Kick-off no turismo e na educação
Leia a opinião de Mafalda Patuleia, directora do Departamento de Turismo da Universidade Lusófona.
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No passado dia 11 e 12 de Março, ocorreu na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar em Peniche, o XI Congresso da ADHP dedicado aos desafios do director de hotel, numa altura em que tanto se conjectura sobre as consequências (positivas e/ou negativas) decorrentes da desregulamentação da profissão de Director de Hotel. É um tema complexo que imbrica em si próprio, questões relacionadas com a formação de uma profissão, que deixou de ter requisitos legais que em muitos casos serviram de fio condutor para o curriculum dos cursos. Note-se que não foi apenas a profissão de Director de Hotel que foi desregulamentada. Também a profissão de Guia-Interprete é hoje uma profissão que pode, em bom da verdade, ser exercida por qualquer pessoa. De “acesso livre”, portanto!
No caso da hotelaria, a ADHP definiu um conjunto de mecanismos para promover a certificação profissional de determinados planos de estudos superiores em Gestão Hoteleira, que cumpram uma determinada distribuição de ECTS em determinadas áreas científicas. Na minha opinião, foi uma boa forma de contornar a situação e de credibilizar a formação destes profissionais. Por sua vez, o SNATTI também contornou este aspecto, referindo a necessidade de formação superior em Turismo para se ser um Guia-Interprete Nacional.
Para meu contentamento, vou assistindo ainda que paulatinamente a uma maior proximidade entre as Associações, o mercado de trabalho e as Instituições de Ensino Superior (IES). Só assim teremos, aquilo que tantos apregoam, um turismo de qualidade. Sim, porque um turismo de qualidade assenta em vários pressupostos que vão desde a promoção, o marketing digital, a sustentabilidade, a responsabilidade social, a distribuição aérea e também o ensino! Mas se analisarmos com atenção os conteúdos dos congressos realizados no nosso país, concluímos rapidamente que se repetem sistematicamente os mesmos temas, sem dar enfase à questão do ensino no turismo, ou seja, não se discute a qualificação dos recursos humanos que queremos no turismo.
Neste sentido, o congresso da ADHP apresentou um painel dedicado à formação e à sua evolução, intitulado “a formar há cinco décadas, para onde vai a formação em Portugal?”. De forma clara foi apresentado o tipo de ensino que tem sido feito pelas IES e os seus respectivos desafios, muitas vezes desconhecidos pelos restantes intervenientes do turismo. Penso que a mensagem transmitida pelos oradores do painel foi positiva. São necessárias novas competências que requerem formação de carácter mais prático, através de um aumento da utilização das tecnologias de informação e comunicação; de um maior conhecimento de idiomas estrangeiras; de um método de ensino mais empreendedor; de um maior contacto com a actividade durante a formação; de um maior envolvimento com o contexto internacional e por último, de uma aprendizagem assente em situações reais.
Penso que todos nos devemos consciencializar que só a qualificação dos nossos profissionais poderá levar à dignificação da profissão e à qualidade da actividade. E só depois devem vir as preocupações com a promoção, o marketing digital, a sustentabilidade, a responsabilidade social, a distribuição aérea, entre outras. Assim, espero que esta iniciativa seja o kick-off que todos desejamos.