50 ideias | Desenvolvimento do Interior
No âmbito da celebração dos seus 50 anos, o Publituris convida uma figura do setor a lançar uma “Ideia para o Turismo.
Publituris
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Indiscutível o incomparável sucesso alcançado pelo turismo na presente década, fruto, principalmente, da ação da iniciativa privada que, num contexto desfavorável, teve a capacidade de ultrapassar as dificuldades adoptando um atitude proactiva.
Estamos, porém, a caminhar para um ponto em que a inebriante onda da moda, efémera por natureza, e do êxtase dos prémios que alimentam o ego colectivo, mesmo quando não traduzem realidades tangíveis, têm de dar lugar à reflexão serena e sensata, predicados que a euforia tem remetido para o limbo do esquecimento. Quando se consegue uma impossibilidade (“0 melhor destino do mundo”) não se pára para refletir!
O turismo português necessita agora de descer do “assento etéreo” a que subiu e regressar “à terra” para responder aos desafios que se vislumbram no horizonte. Períodos de crescimento como o verificado são irrepetíveis e, agora, são precisas, não uma ideia, mas muitas para que continue a ser a força impulsionadora do desenvolvimento do país.
De acordo com as regras estabelecidas pelo “Publituris” escolho apenas uma. Talvez inesperada e pouco apelativa mas considero-a fundamental para responder a uma das questões mais prementes da realidade nacional: o desenvolvimento do interior.
O objectivo do turismo não é crescer mas sim contribuir para o desenvolvimento equilibrado do país e este não é alcançável com o abandono de 3/4 do território onde se gera apenas 1/5 da riqueza nacional e é abandonado todos os anos pelas pessoas que lá nasceram.
Há uma consciência colectiva que favorece a eleição do turismo como factor de desenvolvimento do interior mas o sucesso de um destino só será assegurado quando tem a capacidade para criar factores de atracção distintivos e diversificados que, ao mesmo tempo, proporcionem satisfação e novas experiências aos visitantes e garantam ás comunidades locais emprego e melhoria das suas condições de vida.
Tem havido iniciativas de grande mérito como, por exemplo, as “Aldeias Históricas” e as “Aldeias de Xisto”, mas apesar dos vultosos investimentos realizados são parcos os resultados para o desenvolvimento regional e local e insuficientes para melhorar o nível de vida das populações locais. O próprio presidente da Associação das Aldeias de Xisto afirmou neste jornal (18 de janeiro) que, na área em que actua, “a desertificação vai continuar” o que é prova de insucesso do projecto: atrai turistas mas os residentes continuam em debandada criando-se meros “enclaves” turísticos. Porquê?
O turismo só pode dar um contributo válido para o desenvolvimento local se dinamizar outras produções locais, levar à criação de novas actividades, aproveitar os recursos existentes ( materiais e humanos), valorizar o património natural e histórico-cultural e garantir emprego e qualidade de vida às comunidades. De outra forma não é crível que o turismo produza os efeitos pretendidos para o interior do país.
Por tudo isto é indispensável a adopção de modalidades de desenvolvimento com a participação activa das populações como o “turismo comunitário” e o movimento “OVOP” (One Village- One Product) de que há exemplos bem sucedidos em vários países, porque asseguram o envolvimento dos residentes nas decisões e gestão. O primeiro, é, por definição, a exploração turística em que a população, através de formas organizativas comuns, assume a iniciativa para o aproveitamento de recursos e produtos locais bem como das capacidades individuais e exerce o controlo e a gestão da organização. Com poucas diferenças deste, o segundo, visa a união de esforços comunitários para o aproveitamento de um ou mais recursos identitários locais para criar um ou mais produtos turísticos.
O turismo comunitário é potenciado pelas novas tendências da procura turística: maior contacto com a natureza, interesse pela aventura e por lugares pouco explorados, desenvolvimento de novos horizontes e busca de novas experiências e de autenticidade.
Exige, para ser efectivo, alguma forma de organização e o estabelecimento de redes de cooperação com iniciativas idênticas noutras localidades do país ou de outros países ( caso de vários países na América Latina) é factor crítico de sucesso.
Frequentemente as populações locais não têm capacidade de iniciativa nem conhecimentos para criar organizações com as finalidades do turismo comunitário e, por isso, a sua implementação necessita do envolvimento das autoridades locais ou centrais mas , em Portugal, as Entidades Regionais de Turismo, são as organizações mais aptas para o promover. Contrariamente ao que agora se opina quanto à sua integração no TP, anulando-se uma experiência secular de regionalização quando a descentralização está na ordem do dia, as ERT devem assumir um papel mais activo na gestão dos destinos e a sua intervenção na promoção do turismo comunitário seria a melhor forma de contribuírem para o desenvolvimento dos territórios que abrangem e dar um impulso ao desenvolvimento do interior.
Por Licínio Cunha, ex-secretário de Estado do Turismo, economista e professor catedrático convidado da Universidade Lusófona
*No âmbito da celebração dos seus 50 anos, o Publituris convida uma figura do setor a lançar uma “Ideia para o Turismo