Market em Londres, como decorreu a performance do mercado britânico este ano nas vossas unidades? E quais as perspectivas para este mercado tendo em conta a entrada em vigor, no próximo ano, do Brexit?
Em termos gerais, tivemos uma relação com o mercado inglês estável e positiva, quer no Algarve, quer em Lisboa e na Madeira. Onde tivemos maior crescimento do mercado inglês foi no Brasil. Em termos de mercado, com algumas mudanças de ranking de protagonismo entre operadores, sentiu-se aqui algum decréscimo da TUI UK, que foi compensada pelo operador inglês que está a apostar mais na bacia ocidental do Mediterrâneo que é a Jet2, actualmente o maior operador inglês para Portugal. Não temos uma situação de crescimento, temos uma situação de manutenção e sendo para nós o mercado inglês o principal mercado, a estabilização é algo bastante positivo.
Em relação às unidades no Brasil, este crescimento do mercado inglês a que se deve?
No Brasil, a relação com a operação turística é muito pequena, ela faz-se sobretudo através das OTA’s e das reservas directas e aí, tivemos, este ano, um aumento de tráfego, quer para o Rio de Janeiro, quer para São Paulo, que inclusivamente não contávamos tanto. Este aumento advém do reconhecimento da nossa marca no mercado inglês sobretudo para destinos mais longínquos e onde efectivamente a notoriedade da marca conta em relação aos mercados de origem. Fomos ganhadores com isso.
Em Portugal, aposta-se muito na diversificação de mercados, como os EUA e o Brasil, para colmatar a descida do mercado britânico. Que visão tem desta aposta?
A evolução dos mercados tem muito a ver com as acessibilidades e tem necessariamente a ver com o que é colocado em relação a cada um dos mercados de origem. Ou seja, a evolução positiva ou negativa dos mercados de origem para cada um dos destinos é que determina necessariamente mais a evolução positiva nas próprias ocupações dos hotéis. E o que acontece? Lisboa foi aqui o grande ganhador, os mercados americano e brasileiro contam-se agora nos top 4 ou 5 em qualquer um dos nossos hotéis em Lisboa. No caso da Madeira e do Algarve, sente-se também aqui um acréscimo, mas evidentemente não se pode estar a falar do mesmo tipo de protagonismo que os EUA e o Brasil têm em Lisboa.
Que desafios se colocam?
É natural e evidente que isto implica uma grande aposta nos mercados alternativos onde haja a possibilidade de crescimento nas acessibilidades. Se não tenho garantido o crescimento de acessibilidades, não posso fazer grandes apostas. Mas há algo que é estratégico quando estamos a falar de mercados não-europeus ou intercontinentais: temos de ter a consciência que estamos numa das pontas da Europa e, evidentemente, aquilo que represento. Na captação de mercado internacional ou intercontinental, temos que ter a consciência que, quer os asiáticos, quer os americanos, sejam eles norte ou sul-americanos, gostam de vir à Europa e percorrê-la ou ter uma experiência europeia. É muito natural que a nossa propensão seja de mais fácil acesso ao mercado dos EUA ou Canadá ou mercado sul-americano, porque entra-se na Europa por Portugal. Quando falamos de conquista do mercado asiático, isto quer dizer que tinhamos que ter uma acessibilidade a Portugal para ir para o Centro da Europa, para voltar para a ponta da Europa para voltar para a Ásia. Um grande desafio que se deveria colocar à própria TAP como elemento da Star Alliance, que em termos de Star Alliance possa efectivamente servir também Portugal, o que, infelizmente, não se tem sentido, por parte de uma Lufthansa, de uma Swiss Air, a vontade de fazer uma aproximação até este extremo ocidental da Europa. Faz sentido um asiático comprar uma entrada pela Europa e naturalmente vem à periferia e depois naturalmente regressa. O que acontece é que as apostas que se fizeram em termos de mercado asiático para vir para este lado, ir ao centro [da Europa] e voltar à periferia, não resultaram. Aliás, vê-se a aposta no mercado chinês com uma companhia chinesa e, infelizmente, não funcionou. Em contrapartida, o que temos é esta capacidade que a TAP tem demonstrado de entrar no mercado norte-americano e isso sim é que é revelador de um crescimento exponencial deste mercado, porque naturalmente a TAP depois, a partir do hub do Porto ou do hub de Lisboa, irradia para a Europa e mantém este regresso às origens através de Portugal. Sou um forte defensor e acredito muito que as nossas duas principais cidades, aqui não só Lisboa, que infelizmente tem o problema de ter o aeroporto esgotado, mas acredito francamente nas alternativas que se possam colocar também no Porto, porque tem efectivamente capacidade de ser um hub suficientemente atractivo no mercado norte-americano. Aqui, evidentemente, com um protagonismo natural da nossa TAP, dado que ela não só consegue trazer clientes a um lado nacional, como distribuir dentro do País e de uma região ocidental, como também servir de hub para a Europa. Levamos à Europa e depois trazemos da Europa para voltar à origem. Em primeiro lugar, tem uma capacidade de crescimento em termos absolutos e em termos relativos, porque o país tinha muito pouca expressão em comparação com outros destinos europeus. Estamos a ganhar um protagonismo dentro de valores normais que qualquer aeroporto europeu se coloca em relação aos EUA.
