O ensino como via potencial para o desenvolvimento turístico
Leia a opinião de Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo do Grupo Lusófona.
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Muito recentemente foi publicada, em alguns jornais brasileiros, uma notícia sobre a inclusão de um programa escolar dedicado ao turismo nas 284 escolas (Ensino Fundamental I e II) pertencentes à rede pública de Fortaleza (Ceará – BR). O Programa Turismo na Escola, promovido pela Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Turismo em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, visa a apresentação de equipamentos turísticos aos estudantes, dando a oportunidade de conhecerem in loco o património cultural da cidade. São alunos com idades entre os seis e os quinze anos, com correspondência ao ensino básico e ao ensino secundário em Portugal. Propõe-se que desde cedo, estes alunos sejam sensibilizados com aprendizagens relacionadas com uma actividade que, cada vez mais, contribui para o desenvolvimento da região. Segundo os últimos dados estatisticos divulgados pela Perfeitura de Fortaleza, nos últimos três anos, houve um aumento de mais de 20% de turistas na capital do Ceará e, nomeadamente em 2014, a cidade recebeu mais de 242 mil estrangeiros. Claro que estes últimos dados estão intimamente relacionados com o evento da Copa do Mundo. O Brasil sabe que o turismo pode ser um forte aditivo ao desenvolvimento da economia, até porque em 2014 o gasto por parte dos turistas estrangeiros bateu o recorde, com 203 milhões de dolares a mais do que foi registado em 2013. Portanto, temos em cima da mesa uma resolução que se baseou, essencialmente, em apresentar aos jovens estudantes as infra-estruturas turísticas e o património existente, por forma a sensibilizar os estudantes para o potencial turístico, agregado ao desenvolvimento de um vasto conjunto de profissões inerentes à actividade.
Entre os vários assuntos que tenho escrito sobre a relação que adolesce entre o turismo e a educação, penso que este é talvez um dos mais sensiveis e que obrigará, num curto espaço de tempo, os decisores a reflectir sobre a sua implicância. Estamos perante um processo que nos remete para a necessidade de assumirmos a consciencialização turística do nosso país, através de aprendizagens junto dos mais jovens dedicadas à arte de bem receber e à relevância do retorno financeiro que esta prática pode proporcionar em destinos estratégicos como o nosso. Por outro lado, o ensino do turismo tornar-se-á num veículo de sensibilização junto dos alunos mais jovens no que diz respeito à importância da preservação do património natural e cultural, do ambiente e da pacificação entre os vários povos.
Estamos conscientes sobre as dificuldades pedagógicas implícitas nos processos de ensino/ aprendizagem existentes nas nossas escolas, e que muitas vezes não se coadunam com os desafios decorrentes da sociedade, uma vez que os princípios e métodos sobre os quais se estruturam, não condizem com a consciência que se faz sobre as reais necessidades do país. Esta consideração leva-nos a objectivar uma observação mais abrangente, nomeadamente a importância que o sector dos serviços representa na nossa economia (74,8%) assim como na economia da UE. Em Portugal, segundo os últimos dados do INE, o peso do sector terciário na economia portuguesa cresceu nos últimos anos por todo o país, passando a representar, mais de 50 por centro do valor acrescentado bruto (VAB). Nesta ordem de raciocínio é com um pouco de inquietação que continuo a assistir a alguma inércia (apesar da existência de escolas profissionais/ensino secundário) por parte dos responsáveis em assumir esta orientação.
Assim e voltando ao início do texto, seria interessante analisar os modelos de ensino que começam a ter expressão noutros países e perceber até que ponto a inserção do ensino desta actividade (turismo/serviços) na escola básica contribui para a formação dos nossos educandos.
*Artigo de opinião publicado na edição nº1291, de 1 de Maio