Conversas à Mesa com Luís Araújo: “São raríssimas as situações em que me zango a sério”
Quinzenalmente o Publituris vai publicar uma Conversa à Mesa com uma figura do sector. Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, é o convidado da edição nr. 1325, de 2 de Setembro.
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Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, foi o convidado dos Conversas à Mesa que decorreu no restaurante Olivier Avenida.
Filho de pai português e mãe espanhola, Luís Araújo nasceu a 13 de Junho de 1970, em Vigo, onde o pai tirou a especialidade de Oftalmologia, depois de se ter formado em Medicina, em Coimbra. O actual presidente do Turismo de Portugal tinha apenas quatro meses de idade quando a família se mudou de Espanha para a Madeira, de onde era natural o pai. É o segundo de três irmãos. Todos rapazes. Tem memória de uma infância feliz passada na casa do Funchal, na Rua da Carreira. “Fazíamos muita coisa. Dávamos muitos passeios, íamos para os parques, jogar à bola. Depois, pelo facto da Madeira ser pequena, havia muito mais liberdade, íamos e vínhamos da escola sozinhos. Era tudo muito próximo e familiar”, recorda.
Era bom aluno e tinha disciplinas favoritas. Português era a disciplina de eleição. Foi na escola que começou a amizade com Bernardo Trindade, colega de turma no 7º ano. Atraído pelas letras, mais do que pelas ciências, cedo decidiu ser advogado, fugindo à regra dos irmãos que seguiram, tal como o pai, Medicina. Por graça, conta que quis ser bispo, porque no Funchal a família vivia ao lado da casa do bispo. “Achava aquilo fascinante, um casarão gigante, com um jardim fantástico. Foi sol de pouca dura. O que sempre quis foi ser advogado.”
Em casa, falava duas línguas, o espanhol com mãe, e o português com o pai. Ele e os três irmãos passavam os Verões em Vigo na casa da avó. Depois de completar o 12º ano na Madeira, candidatou-se ao curso de Direito na Universidade de Lisboa e entrou. A faculdade, diz, correu tranquilamente. “Entrei para a faculdade em 1988, nunca chumbei um ano. Não estudava muito, mas tinha um grande grupo de amigos na faculdade e pensava: Não vou chumbar, se não depois perco os amigos”. Quando terminou o curso, em 1994, tinha dúvidas se queria seguir advocacia. Resolveu experimentar fazer o estágio de dois anos num gabinete de advocacia na Madeira. Ao fim de algum tempo, suspendeu o estágio para ir estagiar seis meses na Comissão Europeia. Regressou, completou o estágio que tinha iniciado, mas já não havia volta a dar. Não queria ser advogado.
Foi então que decidiu ir trabalhar para o estrangeiro, chegou a pensar numa carreira diplomática. Começou a fazer entrevistas para trabalhar lá fora e chegou mesmo a ser entrevistado em Madrid para trabalhar em revistas internacionais.
Na mesma altura, o pai conseguiu-lhe uma entrevista no grupo Pestana com o administrador Luigi Valle. Sem respostas de Madrid, Luís Araújo pensou que não teria nada a perder em ir à entrevista. “O Grupo Pestana estava à procura de um jurista para reforçar a equipa de juristas que já tinha e preenchia o perfil: falava diversos idiomas, tinha tido uma experiência internacional”, conta.
Duas semanas depois, recebeu uma nova chamada do Grupo Pestana para uma segunda entrevista, desta vez com Dionísio Pestana. “Perguntou-me tudo, menos alguma coisa relacionada com Direito. Perguntou-me para onde ia de férias? O que gostava de fazer no meu tempo livre?”, recorda Luís Araújo, que na altura ficou surpreendido com o presidente do Grupo Pestana.
Depois dessa entrevista, chamaram-no uma terceira vez. Estava convencido que era para uma terceira entrevista e já estava preparado para dizer que chegava de entrevistas. Estava enganado, propuseram-lhe que começasse imediatamente. “Foi muito engraçado, porque a primeira coisa que me pediram para fazer foi escrever a história do Grupo Pestana. (…) Estive durante um mês trancado numa sala de reuniões sem janelas, sem ar condicionado. Costumo dizer que aquilo foi a prova de fogo”, lembra.
Trabalhou para o Grupo Pestana na Madeira desde 1996 a 2001. Começou como secretário de algumas das sociedades do grupo e, depois, “comecei a pensar que precisava de qualquer coisa diferente”. “A cada dois anos, faço sempre um pequeno balanço e nesse pequeno balanço que fiz, pensei que podia fazer mais coisas que não tivessem apenas a ver com Direito”, recorda. Foi então que começou a trabalhar com a rent-a-car e com a agência de viagens do grupo. Mas não só. Começou a trabalhar com a operação dos hotéis. “Fazia contratos tecnicamente perfeitos, mas que claramente nenhum operador assinaria (risos). Tive algumas discussões com a operação que me dizia: este contrato é perfeito, mas ninguém vai assinar”. Em 2001, surgiu um novo desafio, trabalhar para o grupo Pestana no Brasil. “O grupo já tinha um hotel no Rio de Janeiro [na altura quem estava com a direcção era o José Roquette] e propus ir para lá para ajudar no crescimento do grupo naquele mercado”.
Chegou em 2001 ao Rio de Janeiro e, passados seis meses, mudou-se para Salvador onde esteve até 2005, com a responsabilidade sobre a área Nordeste do Brasil.
Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado do Turismo
Em 2005, foi convidado para chefe de gabinete da Secretaria de Estado do Turismo. O convite chegou por telefone através de Bernardo Trindade, que tinha sido nomeado secretário de Estado do Turismo. “Estava na minha casa em Salvador e estava muito feliz por ele. A minha casa tinha uma vista sobre a Baía de Todos os Santos. Lembro-me de estar em casa a olhar para aquela vista e pensar o que é que eu faço agora?”