E quanto ao abrandamento que se está a verificar na hotelaria nacional em termos de dormidas e hóspedes, estamos preparados para esta redução de turistas?
Tenho algum receio que não tenhamos feito o suficiente trabalho de casa. Há um ano e pouco, estive em Maiorca a visitar vários hotéis e produtos, e senti que os hoteleiros das Baleares, assim como os hoteleiros do sul de Espanha e das Canárias, tiveram, não só incentivos, como uma vontade muito grande em requalificar os seus produtos, ao mesmo tempo que as próprias regiões espanholas têm feito grandes apostas na requalificação dos seus micro e macro produtos. Cada uma das zonas tem feito grandes apostas. Nós temos feito, mas não à mesma escala. O português tem, por vezes, alguma propensão de ser demasiado reactivo e de não olhar para a velocidade do mundo a mudar e não se adaptar o suficiente. O que está a acontecer actualmente? Sobretudo a oferta de lazer é sempre superior à procura, historicamente sempre o foi e há um ciclo na história da relação oferta/procura turística que determina quando o Oriente do Mediterrâneo está em crise nós ganhamos muito, quando o Oriente recupera, sobretudo com uma estratégia de preços tremendamente agressiva, nós passamos a sofrer. Quando digo nós, considero sobretudo o mercado ibérico. Espanha e Portugal estão exactamente nesta mesma posição no que diz respeito aos vasos comunicantes dentro do Mediterrâneo. E nós somos, na realidade, um destino mediterrânico, quer em termos continentais, quer a nossa realidade insular, seja Canárias ou Madeira. Os espanhóis têm para o próximo Inverno decréscimos de dois dígitos, nós temos algumas indicações de que vamos ter algum decréscimo em relação ao próximo Inverno e ao Verão de 2019, mas acresce uma outra situação. Além desta competição Oriente/Ocidente, há aqui um outro factor em Portugal que tem necessariamente de contar – isto sem pressupor qualquer inimizades internas – é que as cidades portuguesas estão a ganhar um protagonismo crescente. Ainda há dois ou três dias, a Hosteltur reproduzia um trabalho julgo de uma organização oficial de turismo europeia, onde se referia que, pela primeira vez, na Europa, o tráfego para cidades já era maior do que o tráfego para resorts turísticos, isto quer dizer que há um protagonismo crescente das cidades numa lógica não necessariamente corporativa, mas numa lógica de lazer. Há aqui um factor importante, a estadia média em cidades evidentemente é menor, portanto quando falo em termos de noites, o número de noites em ambiente de resorts ainda continua a ser superior ao número de noites em cidades, mas estes dois factores – vasos comunicantes Ocidente/Oriente e o crescente protagonismo das cidades como centro de lazer – evidente que geram aqui desafio crescente aos resorts tradicionais como o são o Algarve, a Madeira.
E o que fazer perante esses desafios?
