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*Por Pedro Castro, consultor em aviação comercial
Não, não é uma gralha. É o número de rotas lançadas por toda a Europa nas últimas 6 semanas (período de 12 de Junho a 23 de Julho) por 82 companhias aéreas envolvendo 307 aeroportos, de acordo com as informações avançadas pelo Anker Report. Abrir uma nova rota é comercial e logisticamente exigente e às tarefas habituais acrescem agora as dificuldades relacionadas com a enorme volatilidade e unilateralidade das medidas sanitárias tomadas pelos diferentes Governos afetando rapidamente a mobilidade e predisposição das pessoas em viajar para determinado destino.
Sem surpresa, as companhias que lideram a abertura de novas rotas com mais de 65% do total são as de baixo custo e as híbridas, entre as quais se destacam a Ryanair, a Wizzair e a easyJet. A primeira companhia de “bandeira” do Top10 é a Aegean, ocupando o sétimo lugar graças aos diversos voos sazonais diretos lançados das ilhas Gregas para evitar a habitual escala em Atenas dos tempos pré-Covid. As companhias “low cost” – que não têm tráfego de “hub” – têm a seu favor a enorme flexibilidade e adaptabilidade da sua operação, os seus baixos custos operacionais e a sua robustez financeira para enfrentar crises. Com um modelo de negócio baseado no tráfego ponto-a-ponto europeu vocacionado para o lazer, estas companhias correspondem melhor à procura atual: as pessoas querem viajar, sobretudo, para visitar familiares e amigos, fazer umas férias domésticas ou nas proximidades e preferem voar sem escalas para regiões menos procuradas.
Também sem surpresa, os aeroportos que mais beneficiaram com estas novas rotas situam-se nas ilhas Gregas (Corfu, Santorini, Heraklion, Chania, Rhodes estão no Top10), numa lista que inclui Roma – a anunciada queda da Alitalia irá certamente mantê-lo neste patamar de crescimento – Palma de Maiorca e Barcelona. De notar que nenhum aeroporto “hub” consta desta lista dos Top 10. Aplicado a Portugal, isto significaria que a procura e, consequentemente, a abertura de novas rotas deveria incidir sobre os Açores, Madeira e Algarve. Ora, a TAP em nada alterou a sua oferta à partida dessas regiões, nem mesmo quando a Inglaterra voou em massa para o Algarve em Maio. Em vez disso abriu uma rota Lisboa-Monastir (que, em 2019, transportou um total de 21 passageiros regulares) quando poderia ter investido numa ligação inédita Faro-Funchal (em 2019, 12’500 passageiros viajaram entre as duas cidades via Lisboa por não existirem voos diretos) e assim potenciado um novo fluxo doméstico de passageiros.
Grécia, Itália e Espanha concentram 70% das novas rotas inauguradas num Top15 que não inclui Portugal em nenhuma posição de liderança.
Porque será que, apesar de termos uma companhia aérea de bandeira e apesar dos 2 mil milhões de Euros já nela “investidos” com outro tanto a caminho, nem a TAP, nem nenhum aeroporto Português, nem Portugal constam no topo desta lista de 666 novas rotas? Somos um país de emigrantes e de imigrantes, um país de sol e de férias, temos uma companhia de “bandeira” subvencionada, à partida tudo razões favoráveis para estarmos no topo destas listas. As companhias privadas – o verdadeiro “motor” destas 666 novas rotas – olham com apreensão as intervenções desleais e distorcidas do Estado na economia e isso reflete-se nas escolhas que fazem no mercado aéreo europeu único. Algumas reclamam em Tribunal, outras simplesmente investem noutros territórios para prejuízo da própria indústria do Turismo que o Governo diz querer salvar ao fazer o tal “investimento” na TAP. Monta-se um ciclo vicioso que nos custa em empregos, impostos, riqueza e desenvolvimento empresarial.
O problema de Portugal no que diz respeito à conetividade do País nada tem a ver com a nossa posição geográfica periférica. É apenas uma consequência natural das escolhas dos nossos decisores políticos que conduzem com a mudança mal engrenada, investem em carruagens do antigamente quando o resto da Europa já vai na Alta Velocidade e diambulam pela Route 66 em vez de voarem nesta Route 666.