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Opinião

Turismo doméstico: salvação nacional?

Nuno Abranja, Diretor do Departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo – www.isce.pt

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Turismo doméstico: salvação nacional?

Nuno Abranja, Diretor do Departamento de Turismo do ISCE – Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo – www.isce.pt

Nuno Abranja
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Nuno Abranja

Como já era previsível, a maior crise mundial da história do turismo continua para o 2º ano. De acordo com a OMT[1], entre janeiro e maio de 2021 as chegadas internacionais de turistas ficaram 85% abaixo dos números de 2019 (menos 460 milhões). Apesar de se verificar uma tímida subida no último mês de maio o aparecimento de variantes Covid-19 e a continuidade das restrições de mobilidade estão a dificultar a recuperação das viagens internacionais. Enquanto muitos destinos não aliviam as restrições e a confiança dos viajantes internacionais não se restabelece, o turismo doméstico ocupa o seu espaço e continua a recuperar em muitas partes do mundo, particularmente em regiões com mercados nacionais significativos. Este contexto faz com que inúmeros governos incentivem grandemente os seus habitantes a viajar no interior do país e a contribuir para a recuperação da economia local. Na Rússia e na China o número de lugares aéreos internos já excedeu os níveis pré-covid. Nos EUA, os residentes representaram 95% da receita do turismo em 2020. Na Europa, as autoridades políticas tentam igualmente aguilhoar as viagens internas por via de campanhas nacionais específicas.

No que concerne a Portugal, apesar de não dispormos de dados que nos comprovem que os residentes salvarão o turismo no país este ano, é mais do que previsível que serão estes a compor a maioria dos fluxos turísticos entre fronteiras. Dados do INE[2] revelam que o nosso alojamento turístico registou 1,4 milhões de hóspedes e 3,4 milhões de dormidas em junho, refletindo-se em crescimentos de 186,9% e 230,1%, respetivamente, embora ainda muito inferiores aos dados constatados em junho de 2019. As dormidas na hotelaria (80,1% do total) subiram 261,5% (-54,0% face a junho de 2019), nos estabelecimentos de alojamento local (14,1% do total) aumentaram 183,4% (-53,9% face ao mesmo mês de 2019) e nos empreendimentos de turismo no espaço rural e de habitação (5,9% do total) cresceram 84,4% (-6,6% face a junho de 2019). O turismo doméstico (peso de 58,7%) contribuiu com 2,0 milhões de dormidas e os mercados externos com 1,4 milhões. No 1º semestre de 202  as dormidas de residentes representaram 62,3% do total, valor que contrasta com a observada em 2020 (39,7% do total) e em 2019 (28,7% do total), registando-se crescimento em todas as regiões de Portugal, ao contrário das dormidas de não residentes. A estada média cresceu para os residentes (5,0%) e não residentes (6,9%)[3]. O mercado interno revelou uma subida superior a 20% neste 1º semestre.

Num périplo pelo país, registei que a língua de Camões era a mais predominante na comunicação entre visitado e visitante, hóspede e hoteleiro, cliente e agente turístico. Quer na hotelaria, quer em excursões, quer ainda nas práticas de animação turística e durante o consumo dos nossos incomparáveis recursos naturais e culturais espalhados pelas regiões nacionais, orgulhosamente percebi que os portugueses saíram de casa em massa e em jeito de entreajuda patriótica optaram por ficar no nosso país turístico a contribuir para auxiliar a economia nacional. Apesar de todos os efeitos económicos negativos que a redução do turismo internacional possa provocar, tentemos ficar felizes com a redução significativa das emissões de CO2 e da consequente pegada ecológica, mesmo que por pouco tempo, causada pelos grandes fluxos de turistas internacionais. Tentemos ainda sorrir para o facto de sermos todos ‘forçados’ a conhecer melhor o nosso país e em consequência fidelizarmo-nos a ele. Aguardemos, no entanto, com expectativa, o que este efeito sentido em todos os países do mundo fará na mobilidade turística internacional.

[1] Retirado de https://www.e-unwto.org/doi/abs/10.18111/wtobarometereng.2021.19.1.4. Acedido a 15/08/2021.

[2] Retirado de https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=472730808&DESTAQUESmodo=2. Acedido a 18/08/2021.

[3] Retirado de file:///C:/Users/nunoa/Downloads/30Est_Rapida_Turismo_Jun21.pdf. Acedido a 18/08/2021.

Sobre o autorNuno Abranja

Nuno Abranja

Diretor do Departamento de Turismo do ISCE - Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo - www.isce.pt
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