Temos que assumir que aumentámos os nossos preços médios, que nos fizeram distanciar dos preços médios da Turquia e do Egipto, porque esses são os grandes concorrentes dos destinos ocidentais. Há um factor de preço médio, e não estamos a falar só do preço médio da dormida, mas o preço médio dos restaurantes, dos bares… Se bem que não tenhamos preços altos, a concorrência é que está com preços manifestamente baixos por dois motivos: pelas necessidades que tiveram, como também pela desvalorização da libra turca. Isto quer dizer, que a competitividade cambial foi sempre um grande argumento utilizado por estes nossos grandes concorrentes da bacia Oriental. (…) Tenho maior instabilidade social, mas quando um hotel de cinco estrelas é vendido pelo preço de um de três estrelas, o cliente de três estrelas quer ir para o cinco e pensa que se houver tiros ou houver guerras elas passam demasiado por cima e vai continuar a desfrutar do seu sol. Há aqui uma política de contenção, de requalificação e, fundamentalmente, de a dita política da ocupação dos tempos livres. É muito importante, quer em termos de resort, quer de cidades, que haja uma agenda suficientemente interessante para colocar no mercado os destinos que oferecem muita coisa durante todo o ano. A criação de atractividade no destino em si, ligado à atractividade do hotel propriamente dito, é algo particularmente importante colocarmos no mercado para prever este decréscimo e, sobretudo, de prevermos a nossa capacidade de recuperação. Prevejo que o ano de 2019 será um ano, fruto desta relação dos vasos comunicantes, que terá uma situação que não é a mais fácil de todas para nós.
O Grupo PortoBay tem operação na Madeira, Algarve e Lisboa. Que leitura é que faz do actual momento de cada um deles?
Os momentos são diferentes. A Madeira, o Algarve e Lisboa vão encarar 2019 com três ambientes diferentes. O primeiro, Lisboa, a crescer a oferta e a ter um aeroporto sem uma capacidade de resposta directa a esse acompanhamento da oferta. O mesmo se passa em relação à Madeira, mas aqui em termos percentuais e relativos, o diferencial será efectivamente superior ao de Lisboa, dado que a oferta para o próximo ano vai crescer muito e não há um aumento de procura para fazer face a este aumento da oferta. Só que a Madeira está numa ilha e Lisboa é uma cidade num continente onde temos outros meios de acesso e onde a própria distribuição dos hubs continentais permite uma distribuição territorial, nomeadamente no caso dos novos mercados ao criar as novas oportunidades não propriamente só europeias, mas as novas oportunidades nacionais ou ibéricas. O que quero dizer com isto, é que há uma captação muito grande em termos de mercado brasileiro e mercado americano para fazer circuitos nacionais ou ibéricos e isto quer dizer que esta distribuição de circuitos por todo o País ou por toda a Península Ibérica permite trazer mais gente e ocupar melhor a oferta. No caso insular, como a Madeira, muito dependente ainda da operação turística, se não há um aumento da procura turística, evidentemente que a oferta ressente-se. No Algarve, a situação em termos de procura é relativamente constante, mas temos que nos preparar para este efeito que já deu os primeiros indícios negativos em 2018 em relação à guerra directa de destinos concorrenciais, destinos de sol e praia com a bacia Oriental do Mediterrâneo. Aqui é onde as acessibilidades da operação turística se colocam numa linha mais directa com a concorrência. Evidentemente, que nós – destinos de sol e praia ibéricos – temos de nos preparar para algum decréscimo, não é propriamente decréscimo. Diria que é uma recolocação do mercado, porque tivemos aumentos grandes de procura, no caso do Algarve, por exemplo, porque houve não só um aumento da procura pelo destino ‘per si’, mas muito também de uma deslocação de tráfego da Turquia, do Egipto e da Tunísia. Vamos assistir a uma recolocação das próprias regras do mercado, da relação oferta e procura do que era há dez anos.