Aceitou e exerceu o cargo de 2005 a 2007. “Tinha dias difíceis. A melhor coisa daqueles dois anos foi o espírito de equipa que conseguimos construir dentro do gabinete, foi absolutamente fantástico. Uma das primeiras pessoas que veio trabalhar para o gabinete foi a actual secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho. Queríamos ter uma equipa polivalente, pessoas que percebessem dos vários assuntos e que nos pudessem dar apoio nas várias áreas, no ordenamento do território, na parte financeira, na parte jurídica. Criámos uma equipa com 100% de disponibilidade”, recorda. Ao fim de dois anos intensos, decidiu dar por terminada esta etapa. “Era muito absorvente. Ainda hoje digo. As pessoas não sabem quão difícil é o trabalho de gabinete, porque é preciso conciliar, saber ouvir”.
Regressou ao Grupo Pestana numa altura em que tinham sido criados um conjunto de serviços centrais que, apesar de já estarem em funcionamento, necessitavam de um pouco mais de articulação. “Entrei como administrador para as áreas de Recursos Humanos, Comunicação e Marketing, TI e Compras”. Em 2010, ficou responsável pela operação e expansão do Grupo na América Hispânica. “Na altura só tínhamos o hotel de Caracas e Buenos Aires e, depois, abrimos Cuba, Bogotá e começámos o projecto do Uruguai.”
Turismo de Portugal
Em Fevereiro deste ano, Luís Araújo foi convidado para presidente do Turismo de Portugal. O convite “foi completamente inesperado. A primeira coisa que pensei foi que seria muito divertido voltar a trabalhar com o Turismo de Portugal, porque o contacto que tive como o organismo quando estava no gabinete tinha sido fantástico, mas nunca contactei com os técnicos. Obviamente que trabalhar com a SET era um argumento de peso, porque adorei trabalhar com ela”, revela. Para permanecer no cargo, Luís Araújo ainda terá de candidatar-se ao concurso da CReSAP – Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública. “Deve haver um concurso em breve e obviamente vou concorrer. Tenho a consciência tranquila que o que foi feito até agora e o que vai ser feito para o futuro é muito positivo”.
Questionado sobre o que trouxe de novo ao Turismo de Portugal, responde: “Não é o que posso trazer, porque acho que as pessoas lá dentro têm uma preparação e um conhecimento do que é o Turismo, em muitas vezes, superior ao meu. A minha maneira de trabalhar sempre foi formar equipas, sempre foi de apoio total às equipas e era isso que gostava de ver no Turismo de Portugal. Um organismo mais preparado para o futuro, ainda mais imaginativo do que já é, e mais preparado para aquilo que são os desafios do futuro. Não é trazer nada de novo, é pegar no que já existe e trabalhar os pontos fortes”. Sobre o que o caracteriza profissionalmente, Luís Araújo diz que que “são raríssimas as situações em que fique chateado, me zangue a sério”. O que mais valoriza nas equipas é a “disponibilidade, a boa-disposição e a criatividade”. “Também julgo que é isso que mais apreciam em mim”, afirma. “Mas à vontade, não significa à vontadinha, há coisas que não aceito: o facto de não se preverem cenários, de não se estabelecerem metas, ou objectivos claros, ou que não haja uma sequência naquilo que se faz, deixa-me um bocadinho ansioso”, descreve. Remata dizendo que “gosta de coisas directas e simples, emails com duas páginas deixam-me louco”.
Hobbies
Correr, ler e ver uma ou outra série preferida, como a The Good Wife, são alguns dos hobbies de Luís Araújo, mas há um pelo qual é conhecido, é um urban sketcher, que é o mesmo que dizer, faz desenhos do que vê em cidades. “Sempre que viajo esse é o meu hobby”, conta. “Tenho muitos cadernos, de muitas partes do mundo, são diários gráficos, não tiro fotografias dos lugares”. Chegou a fazer uma edição limitada no Natal de 50 cadernos com imagens do ano para oferecer a cada pessoa. “Foi a minha prenda de Natal durante dois ou três anos, se calhar este ano vou voltar a fazer”, conta. “Daqui a uns 15 anos, vou estar com certeza com o meu caderno a desenhar uma qualquer cidade em Portugal ou fora”. Para finalizar, afirma que não leva “uma vida nada glamorosa”. “Quanto mais simples melhor, adoro ficar em casa, mas também adoro jantar fora, conhecer lugares novos”. Lema de vida não tem, mas lembrou-se de uma frase que o irmão lhe disse recentemente: “Allways take the weather with you”. “Independentemente da situação, trazer sempre bom tempo e um bom espírito. É um bom lema de vida”. ¶
Restaurante do Conversas à Mesa
Olivier Avenida
Situado numa das mais emblemáticas zonas de Lisboa e com uma decoração elegante e romântica, o Olivier Avenida reflecte o ambiente trendy e cosmopolita da capital. Neste espaço com cozinha de inspiração mediterrânica é possível degustar alguns dos mais afamados pratos do Chef Olivier nomeadamente a exclusiva picanha de kobe ou o Linguini com parmesão e trufa preta. Já a partir de dia 1 de Outubro volta o Brunch de domingo que reúne as especialidades de diversos espaços de Olivier. Das 12.30h às 14.30h é possível degustar uma vasta seleção de iguarias, entre as quais, pães e croissants, panquecas, seleção de queijos, presuntos e carnes laminadas, ovos mexidos e escalfados, dois pratos quentes e ainda sushi e sashimi e sobremesas diversas.