‘Soft skils’ para quando?
Leia a opinião por Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
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O Turismo está ao rubro! Esta é a constatação que todos fazemos quando percebemos, pelos vários estudos que são apresentados, que estamos perante a única actividade económica que nas próximas décadas irá crescer, no mínimo 3%, enquanto que a economia mundial não crescerá mais do que 2,5% ao ano. Em Portugal, o cenário também é positivo e resulta do esforço que tem sido feito por parte de todos os stakeholders na objectivação desses resultados. Veja-se a alteração que foi feita na divulgação da Marca Portugal, na promoção com base em técnicas mais modernas assentes no Storytelling e no uso das tecnologias (associado ao Big Data), na captação dos eventos e dos mega eventos, na reorganização das regiões de turismo, na modernização dos alojamentos hoteleiros, no desenvolvimento do alojamento local, entre outros. Claro que existiram variáveis exógenas que ajudaram a alavancar este aumento de turistas, mas em boa verdade é importante dizer que o mérito é, maioritariamente, nosso. Somos nós portugueses que o fazemos e fazemo-lo muito bem. E não estamos só a bater recordes em termos de criação de riqueza e do número de turistas, estamos também a bater recordes na criação de emprego, sendo que as áreas com mais crescimento são as de animação turística (+28,3%), do alojamento (+22,6%) e da restauração (+12,9%), segundo os últimos dados estatísticos (Turismo de Portugal, 2016).
Mas como estamos numa actividade onde tudo é feito por pessoas e para pessoas, temos, sistematicamente (e bem), a preocupação em conhecer e interpretar o lado da procura (turistas), esquecendo muitas vezes o lado da oferta (profissionais). Interpreta-se o número e a origem dos turistas que nos visitam mas, descuramos o valor de todos os atuais e futuros profissionais que contribuem diariamente para este sucesso. Este só pode ser atingido através de uma formação assente em competências ligadas às ‘hard’ e às ‘soft skills’.
Em tempos, o mundo laboral valorizava quase única e exclusivamente as competências técnicas dos profissionais (hard). Entretanto, as dinâmicas sociais alteraram-se e já não chega ser bom tecnicamente. Agora, o mercado de trabalho procura profissionais dotados de competências ‘hard’ associadas a competências sociais e comportamentais (‘soft’). Estas não são mais do que atitudes e comportamentos que facilitam a relação com os outros, melhoram o empenho profissional e aumentam as perspetivas numa determinada carreira. Até aqui está tudo correto, mas será que a formação/educação em Portugal está preparada para essa realidade? Sabemos que a relação entre conhecimento científico e técnico e competências transversais assume, cada vez mais, um papel determinante no desempenho profissional de excelência, mas se fizermos uma pequena incursão pelos planos curriculares dos cursos do ensino superior (já para não falar do básico e do secundário) percebemos que essa realidade (salvo raríssimas excepções) ainda não está presente.
Uma das respostas pode ser feita com base numa abordagem já reconhecida pela OCDE (2010), que se baseia na aplicação de competências transversais, como ‘coaching’ e ‘mentoring’ com os estudantes; participação e relação com os professores; e articulação com o mercado de trabalho, por forma a desenvolver um papel único entre as universidades e o processo de empregabilidade. Este é um caminho sem retorno que todos teremos que interiorizar e aplicar nas regras que balizam o ensino em Portugal, mas que na verdade não está a ser feito. No entanto, existem vários casos de sucesso em todo o mundo, basta-nos replicar. Deste modo, a pergunta que fica no ar diz respeito ao órgão legislador que rege o ensino português: ‘soft skils’ para quando?
*Por Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias