Dentro dos novos registos de Alojamento Local (AL), a grande maioria, mais concretamente 76%, são efetivados fora de Lisboa e do Porto – sendo que nestas cidades, os novos registos representam 17% e 7%, respetivamente.
Os dados de 2023, que partem do Registo Nacional de Turismo (RNAL), foram utilizados no estudo “Avaliação do Impacto do Alojamento Local”, cujos resultados ainda preliminares foram apresentados pelo economista Pedro Brinca esta terça-feira, 27 de junho, na conferência debate “Turismo sem Alojamento Local. Que Futuro?”, que teve lugar no Oceanário de Lisboa – Auditório Mar da Palha.
Sobre este estudo, desenvolvido pelos professores João Bernardo Duarte, Pedro Brinca e João Pedro Ferreira da Nova SBE, a pedido da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Pedro Brinca deu ainda conta que a maioria dos proprietários de alojamento local (51%) tem apenas um AL, enquanto 80% dos proprietários têm menos de três alojamentos locais e menos de 10% possuem mais de cinco alojamentos desta tipologia.
Estes valores, resultado de um Inquérito aos Agentes Económicos do Alojamento Local em Portugal (IAEALP), realizado em junho de 2023 com 1.820 respostas válidas, “confirmam uma representatividade semelhante ao verificado no RNAL”, como explica Pedro Brinca.
O economista explica ainda que cerca de 74% dos AL em Portugal são explorados o ano inteiro, sendo que apenas 11% estão disponíveis para reserva durante menos de seis meses.
31% dos AL geram receitas entre os seis e os 12 mil euros por ano
Com recurso ao mesmo inquérito, Pedro Brinca explica que “a maior parte dos alojamentos locais geram menos de 20 mil euros por ano ao proprietário” (71%), sendo que 31% aufere entre 6.000 e 12.000 euros por ano e 46% gera menos de 12 mil euros por ano.
Se “nem todas as pessoas vivem exclusivamente do AL, para 39% dos proprietários inquiridos representa mais de 60% das receitas do orçamento familiar” de acordo com o economista.
Pedro Brinca aponta ainda que 62% dos proprietários investiram na reabilitação do imóvel, sendo que mais de 40% estavam devolutos ou em mau estado de conservação e 18% precisavam de reabilitação.
“Apenas 9% dos imóveis correspondiam a construção nova e cerca de 36% dos proprietários contraíram empréstimos para pagar o imóvel”, indica o economista.
Apenas 15% dos inquiridos considera arrendar o imóvel caso fique indisponível para AL
A opção de arrendar a casa a estudantes ou colocar a mesma para arrendamento tradicional de longa duração, ou seja, durante três anos ou mais, só é considerada por menos de 15% dos proprietários inquiridos, caso o seu alojamento deixe de estar disponível para alojamento local na sequência do programa Mais Habitação.
No entanto, 50% afirma concordar com a afirmação de manter o imóvel como casa de férias ou segunda habitação, ficando o mesmo fechado a maior parte do ano, enquanto quase 60% dos inquiridos concorda com a opção de arrendamento de média duração, de um a 12 meses, para estrangeiros. Quase 50% concorda com a venda do imóvel.
Para além disso, cerca de 90% dos inquiridos discorda que o programa Mais Habitação crie uma boa oportunidade para fazer investimentos, com os inquiridos a considerarem que vão ter de reduzir custos, encerrar a atividade ou cortar em futuros investimentos.
“Sabemos, de outros estudos, que o mercado de arrendamento em Portugal tem problemas disfuncionais, vamos pôr as coisas desta maneira. [Se] 43% das pessoas da União Europeia que têm uma segunda habitação arrendam-na, em Portugal essa percentagem é de 13%”, aponta Pedro Brinca.
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Pedro Brinca relembra ainda, à semelhança do que já fora comunicado em nota de imprensa no início de junho, que para responder à procura satisfeita por alojamentos locais seriam necessários mais 1.030 novos hotéis – nomeadamente mais 168 hotéis no Porto, mais 211 em Lisboa e mais 169 no Algarve.
Os turistas que se hospedaram em AL gastaram mais de oito mil milhões de euros na economia portuguesa – o que representa 8,5% das exportações de bens e serviços e cerca de 3,8% do PIB.