Concretamente Lisboa, um dos desafios que se colocam à cidade e ao País é, sem dúvida, o aeroporto. Uma das soluções que defende é, por exemplo, a Madeira atrair companhias que utilizem novos hubs como Porto e até Barcelona…
O aeroporto de Lisboa tem uma responsabilidade que ultrapassa a própria cidade que serve, dado que é o nosso principal hub de distribuição nacional. Com o crescimento do tráfego consolidado, o tráfego das OTAs, das pessoas que querem ir livres para um destino, o que acontece é que vão-se utilizando cada vez mais os hubs das capitais para depois se distribuírem pelos outros destinos e aqui, invariavelmente, no caso do Algarve, Madeira e dos Açores, isto quer dizer que há um crescimento do mercado que passa por Lisboa. O que acontece é que quando tenho [o aeroporto de] Lisboa “entupido” já não tenho capacidade de abastecer mais Lisboa, nem de distribuir para os outros destinos. Há que encontrar, por parte dos destinos que são servidos por esse hub, as alternativas para ganhar mais protagonismo e aqui é o que eu referia que o Porto e Barcelona são dois aeroportos com capacidade de crescimento, mas sobretudo com capacidade de crescimento com companhias que utilizem hubs nestes aeroportos. Para a Madeira, por exemplo, as alternativas Transavia ou Vueling têm uma capacidade de abastecimento destes destinos maior, dado que utilizam esses aeroportos como hubs e não propriamente uma mera ligação ‘point to point’. Quando abordamos o caso da Ryanair para a Madeira, evidentemente que pode ter uma importância grande, mas a sua relação será muito na lógica do ‘point to point’, quer isto dizer que terá um contributo grande para o turismo nacional para a Madeira, mas um contributo relativo em relação ao outro tráfego internacional, dado que a Ryanair não tem uma política de hubs assente no aeroporto do Porto. Para qualquer viajante é sempre muito mais fácil quando coloca a mala numa origem e mesmo que tenha um hub, tem uma ligação directa de avião, o que não é o caso da Ryanair. O que me permite valorizar companhias como uma Transavia e uma Vueling é a sua capacidade de distribuição através desses hubs. Vou dar um exemplo, a Transavia é, actualmente, uma das companhias que, a seguir à TAP, mais interesse tem para a Madeira. Experimentei isso há três dias, quando vim do Porto para o Funchal num avião que estava a fazer Paris-Porto-Funchal, onde as pessoas vindas de Paris nem saíram do avião. Num avião com 170/180 lugares, 120 destes já eram ocupados por franceses que vinham para a Madeira, mas os outros foram franceses que ficaram no Porto. Isto permitiu que haja uma multi-deslocalização de turistas, com um voo que está a servir vários destinos portugueses.
Na Madeira, no entanto, acrescem ainda os constrangimentos que a TAP tem colocado ao seu desenvolvimento…
A TAP é uma empresa em crescimento exponencial que está a sofrer um impacto do mercado como qualquer outra companhia, que cresce ao ritmo da TAP, vai encontrar no mercado. Julgo que se tem especulado muito em relação a este percurso da Madeira com a TAP. O fenómeno Madeira em relação à TAP deve ser colocado nos mesmos termos em que se coloca em relação a todos os outros destinos da TAP. Temos dois segmentos que têm objectivos diferentes: um são os madeirenses a voar para o continente ou para fora da ilha, outro é o número de turistas que vêm para a Madeira. Não nos podemos esquecer que a TAP é responsável por entre 25% a 30% dos turistas que vêm para a Madeira e mais de 50% dos passageiros da TAP que vêm à Madeira são turistas. A TAP representa o dobro do segundo transportador de turistas para a Madeira. A TAP cresceu e houve aqui uma distribuição de segmentos neste transporte para a Madeira o que evidentemente cria aqui alguns constrangimentos quer em relação aos madeirenses, quer sobretudo aos clientes nacionais que vêm à Madeira, porque a politica do subsídio de mobilidade foi algo tremendamente perverso, foi politicamente incorrecto e aqui só há uma principal crítica a fazer ao modelo errado de atribuição do subsídio de mobilidade, porque não fez compatibilizar duas coisas: o direito dos cidadãos à aplicação do princípio da continuidade territorial com a competitividade das empresas. Quando o madeirense só paga um determinado valor, adianta tudo e depois espera dois meses para poder receber a comparticipação do Estado, ao mesmo tempo, as companhias aplicam as suas tarifas ao nível mais alto que possam efectivamente receber o subsídio do Estado. Aqui quem é o principal lesado na realidade acaba por ser o Estado e os portugueses que queiram vir à Madeira, porque têm preços exorbitantes. Por isso, os critérios da atribuição do subsídio de mobilidade têm que ser revistos o mais depressa possível para conseguirmos reganhar um ambiente de competitividade entre os transportadores para a Madeira e poder abrir, de uma forma melhor e mais eficiente, um mercado que é muito importante para a Madeira, o mercado nacional. Quem são os principais prejudicados são os portugueses que querem vir à Madeira.
A estada média em Portugal é um dos indicadores que mais desafios tem causado. Como poderemos melhorá-la?
