Reino Unido & Portugal. A importância do Turismo
Leia a opinião de Vítor Neto, empresário e gestor, presidente do NERA, na edição 1321 do Jornal Publituris, de 8 de Julho.
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Os cidadãos do Reino Unido votaram em referendo a saída da União Europeia.
Era uma hipótese, mas agora toda a gente se diz surpreendida. Até os vencedores, que não sabem que fazer da «vitória». Muitos já se dizem arrependidos.
Só há uma explicação: a crise da União Europeia é muito mais profunda e grave do que se pensava. Uns desconheciam-na, outros fingiam desconhecê-la.
Cada país (e os seus atores políticos) só tem pensado em si. A «Europa» é apenas uma arma de arremesso em batalhas políticas internas de nível cada vez mais primário e paralisante, numa convergência oportunista de inimigos que se odeiam. O resultado está à vista.
É impossível prever como tudo isto irá evoluir e onde irá acabar.
Portugal não pode ficar à espera. Certo é que as consequências para os vários países, sobretudo os mais frágeis, podem ser pesadas.
Temos de nos preparar para agir, começando por refletir no interesse da Economia e dos cidadãos, das empresas dos vários setores e também do Turismo, para definir uma postura e uma linha de ação realista e uma resposta rápida na defesa dos interesses do país. Não pactuando com imediatismos oportunistas e demagógicos. Rejeitando «passa culpas», venham de onde vierem. Colocando o governo e todos os partidos políticos perante as suas responsabilidades.
Comecemos pelas consequências do Brexit: trata-se, desde logo, de definir uma resposta rápida, tendo em conta as consequências de um eventual enfraquecimento da economia do R. Unido. Partindo de alguns elementos objetivos.
Primeiro. O peso das relações económicas de Portugal com o R. Unido é muito elevado: trata-se de um dos nossos principais parceiros económicos.
O R. Unido é o 4º maior destino das exportações de Bens e Serviços de Portugal, (depois da Espanha, França, Alemanha), com mais de 7016 milhões de euros (47% Bens e 53% Serviços) em 2015. Representa 9,5% do total das exportações portuguesas de Bens e Serviços. O saldo da Balança Comercial de Bens e Serviços com o R.U. é positivo, na ordem dos 3580 milhões de euros, sendo o 2º maior saldo (o 1º é a França com cerca de 3780 milhões; 3º e 4º, são EUA e Angola com cerca de 2000 milhões cada).
Segundo. A estrutura das exportações de Portugal para o R. Unido tem uma caraterística especial que não é, em geral, referida, ou tem referência marginal: não só as exportações de Serviços são superiores às de Bens, como o Turismo é o principal setor exportador de Portugal para o R. Unido, com receitas que atingiram 2004 milhões de euros em 2015.
Este valor representa 54% das exportações de Serviços e 29% do total das exportações de Portugal para o R. Unido e 18% do total nacional das receitas externas (exportações) do Turismo.
Estes números são coerentes com o facto de o R. Unido ter ocupado em 2015 o primeiro lugar nos principais índices do turismo internacional em Portugal, para além das receitas: dormidas (8,3 milhões, 24% do total dormidas estrangeiros); hóspedes (1,7 milhões, 17% do total). Só no alojamento classificado.
As receitas externas geradas pelo Turismo assumem um significado ainda mais relevante se tivermos em conta as elevadas exportações de Bens para o R. Unido em 2015, onde os cinco principais Grupos de Produtos – extraordinariamente importantes na nossa economia – somaram em conjunto 1900 milhões de euros, isto é, menos que o Turismo. São eles: máquinas e aparelhos (634 milhões); veículos e outros materiais de transporte (527 milhões); vestuário (285 milhões); metais comuns (233 milhões); produtos alimentares (221 milhões).
É este importante conjunto de Bens e Serviços que, incluindo o Turismo, dá um peso excecional às relações económicas com o R. Unido, que são estratégicas para o nosso país.
Terceiro. Sendo certo que não se pode falar de exportações para o Reino Unido sem falar de Turismo, não é menos certo que não se pode falar de Turismo em relação ao R. Unido sem referir o peso do Algarve.
Os britânicos são o mais importante mercado turístico internacional de Portugal. E o seu principal destino regional é o Algarve, tendo gerado em 2015 nesta região 5,6 milhões de dormidas, que correspondem a 67% das dormidas dos turistas britânicos no país, a 44% das dormidas dos estrangeiros na região e a 34% do total das dormidas (de nacionais e estrangeiros) no Algarve (só no alojamento classificado).
As outras regiões com um peso significativo de turistas britânicos são a Madeira (20% das suas dormidas no país e também 1º cliente estrangeiro na região com 28% das dormidas) e Lisboa (8,5% das dormidas), um mercado em ascensão recente sobretudo graças à dinâmica das companhias low cost.
O mercado turístico britânico é estruturante para estas regiões e para o país.
O peso do Algarve
Os dados relativos ao Algarve permitem-nos estimar que cerca de 1500 milhões de euros das receitas externas geradas pelos turistas britânicos em Portugal ocorreram nesta região. O que atesta a responsabilidade do Algarve na economia portuguesa e em especial na formação do saldo positivo da Balança comercial do país. Devendo-se acrescentar ainda o investimento britânico na imobiliária, as dezenas de milhares de residentes permanentes e a existência de muitas empresas de cidadãos do R. Unido na Região, onde é visível a existência de uma forte e dinâmica comunidade perfeitamente integrada.
Portugal deve agir. O Turismo deve responder
Não se pode,pois, falar de exportações para o R. Unido sem falar de Turismo.
Os dados referidos apontam para enormes responsabilidades da economia do Turismo, e em particular para Algarve e Madeira e também Lisboa, para enfrentar e superar eventuais dificuldades da Balança Comercial de Portugal.
Seria irresponsável uma posição expectante na perspetiva de que «a crise» passe.
Impõe-se um plano de intervenção rápido e incisivo com objetivos claros:
1. Responder com medidas concretas aos efeitos negativos de dificuldades do mercado britânico causados por uma eventual desvalorização da libra e uma baixa do poder de compra, e uma desaceleração da dinâmica agressiva das companhias low cost. É o que a Espanha, que recebe 15 milhões de turistas britânicos (10 vezes mais que nós!), certamente fará.
2. Reforçar as medidas de promoção do Turismo português no R. Unido, através da criação de um programa especial que envolva as entidades e os empresários dos diferentes setores, das regiões mais expostas.
3. Reforçar a ligação com a comunidade inglesa residente nas diferentes regiões e encontrar soluções que facilitem o interesse pelo destino, a estadia e o investimento, numa perspetiva de confiança.
4. Sensibilizar os responsáveis do Ministério da Economia (e SE do Turismo) e dos Negócios Estrangeiros para uma atenção especial à especificidade das relações económicas com o Reino Unido, nomeadamente no universo das exportações e em particular com o Turismo.
Seria um erro limitarmo-nos à especulação opinativa à espera de melhores tempos.