Julgo que esta aposta tem de correr transversalmente em relação a todos os outros mercados. Tenho que mostrar aquilo que na realidade são as capacidades que cada destino possa oferecer e se por um lado, a Madeira e o Algarve, fruto do peso da operação turística, é muito tradicional a estadia de uma ou de duas semanas, em termos de cidade tendencialmente a estadia é mais curta. Esta aposta no aumento da estadia média não é propriamente dos resorts portugueses, porque esses já têm uma estadia média relativamente confortável, é sobretudo nos destinos urbanos. Para isso há que saber o que é que na cidade, e à volta desta, pode criar uma complementaridade na estadia. Isto que dizer, em primeiro lugar, levar às diferentes origens o que cada uma destas zonas tem para oferecer e a proliferação de acções de ocupação de tempos livres que faça o cliente ter uma estadia maior. E convenhamos uma coisa, em termos urbanos, o efeito que esta realidade pode ter é enorme. Se tenho, por exemplo, uma estadia média de oito dias num resort na Madeira ou Algarve, se aumentar um dia estou a aumentar sensivelmente 10% da minha ocupação, mas se a minha estadia média de Lisboa ou do Porto for de dois dias e conseguir ter mais um dia, estou a aumentar 50% a minha ocupação hoteleira sem precisar de mais um cliente. Convenhamos, quer em Lisboa quer no Porto, os arredores de cada uma das cidades já têm tanto para oferecer que facilmente permitem criar experiências. As ofertas das experiências são suficientemente atractivas para desencadear este aumento. Trago esta minha preocupação do aumento da estadia média já de há muitos anos, aliás, quase desde que comprámos o hotel em São Paulo. São Paulo tem vindo a confirmar a sua passagem de estadia média de dois para três noites com a criação de eventos urbanos, animação urbana, que fez com que as pessoas naturalmente comprassem mais um dia de estadia. São os eventos culturais, de animação popular, são os ambientes de incentivo, tudo isto feito numa lógica de conjugação entre os responsáveis da cidade e cada um dos protagonistas hoteleiros, alojamento local, agentes de viagem, nesta promoção de que dois ou três dias não são suficientes. A criação desta mentalidade virada para vender o maior número de experiências possível é que é fundamental. Porquê? Porque além de aumentar a estadia média, vai mudar um pouco os objectivos das viagens. Quando estávamos a falar do tráfego intercontinental, um americano está preparado para fazer o corrido todo da Europa. Se logo no primeiro ponto forem criados factores de atractividade suficientes, ele vai alterando o seu próprio modelo de férias. Pensa: “Este ano não vou ser ‘globetrotter’ por dez cidades europeias, mas há uma ou outra cidade à partida que me oferece tantas experiências que me permitirá passar da minha experiência europeia para a minha experiência ibérica ou para a minha experiência portuguesa, porque tenho factores de atractividade suficientes para me ocupar esse tempo”.
De uma forma geral, como perspectiva o próximo ano para Portugal ao nível do Turismo, vamos continuar a crescer?
Diria ao contrário, julgo que Portugal será suficientemente resiliente para ultrapassar alguns ambientes que em termos internacionais se poderão colocar negativos em relação à bacia ocidental do Mediterrâneo. O ‘boom’ de recuperação de toda a bacia Oriental, e aí eu incluo também a Grécia, os números que aparecem agora para o Inverno e para o próximo Verão, fazem com que nós só não desceremos se formos muito resilientes. Quando olho para todo o espectro nacional, vejo o Algarve directamente na concorrência com esta bacia Oriental, Lisboa sem uma capacidade de crescimento fruto do aeroporto, o Porto a crescer e a Madeira com estes problemas estruturais que estamos a ultrapassar, que são sobretudo de uma desadaptação entre procura e oferta.
Grupo PortoBay
Quais deverão ser os resultados do grupo este ano?
Este ano, apesar de termos tido a obra de construção das suites junto do The Cliff Bay, a situação foi mínima, o Algarve apresentou um muito ligeiro decréscimo em relação ao ano passado. Mas em termos globais, vamos atingir, quer em termos de ocupação, quer em termos de receitas, quer muito provavelmente em termos de resultados finais, os mesmos números de 2017. Não conto ter uma variação de resultados superior a 2% para cima ou para baixo.
No início do próximo ano vamos ter novas unidades no grupo?
As ‘Les Suites at The Cliff Bay’ vão abrir, o nosso hotel no PortoBay Flores vai abrir e pode ser que eventualmente dentro de algumas semanas possamos ter novidades. Vamos apresentar o novo PortoBay Old Town que está em fase final de projecto, comprámos a quinta e estamos actualmente a desenvolver o projecto para dentro de 24 meses ter a nossa oitava unidade na Madeira.
*Entrevista publicada na edição impressa de 26 de Outubro.